A Domesticidade da Língua
Se dúvida houvesse quanto à força deste acessório que só a feministas requentadas lembrou queimar, aí está: é das raras entidades que podem rivalizar com a perfeição terrena que se concretiza na figura de James Bond. Esta deu origem à absoluta elite das Bond Girls, o objecto em apreço às Wonderbra Girls!
Mas quem diria que tão útil elemento de vestuário teria despoletado convulsões linguísticas? "Qualquer um com um mínimo de experiência e sintonia mainstream", responder-me-ão. E eu serei obrigado a, uma vez mais, prantear a minha insuficiência de redacção, porque não é desse tipo de estímulos que falo, mas da introdução do que foi um neologismo no nosso idioma.
Em 1964, um preocupado Compatriota dirigia-se a Irondino Teixeira de Aguiar, depois de mencionar o aportuguesamento de outros vocábulos estrangeiros nestes termos:
E em nome do sutiã reclamo! Sutiã merecia a primazia até mesmo ao futebol. A maioria da nação nem sabe o que é voleibol, mas todos conhecem sutiã...
...Ora, qualquer criada de servir a quem se mostre aquela peça de roupa interior dirá tratar-se de um sutiã; Sutiã; não «soutien-gorge». Se lhe dissermos que sutiã não é português, ela não nos leva a sério - já a avó lhe chamava assim!
Não insistirei no pedantismo politicamente incorrecto de não reconhecer à técnica auxiliar de limpeza a prerrogativa de varrer a língua de purismos exagerados, como tão capazmente o faria aos soalhos que lhe competiam. Dou-lhe razão por inteiro quando vejo a alternativa que os fanáticos do portuguesismo imaculado sugeriam: porta-seios!!! E, pensando que as acepções dos componentes das designações francesa e lusa do objecto estudado remetem para sustentador de forças e bolsa de trocos, respectivamente, chego uma vez mais à constatação do carácter optimista da Gália, contraposto ao ancestral pessimismo lusitano.
Todos os caminhos vão dar a Roma. Ah, eu não me importo.
Mas quem diria que tão útil elemento de vestuário teria despoletado convulsões linguísticas? "Qualquer um com um mínimo de experiência e sintonia mainstream", responder-me-ão. E eu serei obrigado a, uma vez mais, prantear a minha insuficiência de redacção, porque não é desse tipo de estímulos que falo, mas da introdução do que foi um neologismo no nosso idioma.
Em 1964, um preocupado Compatriota dirigia-se a Irondino Teixeira de Aguiar, depois de mencionar o aportuguesamento de outros vocábulos estrangeiros nestes termos:
E em nome do sutiã reclamo! Sutiã merecia a primazia até mesmo ao futebol. A maioria da nação nem sabe o que é voleibol, mas todos conhecem sutiã...
...Ora, qualquer criada de servir a quem se mostre aquela peça de roupa interior dirá tratar-se de um sutiã; Sutiã; não «soutien-gorge». Se lhe dissermos que sutiã não é português, ela não nos leva a sério - já a avó lhe chamava assim!
Não insistirei no pedantismo politicamente incorrecto de não reconhecer à técnica auxiliar de limpeza a prerrogativa de varrer a língua de purismos exagerados, como tão capazmente o faria aos soalhos que lhe competiam. Dou-lhe razão por inteiro quando vejo a alternativa que os fanáticos do portuguesismo imaculado sugeriam: porta-seios!!! E, pensando que as acepções dos componentes das designações francesa e lusa do objecto estudado remetem para sustentador de forças e bolsa de trocos, respectivamente, chego uma vez mais à constatação do carácter optimista da Gália, contraposto ao ancestral pessimismo lusitano.
Todos os caminhos vão dar a Roma. Ah, eu não me importo.
8 comentários:
Caríssimo Paulo
Se me permitir, faria a seguinte "correcção":
_ Todos os caminhos vão dar à Abundante Roma!
Abraço...
M
Lá vem com graçolas
E não bastava só uma
Adulterar o ditado
Sem graça nenhuma!
Obrigadíssimo, Caro Mário. Oportuno como sempre, sublinhando os inigualáveis fornecimentos da Cidade Eterna...
Abraço
Ora, Caro Sr. Oliveira da Figueira,
especificar não é adulterar. A menos que a crítica vise algum aspecto da vida particular do elemento humano da imagem, por mim desconhecido.
Abraço
Pues no sé, querido Paulo, pero en español tenemos sujetador y el más arcaizante sostén (que también tiene sabor gabacho), aunque eso de "soutien-gorge" sería en tiempos, que lo tenían que llevar de ahí colgado. Hoy día hay mucho sujetador que no pasa por el cuello ni de lejos, así que el "gorge" sobra ya. Propongo soluciones.
El español, como el portugués, es un idioma demasiado presto a importar vocablos. Siempre admiré del alemán esa capacidad para germanizar los extranjerismos.
En castellano la variante "castiza" a veces me sorprende con soluciones increíbles, pero no menos sabrosonas, como llamar 'emilio' al e-mail, o al purista correo electrónico. Y en cuanto a fútbol aquí tenemos balompié.
Finalmente, volviendo al tema de los sujetadores, tengo yo para mí (y a lo peor es grande atrevimiento el mío) que tú hubieras preferido que ni existiera el término, o sea, que una vez desabrochada la blusa hubieras podido entregarte a las maravillosas cumbres y valles con que la Madre Naturaleza dotó a esos fascinantes seres que Dios sacó de nuestras costillas. Sospecho que para ti cualquier obstáculo a tales curvas es, en el mejor de los casos, un inconveniente. Así que te propongo un equivalente de 'inconveniente' en tu particular portugués para que designes tan enojoso obstáculo.
Un fuerte abrazo,
Rafael Castela Santos
Meu Caro Rafael,
não tardo em dizer-Te que não me oponho de todo ao sutiã, por não gostar de assuntos pendentes...
"Sujetador" parece-me um pouco áspero, já garantir haver o que "sustén" soa mais próximo da generosidade que se associa ao Teu Grande País...
Quanto aos desportos, por cá é para esquecer: ensaiou-se "pedibol". Conheces palavra mais feia?
A minha filosofia sobre o assunto? Ora, acontece por vezes um especialista em 400m planos também se dedicar vitoriosamente à mesma distância com barreiras!
Abraço apertado
Eu, purista da língua confesso, confesso que porta-seios não me ocorreu; mas sutimamas era designação jocosa que ouvi algumas vezes em família.
Julgo que sutiã é neologismo bastante aceitável.
Cumpts.
P.S.: agradeço-lhe muito a menção honrosa que me atribuíu quando estava em férias. O meu caro amigo é sempre muito amável comigo. Só a sua bondade para me pôr a par de tão ilustre companhia.
Caríssimo Bic,
olha Quem voltou! Espero que o descanso haja sido revigorante. Estava roidinho de saudades. Vamos a blogar muito! A alternativa familiar que relata é uma delícia, hihihihihihi.
Grande abraço
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