sábado, 1 de dezembro de 2007

As Palavras e a Coisa

Alegoria da Restauração do Palácio dos Condes de Almada

Nunca é demais retornar à contemplação de igual dia de 1640. Foi o tempo em que as aspirações nacionais conviveram suficientemente com o realismo, para, aceitando a preciosa ajuda de Richelieu por Saint Pè oferecida, não embarcar em aventureirismo vão e meramente perturbador que nos tornasse, como outros foram, mero peão francês no tabuleiro de jogos europeu. Ao contrário da Catalunha e de outros focos espevitados, não era mera vontade independentista que estava em jogo, senão o apego em restaurar o Soberano devido. Para os radicais, o retorno às Leis do Reino, que proibiam o acesso ao Trono Luso do portador de coroa estrangeira. Para aqueles que aceitaram Filipe II como Primeiro da dinastia austríaca em Portugal, na qualidade de salvação da continuação prometida do desastre, era a reacção natural contra o desrespeito que Olivares empreendia centralizadoramente contra as liberdades que Aquele Rei se tinha comprometido a respeitar e respeitara.
Foi na Legitimidade ou ausência dela, porque inexistente ab initio ou perdida, que a tónica sempre foi colocada, não num romantismo extemporâneo que guindasse ânimos autonomistas de realidades colectivas confusas. A mesma Legitimidade que nos deve guiar hoje na enformação do regime que nos salve dos desmandos deste. E para os bem-intencionados que se esgotam em homenagens cobertas de bons sentimentos, mas cheias de esterilidade, lembraria a visão de D. João, prestes a ser IV ao responder ao Alcaide-mor de Mourão que O queria saudar como Rei:
Para essas coisas não deixará de haver ocasião, mas para ser Rei faltam ainda algumas circunstâncias

14 comentários:

Anónimo disse...

Este dia traz-me sempre à memória, além da vontade de muitos dos nobres portugueses, representados pelos conjurados, de serem livres e independentes, como sempre o tinham sido desde que o nosso 1ºRei demonstrou essa mesma vontade, que era esse também o sentimento do povo, como ficou bem patente no que o
mesmo povo fez ao palácio de Cristóvão de Moura, em Castelo Rodrigo.
Era pequena quando lá fui a primeira vez,num 1º de Dezembro, e lembro-me de ter ficado orgulhosa quando me explicaram o porquê do Escudo de Armas virado para baixo.
Beijo

Anónimo disse...

Caríssimo: Neste dia de boa memória, para não nos quedarmos em celebrações vãs, apetecer-me-ia fazer como D. Antão de Almada, ao se dirigir do Palácio Almada ao Terreiro do Paço (o nome «Praça do Comércio» é demasiado mercantilista e plutocrática para o meu gosto, é até mesmo quase uma heresia), quando o interpelaram e perguntaram «a onde ia»; respondeu: «Vou ali mudar de Rei e já volto!»...

As circunstâncias que faltam, neste caso, são principalmente a Vontade e a Coragem de muitos para o fazer. E eu, sózinho, não tenho sequer quarenta conjurados...

Forte abraço.

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
é, o castigo de D. João I foi premonitório das origens e título do agenciamento de Moura por Filipe II. Claro que os Conjurados marcam uma passagem de testemunho essencial, para a nova geração de quadros militares, bastante dizimada depois do desastre norte-africano que nos deixaria à mercê de quem quer que fosse.
Beijo

O Réprobo disse...

Meu Caro Carlos Portugal,
um paralelo com o episódio de João Pinto Ribeiro, o qual perguntado por um conhecido:
"Onde ides, João Pinto, tão armado?"
teria respondido:
"Não Vos inquieteis, é um instante enquanto chegamos ao Paço, tiramos um Rei e pomos o Outro".
Abraço

Anónimo disse...

Caríssimo Amigo:
Provavelmente será o episódio de João Pinto o verídico, sendo depois atribuído, com variações ao Conde de Almada (família pela qual nutro o mais profundo respeito e simpatia).
Obrigado pelo lembrete!

Abraço

O Réprobo disse...

Qualquer que tenha sido, o espírito dos Conjurados é muitíssimo bem ilustrado pelas anedotas, Meu Caro Carlos Portugal.
Grande abraço

Bic Laranja disse...

E uma noção certíssima das circunstâncias. Tirar um rei que havia anos que não estava era já meio trabalho feito. Aclamar D. João IV era o que faltava. No mais era trabalho e perseverança no sentimento nacional. Isso é que foi.
Cumpts.

O Réprobo disse...

Tanto mais certeira a Sua visão, Caro Bic, quanto, segundo rezam as crónicas, João Pinto era uma espécie de secretário do Duque de Bragança.
Abraço

Capitão-Mor disse...

Já calculava que esta data tivesse direito a uma magnífica referência de sua parte!
Excelente!

Anónimo disse...

É para contrastar (para melhor) com o pouco ou nada que vi referido sobre a efeméride na comunicação social e, mais grave, nas instituições que deveriam zelar pela mantuenção da consciência Nacional, como o Parlamento...Será porque não foi uma revolução republicana?!

Um grande abraço

tsantos

O Réprobo disse...

Não podia deixar, Caro Capitão-Mor, de confrontar a Restauração que tivemos com aquela que ainda esperamos. As lições da História, pois claro.
Ab.

O Réprobo disse...

Meu Caro TSantos,
que alegria! Creio que é a Tua estreia nesta casa, depois do excelente comentarismo deixado no «Misantropo...».
Pois é; e quando´foi referido, como num programa pedante que pretende ter graça e ser espaço de debate, «O Eixo do Mal» da SicNotícias, limitaram-se a graçolas fáceis e forçadas, daquelas que precisam de se auto-explicar, confundindo o sentido histórico com o hoteleiro da palavra.
Seria de lastimar, caso não fosse já esperável daquelas bocas...
Grande abraço
PS:estive a falar com um Colega Bloguista e Teu de curso, o L.Rodrigues do «Designorado». Vai visitá-lo, tens o link aí ao lado.

Anónimo disse...

Sim, Caríssimo, é aminha estreia como
postante, embora não como leitor...Não te livras de mim com essa facilidade! "Big Brother is watching You"!! ;-)

Falando um pouco mais a sério, felicito-te por não teres cumprido a ameaça feita há um ano! Ah, e já agora, também pela data que passou há uns dias, e que me passou também...

Quanto ao teu comentário, é verdade...Nem vale a pena comentar o incomentável, embora seja sempre de lastimar.

Vou seguir o teu conselho, e deixar um abraço ao caríssimo L.!

Um abraço
T

O Réprobo disse...

Isso! Na pequena conversa que tivemos Ele falou de Ti com grande amizade.
A data, enfim, não é importante. Importante é O DIA DE AMANHÃ.
Obrigado pelo encorajamento amigo.
Grande abraço