domingo, 6 de julho de 2008

Música no Coração

A Saída de Nguyen Dihn DangNão havia necessidade desta descoberta, a saber o efeito físico positivo que a Música pode ter em recuperações de doenças, já que era mais do que suficiente aquele que possa exercer na regeneração espiritual nesses e noutros transes. Mas há duas alterações de comportamentos que convém salientar. O primeiro é de, nas classes mais desafogadas, ter crescido exponencialmente, até pelos progressos tecnológicos de reprodução e miniturização, ao menos entre as Mulheres, o tempo ocupado na audição, enquanto diminuiu drasticamente aquele que era empregue na produção. Antigamente, qualquer Menina da Classe Média para cima aprendia canto ou um instrumento, sendo quase condição sine qua non para passar por partido apresentável. Hoje, com o acesso a carreiras profissionais à imagem do que acontecia com os homens, o tempo para aprendizagem e execução evaporou-se, sendo comparativamente muito menos As que o conseguem, vingando-Se na fruição que os leitores em consolas de automóveis e os auscultadores de pequeníssimos memorizadores permitem.
Nunca a saúde psíquica e o seu paradigma mais evidente - o sono - estiveram tão ameaçados, mormente entre o Belo Sexo. Mas porquê, perguntar-me-ão se há tanta música a entrar pelos ouvidos dentro?
É que a indistinção da aplicação melómana puramente passiva, generalizando-se, pode criar habituação e perder poder curativo.
Neste sentido, creio que há a distinguir uma das situações relatadas no artigo linkado: a recuperação do marido que ouvia, na doença, a Cara-Metade dedicando-lhe a sua arte baseia-se em mais do que a simples audição musical, mero pretexto para a expressão de sentimentos íntimos que muito podem ajudar a reabilitação.
Foi uma autora de romances cor-de-rosa, June Masters Bacher, que melhor sintetizou a aproximação entre a Arte e o Sentir - o Amor é como a música, pode parar aqui e ali, mas as cordas ficam para sempre. De acordo, mas é preciso tocar ou deixar-se tocar, não se limitando a ouvir de forma que o(s) reduza à rotina.

12 comentários:

fugidia disse...

Gostei de o ler, Rép.
:-)

(mas fico aguardando a gentileza de um dia de semana dedicado a espairecer os olhos do belo sexo que o lê...)
:-p

Beijinho de boa noite :-)

Anónimo disse...

De acordo, Caro Réprobo, mas é preciso cultivá-lo, não se limitando a tocar ou deixar-se tocar, por forma que o reduza à rotina. Desconversando, eu, que li cultivar no tocar e deixar-se tocar. :) Belo post este (escrita e imagem), meu Caro.
Um abraço.

ana v. disse...

Concordo, Paulo. Há que manter os instumentos afinados, tocando-os sempre para que nos toquem também. Mas acho que a mensagem de June Masters Bacher é ainda mais do que isso: o que ela diz é que o amor, tal como a música, existe por si só. Os músicos podem interromper ou até suspender as suas actuações mas a melodia não morre, apenas muda de mãos.
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Fugi,
depois do fracasso com o Power já não me aventuro. A Marília é que lá no «Ainda Podia Ser Pior» é que tem competência na matéria.
Beijinho

O Réprobo disse...

Obrigadíssimo, Caro Mike,
claro que o tocar não era relativo ao afloramento, mas à profundidade que faz vibrar as cordas sensúveis do sentimento.
Grato.
Abraço

O Réprobo disse...

Ou não, Querida Ana. Quero crer que em muitos casos é o anterior dedilhador que retoma, depois do pedido de desculpa pela interrupção.
Beijinho

CPrice disse...

Brilhante texto Caro Amigo .. mas acrescento que por vezes, poucas que felizmente isto não acontece a todos nem todos os dias, ainda é preciso uma outra medida mais drástica .. cortar definitivamente a corda, interromper a partitura, e partir amando a pessoa que se é. Sem mais delongas.
Porque nem sempre o investimento, carinho, o toca e retoca, são bem recebidos ou melhor .. merecidos até.
:)

O Réprobo disse...

Querida Once,
claro que sim e é curioso constatar que no Ocidente só a partir de 1600 é que foi nos instrumentos de corda acrescentada a nota Si...
Beijinho

CPrice disse...

Rindo Paulo .. a sério? bom .. isso leva-me a outras considerações.

O Réprobo disse...

É verdade, ehehehe.
O curioso é que o Si, com o Dó e o Lá eram as únicas que compunham os homólogos no Japão... Logo, não havia uma imperatividade universal, somos, quando muito, vítimas civilizacionais.
Por Lá, havia consciência de Si e ao outro reservava-se Dó... Por aí.
Beijinho, Querida Once

ana v. disse...

Quando isso acontece é muito bonito, Paulo, sem dúvida. Como diz o Rui Veloso "Não se ama alguém que não ouve a mesma canção". O que digo é que a essência da Música, como a do Amor, sobrevive aos executantes e vale por si própria, mesmo que eles falhem.
Beijinho

O Réprobo disse...

Nessa Pauta todos nos encontramos, creio, Querida Ana.
Beijinho