terça-feira, 10 de julho de 2007

Intimidade Desvelada

Dia do mês em que nasceu Proust. Sobre ele já falei, noutro tempo e lugar. Homenageá-lo? Talvez, a coincidir com o dia, respondendo ao (segundo) questionário a que ele se submeteu. As respostas a azul são do Autor da «Recherche». O que quer dizer muito, se virem o que contesto em sede de cromatismo preferido. Eu respondo a vermelho, como é próprio dos malditos.
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Qual a sua característica mais vincada?
A obsessão de ser amado, ou para ser mais preciso, acariciado e estragado, mais do que ser admirado.
A curiosidade canalizada para o que julgo invulgar.

A qualidade que mais gosta num homem?
O charme feminino.
A lealdade

A qualidade que mais gosta numa Mulher?
Virtudes de homem e franqueza na amizade.
A lealdade, acrescida da Melancolia sem truques; e criativa, ou inspiradora.

O que valoriza mais nos Amigos?
A ternura - desde que eles possuam o charme físico que os torne merecedores de a terem.
O gosto.

Qual é o seu principal defeito?
Falta de entendimento, fraqueza de vontade.
A preguiça.
Muitas vezes é ditada ou agravada pela desconfiança.

Qual a sua ocupação preferida?
Amar.
Ler, acariciando um gato com a mão que não segura o livro. Quer dizer, amar duplamente.

Qual é o seu sonho que corporiza a felicidade?
Não, creio, algo muito elevado. Eu realmente não tenho a coragem de dizer qual é e, se tivesse, provavelmente destruí-lo-ia pelo mero facto de o pôr em palavras.
Possuir o livro onde fosse possível ler todos os que me interessam.

Qual seria para si o maior dos infortúnios?
Não ter conhecido a minha mãe ou a minha avó.
Ser condenado a gostar de mim.

O que gostaria de ser?
Eu próprio - como aqueles que admiro gostariam que eu fosse.
Incapaz de magoar os que estimo, coisa que toda a vida me pareceu inalcançável.

Em que país gostaria de viver?
Num em que certas coisas que quero se realizassem - e onde os sentimentos de ternura fossem sempre recíprocos.
Como pose, metade do ano em Inglaterra, a outra em Itália. Duvido da possibilidade de aguentar em cada um mais de trinta dias, por estar longe de Portugal.

Qual é a sua cor favorita?
A beleza não reside nas cores, mas na sua harmonia.
O Azul .

Qual é a sua flor favorita?
A Sua. Mas para lá disso, todas.
A túlipa.

Qual é a sua ave favorita?
A andorinha.
O pisco de peito ruivo, porque se comporta como um aristocrata, sem se anunciar como tal.

Quem são os seus escritores de prosa favoritos?
No momento, Anatole France e Perre Loti.
Conrad, Chesterton, Eça, Musil, Sinclair Lewis, Dostoievski, Ernst Jünger.

Quem são os seus poetas favoritos?
Baudelaire e Alfred de Vigny.
T.S.Eliot, Camilo Pessanha, W. B. Yeats, Rilke.

Quem é o seu herói de ficção favorito?
Hamlet
Athos ( de «Os Três Mosqueteiros). Não digo James Bond, porque o vejo como uma tentativa pálida de mim.

Quem é a sua heroína de ficção favorita?
Fedra (riscado) Berenice.
Joana D´Arc. Digo bem, da ficção, porque a real é mais sombria. Perdoem todos o que esperavam a O da história homónima.

Quais os seus compositores preferidos?
Beethoven, Wagner, Schumann.
Bach, Beethoven, Sibelius, apesar de o Concerto para Piano nº21 de Mozart ser a minha música.

Quais os seus pintores favoritos?
Leonardo da Vinci, Rembrandt.
Leonardo, Giovanni Belini, Mantegna, Velázquez.

Quem são os seus heróis na vida real?
Monsieur Darlu, Monsieur Boutroux (professores).
Coronel Lucena Gaia (Professor de Matemática), Ernst Jünger, Martim de Freitas, Metternich.

Quais as suas heroínas preferidas na História?
Cleópatra.
A Rainha Santa Isabel.

Quais os seus nomes favoritos?
Só tenho um de cada vez.
Leonor, Isabel; Miguel, Jorge

De que é que gosta menos?
Das minhas piores qualidades.
Da traição.

Que figuras históricas mais despreza?
Eu não sou suficientemente educado para o dizer.
Eu julgo-me suficientemente educado para não o dizer.

Que evento na História Militar mais admira?
O meu próprio alistamento como voluntário.
A Batalha das Termópilas, pelo conjunto. A Carga da Brigada Ligeira, pelo desesperado e desesperante cumprimento do dever.

Que reforma mais admira?
Não respondeu.
A que não implicasse descontos.

Que dom natural você gostaria mais de possuir?
Força de vontade e charme irresistível.
Como possuo em abundância esses dois, ter boa voz para cantar e saber fazê-lo.

