terça-feira, 15 de julho de 2008

Passado!

O Pensamento Que me Consumiu de Laurel SwabQual será impermeabilização mais eficaz contra a desilusão? A renúncia à experiência com a inerente melancolia de nunca ter tentado? Ou a eliminação da Vontade levada à última consequência dos objectivos, deixando a carcaça em que nos arrastamos neste mundo sem fogachos de elevação? A meu ver, nenhuma destas vias, o pessimismo enformador, para ser consequente e não rebaixar, deve concentrar-se na aplicação de si com a naturalidade de não pretender resultados transfiguradores, pois esses seriam uma humilhante insatisfação com o que se ia sendo. Nem abdicar da acção, porque se estaria perante outra maneira de se rebaixar. Só resta a via de tentar não ficar obcecado, com uma intervenção baseada em cumprir a sua parte, que não secundarize as fruições e a observação, mas, igualmente, não esterilize a capacidade de ascender. Caso contrário a desilusão despontará, sem que possa achar melhor canto do que o de Camões:

Quando os olhos emprego no passado,
De quanto passei me acho arrependido;
Vejo que tudo foi tempo perdido,
Que todo emprego foi mal empregado.

Sempre no mais danoso, mais cuidado;
Tudo o que mais cumpria, mal cumprido
De desenganos menos advertido
Fui, quando de esperanças mais frustrado.

Os castelos que erguia o pensamento,
No ponto que mais altos os erguia,
Por esse chão os via em um momento.

Que erradas contas faz a fantasia!
Pois tudo pára em morte, tudo em vento...
- Triste do que espera, triste do que confia!

14 comentários:

CPrice disse...

"Qual será impermeabilização mais eficaz contra a desilusão?" .. vou ficar a pensar nisto eu .. mesmo que influenciada pela sua explicação com a qual tenho, hoje, de concordar .. :)

Talvez a prudência .. seja parte da resposta, para mim.

O Réprobo disse...

Querida Once,
é uma Virtude de sugestão divina, não o esqueçamos...
Não Se deixe levar por más influências, ehehehehe. Mas haverá outras piores.
Beijinho

fugidia disse...

Não será aprender com a desilusão anteriormente vivida? Relativizá-la, contextualizá-la, aceitá-la?
E, afinal, as desilusões fazem-nos crescer...
:-)

O Réprobo disse...

Claro, Querida Fugi, mas isso é não repetir a desilusão. Eu falava de como prevenir-se contra a original...
Conrad dizia que a experiência exprime sempre algo que correu mal, o que é o entendimento mais pessimista que (re)conheço.
Beijinho

fugidia disse...

:-)
Mas então há várias desilusões "originais" (risos) e acho que não podemos evitar a maior parte delas, embora a prudência de que a querida Once fala seja um bom preventivo :-)))

O Réprobo disse...

É essa a questão - podemos fugir-lhes (sem brincadeira com o nick)? E não será pior o resultado?
Beijinho

CPrice disse...

tenho-o em melhor conta que essa da "má influência" meu Amigo .. ;)


Querida Fugidia a Once fala demais e aplica demenos as fantásticas noções, como já foi dado ver ;)

O Réprobo disse...

Mas não somos todos assim, Querida Once?

Obrigado pela irrealista concepção. O Afecto é o mais adorável dos irrealismos.
Beijinho

Anónimo disse...

Acho, Caro Réprobo, que não há apenas uma solução ou resposta para a questão. Mesmo assumindo que estamos a falar de uma grande desilusão. É que cada caso é um caso e depende de cada pessoa. Pessoalmente creio que a impermeabilização requer disciplina e treino, por mais fria que esta afirmação possa parecer. E por mais nefastas que possam ser as consequências de tanta disciplina e treino. Gostei de o ler.
Abraço.

O Réprobo disse...

Claro, Caro Mike. estamos apenas a pensar o caminho. A questão que poria é se esse endurecimento visa uma resistência abstracta ou passa por processo análogo às calosidades, formadas pelas contínuas pressões agressivas...
Abraço

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

um tema interessante, este mas que me deprime...

Faço minhas as palavras da Once, a prudência é o melhor preventivo.

As calosidades, Querido Paulo, o tempo e "óleos essenciais", amaciam-nas, não creio que sejam preventivo seguro ;-)

Nelsinho disse...

Nada me soa mais falso, que a afirmação "Não me arrependo de nada do que fiz; Só me arrependo do que não fiz"

O futuro está pejado de arrependimentos...

Um abraço

O Réprobo disse...

Pois é, Querida Júlia.
E quando tentamos extracções radicais, fingindo de calistas, acabamos fazendo de calinos.
Beijinho

O Réprobo disse...

Meu Caro Nelsinho,
por isso Ernst Jünger dizia que não prezava o remorso, essa banalização do arrependimento de actos que prehuficaram outros, na mira de ganhos finais.
Suponho que o equlíbrio de u Homem digno nem caia nas contrições vazias, sem sofrimento redentor, nem na satisfação de uma auto-suficiência repulsiva.
Abraço