quinta-feira, 19 de julho de 2007

A Tragédia do Ridículo

Em 1936 vivia-se no dia 19 de Julho o compasso de espera decisivo. Tendo a Instituição Militar finalmente reagido contra a tirania Vermelha e assassina, aguardava-se a chegada, proveniente daqui de bem perto da minha casa, do General Sanjurjo, a quem caberia a chefia natural do levantamento. A avioneta com nome de lagarta, pilotada por aviador e político renomado, Ansaldo, espatifar-se-ia na manhã do dia imediato, ao descolar. É desse momento que julgo trazer pioneiramente à net a horrível imagem, com o corpo no incêndio que o vitimou. O acidente ter-se-á devido ao excesso de peso motivado pelo embarque das fardas de gala do Oficial. O pior que pode suceder ao ridículo é não permanecer idêntico através dos tempos: naquela época temera-se a figura que o militar faria, desprovido das competentes insígnias, hoje estranha-se um fracasso devido a motivo tão fútil, assimilado à vaidade.

Em Fevereiro desse mesmo ano tinha concedido uma interessantíssima entrevista ao Jornalista Leopoldo Bejarano, em que dava por encerrada a sua carreira de conspirador veterano, desmentia intenções de candidatura à Presidência de Espanha patrocinada por José Calvo Sotelo, com quem servira na governação do General Primo de Rivera. Acrescentava que este último, prezando muito Calvo, seu Ministro das Finanças, o costumava censurar paternalmente, dizendo "o Senhor é demasiadamente Político". Pelo que não deixa de se dever confrontar com a avaliação que, anos mais tarde, José António faria da Ditadura Militar pelo Pai presidida: "a História recente prova que o governo de Espanha não pode ser entregue apenas a um grupo de militares de honradíssima intenção, mas sem capacidade política para transformar o Estado". Paradoxalmente, ter-se-ia de aguardar por um Caudilho saído do meio castrense, tido por mais apto a conviver com o Poder. É que, pelo meio, Aquele que parecia destinado a tomá-lo tinha sido assassinado pelos Republicanos, revelando-se, até no sacrifício, demasiado político.
D. Miguel tinha razão.
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11 comentários:

Flávio Santos disse...

«El concepto de Estado integrador, que administre la justicia económica y que pueda decir con plena autoridad: ‘no más huelgas, no más lock-outs, no más intereses usurarios, no más fórmulas financieras de capitalismo abusivo, no más salarios de hambre, no más salarios políticos no ganados con un rendimiento afortunado, no más libertad anárquica, no más destrucción criminal contra la producción, que la producción nacional está por encima de todas las clases, de todos los partidos y de todos los intereses. (Aplausos.) A este Estado le llaman muchos Estado fascista; pues si ése es el Estado fascista, yo, que participo de la idea de ese Estado, yo que creo en él, me declaro fascista». (Calvo Sotelo nas Cortes, em 16.06.1936)

Anónimo disse...

Depois de D. João II, tudo é um deserto.

Anónimo disse...

Una nieta de Calvo Sotelo es ahora la Ministra de Educación y ha estado recientemente en Lisboa......Mercedes Cabrera Calvo- Sotelo..........

O Réprobo disse...

Nem todo o corporativismo é fascista, Caro F.Santos. E na altura tinha penetração de prestígio até junto de figuras de Esquerda, como algumas da nossa Seara Nova.
A representação do Fascismo, embora com inflexões religiosa e telúrica, competia, em Espanha, sem dúvida, à Falange, porque milicial-revolucionária. Nada disso se encontrava na RN, ou no Bloco Nacional, com Calvo, cuja ideia política predominante era o Monarquismo, o qual, diga-se nem era dogma falangista, apesar de JA ser proveniente da Accion Española.
Abraço

O Réprobo disse...

Nem tanto, Marta, foi preciso chegar à Democracia para sermos tratados como camelos, sem desprestígio para os próprios. E o Saara arribou em força com Lino.
Beijinho

O Réprobo disse...

Ai, Çamorano, o pobre Avô deve dar valentes voltas na tumba, ao vê-la entre lençóis Rojos! Irmã ou prima de Leopoldo, antigo Presidente do Governo?
Abraço

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

''A Tragédia do Ridículo''
O título está perfeitamente coerente com o comentário.
...
...

O Réprobo disse...

Obrigado, desde que não se caia em mutilações pariculizantes, o que subverteria a pobre reflexão ensaiada.
Bj.

O Réprobo disse...

particularizantes, apre! Ando a perder letras pelo caminho. Chegarão a formar uma palavra?

Anónimo disse...

Amigo Réprobo: respecto a la posible "indignación de ultratumba" del tío con Leopoldo, o del abuelo con la nieta Mercedes no estoy tan seguro de la misma; hay que tener en cuenta que Don José Calvo Sotelo era gallego, lo que significa grandes dósis de pragmatismo........¡El gallego nunca se sabe si sube o si baja la escalera.........! Ab.

O Réprobo disse...

Ah, a relação é Tio-Sobrinha! Meu Caro Çamorano, o pragmatismo tem - ou deve ter - o seu campo de eleição no enfrentamento dos problemas que se deparam a cada passada, não na esolha do campo, como o exemplo de D. José mostra. Nada o obrigava a tornar-se o Campeão restauracionista, o caminho para o Poder seria bem mais curto sem o embaraço da Fidelidade.
Abraço