O Poder da Palavra
Não há dúvida de que as eleições americanas são um espectáculo inigualável, apenas se podendo objectar que a disputa do Poder deve ser, justamente, poupada a essas luzes da ribalta. Mas enfim, dentro do sistema, a noite teve pontos muito interessantes.
Em primeiro lugar, a derrota do único candidato que francamente detesto. Romney ganhou nos Estados em que viveu e nalguns pouco populosos, provando que não basta ter dinheiro para vender, é preciso ter também algum produto como base da publicidade a adquirir. Mesmo no discurso da praxe tudo soava a falso, humor forçado, o que é fatal no País, o rifão que o público ecoava maquinalmente, não funcionando, ao contrário do comício de Obama, em que cada repetição era um acréscimo de força. No Sul foi sempre o terceiro homem, o que só pode augurar um fim no esgoto.
Huckabee foi o contrário. Genuíno, ganhador ou segundo próximo em Estados importantes da sua região, com graça e apelando ao Sonho Americano na versão individualista original - o mito do País -, com calendário favorável, foi mais do que cordato para com McCain, fazendo-se hipótese plausível para a vice-presidência.
O Senador do Arizona dificilmente verá invertido o rumo. Descolou e apanhá-lo vai ser o Diabo. Não é tão bom na oratória como dois que aqui se reconhecem. Mas sabe usar o que poderiam parecer contras, a idade, a doença, os muitos anos em Washington, para gerar cumplicidade com o público. E é o que tem mais serenidade.
Um tornado arrasou Clinton, do Arkansas. Uma cidade, não a Hillary. Ganhou muitos e importantes Estados, mas deve estar frustradíssima, por ver Obama levar mais e estar pertíssimo, em delegados. Com outros certames eleitorais no Sul a avizinhar-se, tem vida difícil, ai se tem. Safa-se muito bem em entrevistas e até em debates, mas falta-lhe o dom de falar às multidões. Não abana tanto como Romney, mas, ainda assim, sai demasiado artificial. E lê, o que esteriliza os entusiasmos que não estejam já no contrato.
Os últimos são os primeiros. Obama, se eleito, pode vir a ser a desilusão do Século, mas é senhor de uma retórica sem par, que parece ter uma ideia-força por detrás, a de transformar as energias do self made man numa regenerante vertente comunitária. Não faço ideia do que acontecerá se tiver de enfrentar uma crise internacional, mas, ainda que impreciso, na agenda doméstica faz soprar um vendaval de mudança muito mais genuíno, porque menos oportunista e mafioso do que Kennedy. Agora percebo o paralelo que o próprio se estabeleceu com Reagan e a defensiva e pouco recompensante oposição que gerou na Sr.ª Clinton, remetida para ódios antigos. Se for o adversário de McCain, o Veterano terá um combate muito mais duro do que contra a ex-Primeira Dama. E a palavra em que poderá prevalecer será a da discussão, porque no discurso o opositor mobiliza sem igual. O que também não será fácil.
Em primeiro lugar, a derrota do único candidato que francamente detesto. Romney ganhou nos Estados em que viveu e nalguns pouco populosos, provando que não basta ter dinheiro para vender, é preciso ter também algum produto como base da publicidade a adquirir. Mesmo no discurso da praxe tudo soava a falso, humor forçado, o que é fatal no País, o rifão que o público ecoava maquinalmente, não funcionando, ao contrário do comício de Obama, em que cada repetição era um acréscimo de força. No Sul foi sempre o terceiro homem, o que só pode augurar um fim no esgoto.
Huckabee foi o contrário. Genuíno, ganhador ou segundo próximo em Estados importantes da sua região, com graça e apelando ao Sonho Americano na versão individualista original - o mito do País -, com calendário favorável, foi mais do que cordato para com McCain, fazendo-se hipótese plausível para a vice-presidência.
O Senador do Arizona dificilmente verá invertido o rumo. Descolou e apanhá-lo vai ser o Diabo. Não é tão bom na oratória como dois que aqui se reconhecem. Mas sabe usar o que poderiam parecer contras, a idade, a doença, os muitos anos em Washington, para gerar cumplicidade com o público. E é o que tem mais serenidade.
Um tornado arrasou Clinton, do Arkansas. Uma cidade, não a Hillary. Ganhou muitos e importantes Estados, mas deve estar frustradíssima, por ver Obama levar mais e estar pertíssimo, em delegados. Com outros certames eleitorais no Sul a avizinhar-se, tem vida difícil, ai se tem. Safa-se muito bem em entrevistas e até em debates, mas falta-lhe o dom de falar às multidões. Não abana tanto como Romney, mas, ainda assim, sai demasiado artificial. E lê, o que esteriliza os entusiasmos que não estejam já no contrato.
Os últimos são os primeiros. Obama, se eleito, pode vir a ser a desilusão do Século, mas é senhor de uma retórica sem par, que parece ter uma ideia-força por detrás, a de transformar as energias do self made man numa regenerante vertente comunitária. Não faço ideia do que acontecerá se tiver de enfrentar uma crise internacional, mas, ainda que impreciso, na agenda doméstica faz soprar um vendaval de mudança muito mais genuíno, porque menos oportunista e mafioso do que Kennedy. Agora percebo o paralelo que o próprio se estabeleceu com Reagan e a defensiva e pouco recompensante oposição que gerou na Sr.ª Clinton, remetida para ódios antigos. Se for o adversário de McCain, o Veterano terá um combate muito mais duro do que contra a ex-Primeira Dama. E a palavra em que poderá prevalecer será a da discussão, porque no discurso o opositor mobiliza sem igual. O que também não será fácil.
4 comentários:
YES!!!
http://diasquevoam.blogspot.com/2008/02/o-leo-fula.html
S. E os colunistas conservadores que vão votar na Clinton se o nomeado for McCain?
Meu Caro Rudolfo Moreira,
creio que o artigo definido é demasiado para definir a trindade diabólica Limbaugh-Dobson-Coulter. Gente para quem o Conservadorismo se resume a impostos baixos e favorecumento das empresas maiores, para onde não está virada a população do País.
Abraço
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