segunda-feira, 14 de julho de 2008

Chaves de Uma Comemoração

Pareceria impossível de explicar a razão pela qual uma França orgulhosa faz de uma insubordinação e arruaça em que partes de si se combateram a Festa Nacional. Esta costuma ser, nos países mais sãos, reservada a data de afirmação da independência contra ameaças estrangeiras, não assente e lutas intestinas; mas há um pormenor esquecido que pode explicar. A populaça que tomou a Bastilha, desejosa de substituir um cárcere com sete prisioneiros por masmorras em que milhares transitassem, a caminho da lâmina e do cesto, ofertou ao seu agitador-mor, Santerre, as chaves da famosa prisão, de que a família conservou a posse por quase dois séculos, até que as doou a museu conectado. O contemplado era apenas empregável em excitar ânimos já de si exarcebados, como reafirmaria no tristemente célebre massacre dos Suíços, em que novamente incitou à matança. Feito general, portou-se muito mal na Vendeia e foi acusado por Robespierre de... Monárquico, ele a quem tinha sido confiado o cargo de carcereiro do Rei condenado.
É neste episódio que encontro a simbologia maior do êxito da Revolução e da continuidade do seu festejo, guindada a gigantesca parada de feriado - os motins como pressa de se dar a quem aprisione, desde que seja novidade. E a institucionalização da desgraça cíclica substitutiva, como tentativa de fazer perdurar em sistema a ilusão do novo. Esta é que é a verdadeira servidão voluntária.

2 comentários:

Anónimo disse...

Se o cabeça dos rebelados se mostrou tão mau militar os desfiles gigantes de Paris são a maior ironia.

O Réprobo disse...

Meu Caro Rudolfo,
pois, neste desfile não há maneira de a dignidade castrense acertar o passo com a História.
Abraço