De Olhos Bem Fechados
Aniversário de Chagall, pintor a que reconheço alguma imaginação, mas de humor mais pesado do que a ironia que costumo prezar. Ademais, não estimo o uso que faz da cor naqueles quadros em que ela mais abunda, assim como me surge como rotundo falhanço a insistência de pintar olhos. Quando fecha as pálpebras às figuras retratadas atinge logo outra dimensão, como neste auto-retrato com a Musa. Gosto particularmente da apenas parcelar iluminação do artista pelo cone luminoso da inspiração, sendo as vistas cerradas e indistintas, respectivamente, da divindade e do pintor, uma sugestão do esforço telepático de transmitir e aceder à centelha criativa. Com a particularidade de as molduras por terra, ao fundo, aparentarem ser espelhos, o que nos conduz à convicção de terem sido perdidas as veleidades realistas de aprisionamento da própria imagem, assinando a rendição incondicional perante construções psíqucas induzidas a partir do exterior. No fim de contas a História da Arte, desde que se ligou de facto às escolas psicológicas contemporâneas. Mas há um problema, o título é Aparição.> Teria sido avisado separar a primeira letra, transformando-a em artigo.
10 comentários:
Eu gosto da inocência de Chagall, daquele imaginário naif. E também das figuras voadoras, claro!
;)
Eu devo confessar que prefiro a forma como o Caro Réprobo escreve sobre Chagall.
Um abraço.
Querida Ana, mas é uma inocência temperada por alguma malícia referencial, digamos assim.
Tinha de ser. Ainda pensei meter-me Consigo a propósito dessas elevações, mas como a Meggy postou p «Aniversário», fica para uma próxima. Mas vê? Há quem não precise de balonices para se mostrar volátil, ehehehehe.
Beijinho
Meu Caro Mike,
olhos de Amigo, claro. Note-se que, não fazendo parte do clube restrito das munhas admirações, este pintor merece atenção, a meu ver.
Abraço
Mas, Paulo, é aí que está a graça! A inocência tout court é um bocadinho chata, convenhamos...
Eu sei, eu sei, há muitas maneiras de voar... e nem todas precisam de veículo.
Beijinho
Eu pensava, Ana, por exemplo, em «A Revolução», em que o humor parte de premissas que me agradariam, mas é um bocado pesadão, sem aquele refinamento de Magrittes, Dalis e C.ª.
Nesse enfoque vejo como paradigmático «O Passeio», com a inextricável moral de que a cada felicidade que permite dar às asas tem de corresponder sempre uma âncora que não nos deixe sem amarras. s problemas começam com a décalage expressa em ve só como âncora o que, nos primeiros tempos, se teve exclusivamente como dom de deixar aérea a contraparte. Prender tem sentidos opostos, todos o sabemos.
Beijinho
Gosto particularmente de Chagall .. das cores, das mensagens.
Tenho por favoritos o Passeio (ele com um pé na terra, resplandescente no sorriso aberto, quem sabe admirando a capacidade da sua companheira em percorrer o ar de olhos fitos no chão .. de mão dada) e o Violinista Azul que de azul só tem mesmo o fundo em que se movimenta ..
Mas igualmente gostei de lhe ler esta análise :)
Prender tem dois sentidos, é verdade, e ambos coexistem nos "passeios" que damos. No equilíbrio da dosagem é que está o segredo.
O Violinista Azul também é um dos meus preferidos, Once. Apesar dos olhos, que irritam o Paulo...
;)
Obrigado, Querida Once. Tenho pena de não ter aderido incondicionalmente a um Amigo Seu...
Beijinho
À Mesma e à Ana,
por falar em Azul, também «Os Amantes...» da cor. E este outro momento em que ele esteve bem.
Beijinhos
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