De Corpo e Alma
A Mulher na Onda de CourbetSou surpreendido pela lição da Luísa, Que, nesta caixa de comentários em casa da Júlia, nos diz ter o Século XIX fomentado correntes jurídicas em que a Alma era negada à Mulher. Bem, só uma corrente muito... Positivista, para se sentir com força para determinar normativamente esse Magno Assunto, apesar de negativista, pelo que impugna.
Nestas coisas há que confiar sempre no que dizem os especialistas. Fosse sobre a existência de corpo na Mulher, oferecer-me-ia para testemunha pela quota de empirismo que me calhou. Visando a compreensível dúvida a Alma, temos de nos virar para Quem as rege.
Ora, foi durante centúrias largas aceite como facto ter o Concílio de Niceia, no Século VI, determinado, por uma pequena minoria, que o Belo Sexo não era desalmado. A verdade é que nenhum documento o atesta, mas poder-se-á dizer o mesmo que era pacífico quanto às Cortes de Lamego: a convicção geral ininterrupta e incontestada da existência de uma norma fá-la incorporar-se no ordenamento. Estão pois garantidas as alminhas.
O certo é que universalidade da Santa Madre Igreja nunca apreciou conciliarmente tal caso. A origem do mito, com a sua razão, como evangelizo lá em cima, está no Concílio somente Provincial de Macon em que fora das conclusões principais, se discutiu a questão levantada por um bispo, de a palavra Homem poder também abranger a Parte Feminina da Espécie, conforme narra S. Gregório de Tours. Como os comentadores, na maioria, eram homens e se achavam definidos pela alma que se reconheciam, traduziram o tema para a formulação celebrizada. E a transposição para uma reunião conciliar geral teve preocupações de universalidade do alcance das deliberações, certamente.
Não há jurista contemporâneo com poder para mudar tanta autoridade.
Nestas coisas há que confiar sempre no que dizem os especialistas. Fosse sobre a existência de corpo na Mulher, oferecer-me-ia para testemunha pela quota de empirismo que me calhou. Visando a compreensível dúvida a Alma, temos de nos virar para Quem as rege.
Ora, foi durante centúrias largas aceite como facto ter o Concílio de Niceia, no Século VI, determinado, por uma pequena minoria, que o Belo Sexo não era desalmado. A verdade é que nenhum documento o atesta, mas poder-se-á dizer o mesmo que era pacífico quanto às Cortes de Lamego: a convicção geral ininterrupta e incontestada da existência de uma norma fá-la incorporar-se no ordenamento. Estão pois garantidas as alminhas.
O certo é que universalidade da Santa Madre Igreja nunca apreciou conciliarmente tal caso. A origem do mito, com a sua razão, como evangelizo lá em cima, está no Concílio somente Provincial de Macon em que fora das conclusões principais, se discutiu a questão levantada por um bispo, de a palavra Homem poder também abranger a Parte Feminina da Espécie, conforme narra S. Gregório de Tours. Como os comentadores, na maioria, eram homens e se achavam definidos pela alma que se reconheciam, traduziram o tema para a formulação celebrizada. E a transposição para uma reunião conciliar geral teve preocupações de universalidade do alcance das deliberações, certamente.
Não há jurista contemporâneo com poder para mudar tanta autoridade.
18 comentários:
Caro Réprobo,
permita-me que lhe pergunte:
E se houvesse um jurista que o negasse?
As verdades são verdadeiras (ai...) mesmo quando negadas.
Recordo aulas de brilhante professora que tenho. Perguntava ela (sobre a nossa tacanhez/ingenuidade/desconhecimento em aceitar como universal os direitos universais) se a Lei da Gravidade teria passado a existir apenas a partir do momento da famosa queda da maçã... em coro respondemos que não.
Respondo em coro consigo que ainda bem que terão tão brilhantes juristas formulado realidades tão fantásticas como presentes, universais e existentes desde aquele dia no Jardim.
Um bom dia para si
Querida Nocas Verde,
e para a minha Amiga.
Não temos qualquer divergência. O tal jurista hipotético, da escola noticiada pela Luísa, não está com nada. Quanto à concepção que o põe no devido lugar, podemos dizer como os que fazem boa figura:
"são muitos anos!"
Beijinho
Amigo Réprobo, se for convocado a testemunhar em favor do jurista desconhecido, terei de dizer a verdade: às vezes as mulheres me foram umas desalmadas!
Caro Anónimo,
lamento ouvir isso. Mas claro que nesta questão o depomento, para ser validado, teria de dar azo a que se estendesse ao Todo a característica da Parte.
Abraço
"feliz do Homem que por um dia só consiga entender a Alma de uma Mulher" .. isto é daqueles pensamentos batidos, que recebemos por mail tantas vezes que até cansa .. mas o certo é que a temos. Quer esteja legislada, compartimentada enquanto verdade ou não .. :)
Beijinho, Rép.
:-)
as almas esburacadas,tipo passvite, também contam?
E não nos digam que não temos alma pois não são poucas as vezes que a sentimos tão maltratada ; querem maior evidência?
Beijo
Até, Querida Once,
se comprova a mencionada existência por todo o romantismo avant la lettre construído em torno da expressão "almas gémeas"!
Beijinho
Querida Fugidia.
o dito é mandado de ALMA e coração?
Beijinho
Querida Júlia,
com certeza, há umas mais fáceis outras mais difíceis de penetrar até ao âmago, mas essas, como os cartões perfurados das antigas pianolas, costumam emitir música encantadora, a profundidade que as marcas dão.
Beijinho
Querida Cristina,
aí está uma defesa com alma! A tal até Almeida? Mas raciocínio perigoso o de precisar do sofrimento para prova de existência...
Beijo
pianola...disse pianola? é isso!
Irei passar a dizer com as pálpebras semi-cerradas, à maneira da Garbo : " a minha alma is like a pianola" :-)
mais poético do que passvite, thanks a lot!
Querida Júlia,
Ezra Pound tem um poema célebre em que diz que a pianola veio substituir a lira de Safo. Sabendo nós do tom lamentoso da Poesia dela, caso será para reforçar a comparação da interioridade trespassada com essa forma de manifestação.
Mas, mesmo dessa melancólica rememoração do que cicatrizes terá deixado, a Júlia surge-me Belíssima.
Beijinho
O que eu gostava de saber é o que presidiu à escolha da imagem deste post, Paulo: terá sido Camões, com a célebre e sugestiva cacofonia "alma minha gentil..."?
;)(não resisti...)
Beijinho
Ainda bemn, Ana, nunca oponha entraves a dilucidações tão palpáveis!
A intenção em que me couracei era de mostrar a concepção da Mulher sujeita ao sabor das vagas que A submergem parcialmente (nos dois sentidos). Mas claro que o inconsciente estava todinho na fachada, talvez cansado de acusações de se esconder por detrás dela.
Beijinho
Meu caro Réprobo, que responsabilidade! Na verdade, tenho apenas uma vaga ideia de que ainda haveria, na nossa lei civil ou na nossa jurisprudência do séc. XIX, orientações que assentariam a subalternização feminina na inexistência de alma. Mas é uma ideia que adquiri há três décadas e de que já não estou segura. Ainda assim, serviu o seu propósito provocatório. ;-D
Querida Luísa,
pro-vo-ca-tó-rio?!
Só se foi dos tais teorizadores jurídicos, hoje no túmulo! Não se diga é que, podendo, não me dedico a ajudar Damas em apuros!
Beijinho
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