Passado!
O Pensamento Que me Consumiu de Laurel SwabQual será impermeabilização mais eficaz contra a desilusão? A renúncia à experiência com a inerente melancolia de nunca ter tentado? Ou a eliminação da Vontade levada à última consequência dos objectivos, deixando a carcaça em que nos arrastamos neste mundo sem fogachos de elevação? A meu ver, nenhuma destas vias, o pessimismo enformador, para ser consequente e não rebaixar, deve concentrar-se na aplicação de si com a naturalidade de não pretender resultados transfiguradores, pois esses seriam uma humilhante insatisfação com o que se ia sendo. Nem abdicar da acção, porque se estaria perante outra maneira de se rebaixar. Só resta a via de tentar não ficar obcecado, com uma intervenção baseada em cumprir a sua parte, que não secundarize as fruições e a observação, mas, igualmente, não esterilize a capacidade de ascender. Caso contrário a desilusão despontará, sem que possa achar melhor canto do que o de Camões:
Quando os olhos emprego no passado,
De quanto passei me acho arrependido;
Vejo que tudo foi tempo perdido,
Que todo emprego foi mal empregado.
Sempre no mais danoso, mais cuidado;
Tudo o que mais cumpria, mal cumprido
De desenganos menos advertido
Fui, quando de esperanças mais frustrado.
Os castelos que erguia o pensamento,
No ponto que mais altos os erguia,
Por esse chão os via em um momento.
Que erradas contas faz a fantasia!
Pois tudo pára em morte, tudo em vento...
- Triste do que espera, triste do que confia!
Quando os olhos emprego no passado,
De quanto passei me acho arrependido;
Vejo que tudo foi tempo perdido,
Que todo emprego foi mal empregado.
Sempre no mais danoso, mais cuidado;
Tudo o que mais cumpria, mal cumprido
De desenganos menos advertido
Fui, quando de esperanças mais frustrado.
Os castelos que erguia o pensamento,
No ponto que mais altos os erguia,
Por esse chão os via em um momento.
Que erradas contas faz a fantasia!
Pois tudo pára em morte, tudo em vento...
- Triste do que espera, triste do que confia!
14 comentários:
"Qual será impermeabilização mais eficaz contra a desilusão?" .. vou ficar a pensar nisto eu .. mesmo que influenciada pela sua explicação com a qual tenho, hoje, de concordar .. :)
Talvez a prudência .. seja parte da resposta, para mim.
Querida Once,
é uma Virtude de sugestão divina, não o esqueçamos...
Não Se deixe levar por más influências, ehehehehe. Mas haverá outras piores.
Beijinho
Não será aprender com a desilusão anteriormente vivida? Relativizá-la, contextualizá-la, aceitá-la?
E, afinal, as desilusões fazem-nos crescer...
:-)
Claro, Querida Fugi, mas isso é não repetir a desilusão. Eu falava de como prevenir-se contra a original...
Conrad dizia que a experiência exprime sempre algo que correu mal, o que é o entendimento mais pessimista que (re)conheço.
Beijinho
:-)
Mas então há várias desilusões "originais" (risos) e acho que não podemos evitar a maior parte delas, embora a prudência de que a querida Once fala seja um bom preventivo :-)))
É essa a questão - podemos fugir-lhes (sem brincadeira com o nick)? E não será pior o resultado?
Beijinho
tenho-o em melhor conta que essa da "má influência" meu Amigo .. ;)
Querida Fugidia a Once fala demais e aplica demenos as fantásticas noções, como já foi dado ver ;)
Mas não somos todos assim, Querida Once?
Obrigado pela irrealista concepção. O Afecto é o mais adorável dos irrealismos.
Beijinho
Acho, Caro Réprobo, que não há apenas uma solução ou resposta para a questão. Mesmo assumindo que estamos a falar de uma grande desilusão. É que cada caso é um caso e depende de cada pessoa. Pessoalmente creio que a impermeabilização requer disciplina e treino, por mais fria que esta afirmação possa parecer. E por mais nefastas que possam ser as consequências de tanta disciplina e treino. Gostei de o ler.
Abraço.
Claro, Caro Mike. estamos apenas a pensar o caminho. A questão que poria é se esse endurecimento visa uma resistência abstracta ou passa por processo análogo às calosidades, formadas pelas contínuas pressões agressivas...
Abraço
um tema interessante, este mas que me deprime...
Faço minhas as palavras da Once, a prudência é o melhor preventivo.
As calosidades, Querido Paulo, o tempo e "óleos essenciais", amaciam-nas, não creio que sejam preventivo seguro ;-)
Nada me soa mais falso, que a afirmação "Não me arrependo de nada do que fiz; Só me arrependo do que não fiz"
O futuro está pejado de arrependimentos...
Um abraço
Pois é, Querida Júlia.
E quando tentamos extracções radicais, fingindo de calistas, acabamos fazendo de calinos.
Beijinho
Meu Caro Nelsinho,
por isso Ernst Jünger dizia que não prezava o remorso, essa banalização do arrependimento de actos que prehuficaram outros, na mira de ganhos finais.
Suponho que o equlíbrio de u Homem digno nem caia nas contrições vazias, sem sofrimento redentor, nem na satisfação de uma auto-suficiência repulsiva.
Abraço
Enviar um comentário