Como gostaria de morrer?
Um homem melhor do que sou, muito amado.
Sem causar desgosto a Humanos ou melhores animais.

Qual é o seu presente estado de espírito?
Enfado por ter tido de pensar tanto em mim para responder a estas questões.
Incerteza sobre se alguém terá paciência para ler isto até ao fim.

Para que faltas é mais indulgente?
Para as que compreendo.
Para a vaidade, desde que não encerre o propósito de ferir o Outro.

Qual é o seu lema (motto)?
Não o direi, tenho medo que me traga infelicidade.
Quando não é preciso mudar é preciso não mudar (Bourget).

18 comentários:

Anónimo disse...

"... se alguém terá paciência para ler isto..."
Como não haveríamos de a ter, nós admiradores da sua escrita, vindo as respostas de Quem vêm?
E depois, Paulo, nelas está a sua alma (quase, quase) inteiramente exposta, o que é admirável em qualquer ser humano e muito mais sabendo que se está a ser lido por uma multidão de desconhecidos. Mas disto está consciente, não é assim?
Por mais que não fora e mais há, felicita-o sobremaneira outro ser humano que tenta imprimir nas palavras que escreve a total transparência da alma que as transporta. Mas isto também o sabe perfeitamente, não é verdade?
Maria

Anónimo disse...

Olá Réprobo

Lê-se até ao fim com duplo interesse.
Gosto de Proust, e aprecio, também, o seu lado feminino, por isso achar que, como diz, as respostas dizem muito.
As suas também dizem.
Piscos de papo ruivo, existem aqui no meu jardim, e são realmente aristocratas.

Anónimo disse...

Li, reli e gostei muito de ambas as respostas.
Carla

O Réprobo disse...

Obrigadíssimo, Querida Maria, tentei, com efeito, não adulterar demasiado o que creio conhecer de mim. No resto, o mérito é do Marcel, limitei-me a pegar no jogo dele e a adaptar às nossas diferenças. E nota muitíssimo bem, as respostas dele correspondem a uma sensibilidade apurada, com aspectos que estamos mais habituados a encontrar na parte Feminina da Humanidade.
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Marta,
grato, gratíssimo. Quanto aos piscos, tenho por eles uma admiração extraordinária. O próprio voo é distintivo e distinto na sua caracterítica particularidade. E recusam-se a comer as migalhas junto com a pardalada, que, no entanto, nunca lhes vi fazer mal. Preferem esperar que a varanda vague e voltar em momento menos concorrido, ainda que o repasto seja mais pobre. Para além de não incorrerem em algazarra, característica de outros amigos alados...
Beijinho

O Réprobo disse...

Amabilíssima Carla,
são julgamenos destes que nos incitam a continuar, desfazendo dúvidas.
Beijinho grato

zazie disse...

Ai este lema, Paulo, este lema vou-to roubar para postar no Cocanha.

E nem tinha visto o retrato ali ao lado. Uauuu! que gravata, que botões de punho, que estilo

ehehehe

Beijoca. Estás lindo e só podias ser um Príncipe

T disse...

"Amar duplamente". Subscrevo a ideia.
A ideia do questionário é conhecer melhor a pessoa que a ele responde. No seu caso coincide com a imagem de pessoa leal, criativa e inteligente, que eu aprendi a conhecer aqui nos blogues, e a quem prezo muito.
Um beijinho.

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Tulipas???
Oh excelentíssimo Réprobo, que mau gosto!

Anónimo disse...

Óptimo lema,Paulo.Não conhecia.
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Zazie,
à vontade, You are my Guest.
Diz bem dos atavios, diz, que o manequim que os suporta está um verdadeiro caco.
Beijoca

O Réprobo disse...

Obrigado, Querida T,
não mereço essa confiança na imagem que tentei impingir, mas fico envaidecido (cá vamos) por ter conseguido vender um produto tão imprestável como a minha pessoa.
Claro que fazer de Bernard Pivot e entrevistado ao mesmo tempo permite respostas mais direitinhas.
Beijinho, deliciado com os elogios

O Réprobo disse...

Divina Terpsichore,
atenção ao simbolismo, as vezes uma tulipa é mais do que uma... tulipa.
E a forma do coração anda tão mal cotada?
Beijo

O Réprobo disse...

Qerida Cristina,
Paul Bourget teve a sua época, mas a crítica e o trabalho de psicóloo social dele ainda se lê bem. A ficção é que é demasiado cativa dos vestidos e desmaios das Damas, como dos jaquetões e fumo dos cavalheiros...
Beijo

zazie disse...

Um verdadeiro caco
ahaha que disparate. Eu só não referi o resto porque sou púdica

":O)))

O Réprobo disse...

Ai, Amiga! Isto é que é bálsamo para os meus ouvidos!!!!
Bjk.

Ricardo António Alves disse...

um lema que era também do Alberto Marciano... Ab.

O Réprobo disse...

O Sr. Embaixador sabia-a toda.
ab.