sábado, 21 de julho de 2007

A Sorte das Marcas

Em mais um ano passado sobre a morte de Lyautey, cumpre lembrá-lo pelo que teve de específico. Tendo feito a carrreira maioritariamente nas possessões francesas de outros continentes, não só do Marrocos que o celebrizou, como da África Negra, da Argélia e da Indochina, este Monárquico fervoroso que, como tantos outros, serviu lealmente, num governo Republicano, o seu País em armas, perfilhava uma concepção de presença europeia que não era moda na maior parte dos países colonizadores do tempo: preocupação de melhoria das condições materiais, segurança e aprendizagem das populações, dentro do respeito pelas respectivas culturas, como parte integrante, mais do que como contrapartida, do contributo que traziam ao interesse estratégico do protector europeu.
Não era popular esse conceito entre os mais ferozes vampirizadores das terras a ocupar, defensores dos melhoramentos na simples medida em que facilitassem o aproveitamento das matérias-primas e do exercício da administração. Mas não assim na acção empreendedora do nosso País, que sempre foi o modelo para o grande Marechal:
Em todas as regiões do mundo por onde passei, sempre que via uma ponte perguntava quem a construíra e sempre me respondiam: os portugueses. Diante de uma estrada e ao fazer semelhante pergunta, a resposta era idêntica: os portugueses. E quando se tratava de uma igreja ou de uma fortaleza, sempre a mesma resposta: os portugueses, os portugueses, os portugueses.
O meu desejo seria que, se Marrocos se tornasse algum dia esquimó ou chino, os nossos sucessores lá encontrassem tantas reminiscências francesas como portuguesas nós temos achado.

Note-se que era no tempo em que razões tecnológicas e, sobretudo, políticas não consentiam que fossem erguidas pontes numa madrugada. E demos graças ao Senhor Nosso Deus por o Velho Militar não ter indagado por suspeitos aeroportos nestes tempos do fim e espaço retráctil. A resposta seria Bruxelas! Bruxelas! Bruxelas!
A memória do que éramos capazes anda mais morta do que os ossos desta prestigiosa Testemunha.

9 comentários:

Flávio Santos disse...

Brasillach faz uma bela homenagem a Lyautey em "La Conquérante".

O Réprobo disse...

Olha, vergonha das vergonhas, não li esse. Mas, em compensação, li uma tese "absolutamente completamente", de um advogado travestido de psicólogo, em que se procura apontá-lo como modelo do Charlus de Proust, quando o próprio admitiu que o papel era de Robert de Montesquieu. Tentativas de apequenar um vulto enorme de Militar, Administrador e Homem da Cultura, como a Exposição dos anos 1920 que organizou abundantemente prova.
Abraço

Flávio Santos disse...

http://linha-horizonte.blogspot.com/2007/07/o-verdadeiro-chefe.html

O Réprobo disse...

Já lá fui. Obrigadíssimo pela revelação e pela dedicatória.
Grande abraço

Flávio Santos disse...

Comprei o meu exemplar de "La Conquérante" num alfarrabista de... Lisboa. Ontem, em consultas na Amazon.fr e na Chapitre.com, nada encontrei. Nesta última nem mesmo na secção de livros antigos, que é bastante vasta.
Um abraço.

O Réprobo disse...

Raios! Mas tenhamos fé, quem passa a vida a farejar o equivalente dos sebos há-de dar com a obra, num País outrora tão dominado pela fascinação da Cultura Francesa.
Abraço

Flávio Santos disse...

Faltou dizer que comprei o livro há uns quinze anos...

O Réprobo disse...

Meu Caro FSantos,
em matéria de livros não publicados recentemente quanto mais tempo passa, maiores são as probabilidades de o encontrar.
Abraço

Anónimo disse...

Caro Paulo,
estive a ver,na coluna da direita,alguns títulos que me passaram despercebidos,e reparei neste;nunca tinha ouvido falar em Lyautey(percebe agora melhor quando falava no meu "isolamento"),mas fiquei com curiosidade:tratei,pois,de fazer uma primeira abordagem-o que se aprende aqui!
Beijo