quinta-feira, 5 de julho de 2007

Tétis Reencontrada

Sim, eu sei que Ela assina Terpsichore, porém a Entidade mitológica para que o nome do Blogue remete é a Guia do Gama. É dever de todos os que se preocupam com a preservação da nossa língua visitar A Ilha dos Amores, agora que a sua Proprietária nos sensibiliza para o que pode ser o Futuro do nosso idioma, ou a ausência dele, governamentalmente imposta. Daí que se diga Cassandra, porém, como é sabido, também no episódio dos Lusíadas estava revelado algo do Porvir de Portugal, embora nada de aspectos tão negros. A minha posição é simples: para quê unificar a escrita Portugesa e Brasileira, se o que existe serve amplamente para uns com os outros comunicarmos e assegura a riqueza maior de dois rumos de transformação, ditados por sensibilidades diversas? Nem os nossos Irmãos de além-Atlântico quererão ver terraplanadas as suas idiossincrasias, nem nós esmagadas as nossas particularidades. Dar mais lucros às editoras? Ora adeus! Na língua inglesa coexistem, sem se querer amalgamar, as duas vias, a europeia e a americana e nem nesse mundo em que os negócios têm uma influência maior se vai tão longe. Mas é universo em que os ganhos são remetidos para a aptidão empresarial, antes de serem entregues a encapotados mecanismos de protecção estatal.
Entretanto, voltando à homenagem devida, encontrei, de Artur J. Castro Neves, a propósito de um tema diverso, cinema em festival, dedicado a Paulo Rocha, um poema que quer pelo antetítulo, quer pelo resto, é intuição notável do que se arrisca ver perecer e do spleen que nos deixa, como na Tenaz Resistente que aqui venero, a desventura da nossa ortografia:

As afinidades perdidas

A Ilha dos Amores

O estar no mundo português
o estar português no mundo

Ser elegante e agonizar
a agonia elegante
a elegância em agonia

O afastamento, a renúncia
a dramática frieza da pátria
a sua insensibilidade

A maneira portuguesa de ser culto
a maneira culta de ser português

8 comentários:

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Oh!
E quem assim será passível de ser sensibilizado, e sensível às insensibilidades... ?
Não fazendo a exigência geral de grandeza e aprovações, (tão acostumada entre os medíocres, aliás), vendo Deusas em meras florzinhas do campo, e Oceano em gotinhas de orvalho?

Porventura será MagoMerlin, apesar de tudo...:) ?


Vénia redobrada.

PS - Maravilhosa poesia e delicadeza de como inclusivé me pôs na ordem! (Trás catapaz!)
Desgraça minha...não ter chegado ainda às honras a Tétis...

O Réprobo disse...

Querida Terpsichore,
tenho poucas virtudes, mas uma delas é vista de Águia. Tomo o que surge no Horizonte pelo que de facto é. E pôr na ordem? só se foi, a propósito do "afastamento", a pontinha de despeito por ter visto negado o pic-nic alentejano...
Mas espero que não tenha passado despercebida a intenção primeira da transcrição do antetítulo - "as «afinidades» perdidas... [pela] Ilha dos Amores". Que "perder" possui um florilégio de sentidos.
Beijinho

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

pois possui...
como o mar das praias da costa de Sintra...correntes em tantos sentidos...

vénia

Rebaptizada.

Perdão: rebatizada. Muito mais elegante.

Anónimo disse...

De louvar a chamada de atenção da Musa/Ninfa para este golpe inominável à Língua Pátria!
Nunca serei capaz de escrever"batismo"(outras mutilações farei,mas tratar-se-á de erros ortográficos,mesmo :) )

Je maintiendrai disse...

Um belo poema e uma bela fantasia!

O Réprobo disse...

E retribuída, Insigne Terpsichore!

O Réprobo disse...

Querida Ceistina,
uma clássica é o fato como facto, até porque o vocábulo para a vestimenta no Brasil é "terno", o que por sua vez, para nós será o que Eles crismam de "carinhoso".
Toda a ternura, sem panos nem lnhas, por conseguinte.
Beijo

O Réprobo disse...

Meu Caro JM,
tentei encontrar algo que não deslustrasse a beleza da Ilha. E consegui outra Vitória - o Seu regresso ao comentarismo neste esquecido canto.
Abraço