sábado, 7 de julho de 2007

Tresleituras

Com uma indulgência que se aproxima do Ideal Evangélico de perdão das insuficiências alheias, o Meu Amigo João Távora joga-me a bola numa destas simpáticas correntes, a propósito de tema que não consigo passar em branco. Pergunta-me quais os últimos cinco livros que li. Quem me conhece sabe que sou um leitor caótico, que se atira sem faca ou garfo a quase tudo o que tem à mão, desde que veja algum interesse. E, para mal dos meus muitos pecados, vejo interesse em coisas inimagináveis. Sempre achei que algo sobre o que não haja sido escrito um livro é tópico de importância nula. Mas manda a Prudência que se não conceda importância a tudo aquilo a que foram consagrados volumes. Como o critério é o da acidentalidade cronológica, não me sendo pedidas grandes sugestões caucionantes, sinto-me à vontade para abrir esta confissão sob a forma de mensagem, como a linguagem do suporte agora impinge. Vamos a isso!
Uma infirmação da imagem amoralista que Wilde tem, muito por via de dandismos e fio condutor blagueur que adoptou. O Socialismo, aqui, vem como via de realização do individualismo em face da revolta que a miséria desperta por... inestética. Claro que não se trata do Socialismo que se tornou conhecido na História, como rolo compressor da individualidade, mas de um sonho de usar toda a produção da Colectividade para eliminar a escassez de que sofre parte dela, acreditando, antes das descobertas das gradações da Utilidade Marginal, que, assim, a felicidade seria transversalmente assegurada.
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Este deixou-me algum amargor indigesto. trata-se de tentativa de explicação de aitudes públicas por peripécias biográficas com a habitual arbitrariedade do entretecimento de Psicanálises no terreno da História. Há algumas menções deste período do começo da decadência Grega que ainda quero confirmar noutras fontes, mas, para já, sinto alguma insatisfação lendo um exercício tão fanático de destruição da imagem de Magnitude.
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Uma impagável revisitação de referências que todos, mais ou menos, partilhamos, numa perspectiva em que a ironia perante as conformações dos meios culturais que tentam padronizar é uma constante. Tenho, porém, a objectar quanto à dedicatória, que reza assim:
Dedicado a Anne Conrad-Antoville, primeira-violoncelo da Orquestra Sinfónica Eureka (Califórnia), que preferiu a compaixão à cultura ao demitir-se do seu cargo para não ter de tocar Pedro e o Lobo, obra orquestral que ensina os nossos pré-adultos a recearem e desprezarem os lobos e outros predadores selvagens. O texto estaria perfeito, na eventualidade de se não ver nele uma peça humorística, pois a atitude descrita não é da tipologia das cumplicidades dos que se tranquilizam com uniformizações discursivas em que pouco arriscam e querem impor, antes é da linhagem das renúncias que apenas ao próprio respeitam, precedidas pelo Exemplo único do transbordante e universal Amor de São Francisco de Assis.
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Esta foi uma releitura de volume importantíssimo, consagrado a um dos Autores que tenho na bagagem para a tal ilha tranquila. É referido por todo o cão, gato, cobra ou papagaio que estuda Eça, mas muitos dos seus capítulos, fulcrais para o estudo do Homem e do Tempo, não vêem reproduzidas as respectivas informações nos trabalhos posteriores. Tem para nós o adicional acicate de acrescentar um ponto à colecção de fantasias impingidas como verdades por Teófilo Braga, de que um Amigo Comum anda a fazer colecção.
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Temendo que o contributo conceptual do Ministro Lino tenha mais Futuro do que o seu projectismo de grandes Obras de Estado, fui seduzido pelo título destas memórias de um administrador do Sudão no período de presença inglesa. É curioso seguir o trajecto da pacificação destas imensidões, num período em que o pano de fundo era o das rivalidades coloniais, surgindo em revista, diante dos nossos olhos, regiões como Darfour, hoje familiares pelos flagelos da fome e do extermínio.
E devo dizer que estou ávido por cuscar o que andam a ler

a T

o F.Santos

o BOS

o Gazeteiro

o JSM


Peço, por conseguinte, a Cada Um que dê cá mais Cinco. Livros e Bloguistas.

12 comentários:

Flávio Santos disse...

Meu caro, bloguistas não, pois já desisti de estender correntes.
Quanto a mim, outrora leitor metódico, tornei-me um anarca da leitura, começando um volume, interrompendo outro, retomando o primeiro, pegando num terceiro...
Aqui vai a lista recente:
"Eurico o Presbítero", de Alexandre Herculano; "Giulio Cesare", de Martin Jenhne; "José Antonio, entre odio y amor", de Arnaud Imatz; "Jeunesse Imortelle", de Julien Green - já leste? - e a BD "O Refúgio de Kolstov", de Ceppi.
Um abraço.

Gazeta da Restauração disse...

Logo que tenha tempo, meu caro amigo.

abraço

T disse...

Respondido está.
Um beijinho

O Réprobo disse...

Meu Caro F.Santos,
não, apesar de ser bastante Greenesco. Mas o Homem tem uma bibliografia interminável! Entretanto, o que tem por tema José António também evidencia um ar magnífico!
Abraço grato pela partilha.

O Réprobo disse...

Caríssimo Gazeteiro,
sou dos que sabem esperar. Força!
Abraço

O Réprobo disse...

Querida T,
voo para os Dias que o fazem melhor.
Beijinho

Flávio Santos disse...

«não, apesar de ser bastante Greenesco» - eu suspeitava, daí a interrogação... Mas para mim esse livro foi a minha première de Green; fiquei cliente... Trata-se de um olhar fascinante sobre dois homens de letras (e não só) ingleses: John Donne e Samuel Taylor Coleridge. O livro saíu no ano da morte de Green, 1998.
Quanto à biografia de José Antonio, é de facto um marco, procura analisar a sua carreira sem os preconceitos habituais de esquerda ou direita.
Um abração.

O Réprobo disse...

Deixas-me a salivar, ehehehehehe.
Outro

Gazeta da Restauração disse...

já lá está

ab.

O Réprobo disse...

Vou já para lá. A «Gazeta...» continua a dar grandes notícias, está visto.
Abraço

JSM disse...

Caro Réprobo
Só agora tomei conhecimento do repto e respondo no meu espaço uma vez que este postal terá menos visibilidade.

O Réprobo disse...

Corro para lá, Meu Caro JSM.
Abraço, grato pela correspondência.