domingo, 1 de julho de 2007

A Diferença

Não se percebe a perturbação que as manobras e artimanhas do Ministro da Saúde activaram em correligionários, se descontarmos os limites que a tolerância da partidite aguda impõem a qualquer homem de bem. É que afastar sem escrúpulos os adversários integrantes de facções que disputam o Poder é a própria essência desta Democracia. O Grande Florentino, de cujas obras reproduzo um cativante exemplar que me gabo de possuir, descreveu o melhor processo de chegar ao Poder e de o conservar na realidade disputante que tinha diante dos olhos. Outro caso com Pedro de Rivadeneyra, o qual, escrevendo numa Monarquia Hereditária e não em Repúblicas reféns de famílias e cumplicidades que disputavam a primazia, teve a possibilidade de, no «Tratado do Príncipe Cristão», considerar como essência Do que governa a Justiça e a renúncia à mentira, justamente por desnecessárias a quem por legitimidade é incumbido de reger; e porque incompatíveis com essa Condição. Fica a habilidade - que em Maquiavel era acesso - circunscrita à "Prudência" que preserve dos inimigos próximos que pretendam jogar com a própria sucessão. É a oposição essencial entre a luta para se apoderar do mando e a aceitação da investidura prevista e regulada dele, sem vencedores ou vencidos mobilizados por entre o conjunto da Comunidade. O que se evidencia noutro ponto, quando chama "seita satânica" aos políticos e os considera indignos do nome, que remeteria para dignidade neles idealmente impensável de condutores da Polis. Como é visível, não se trata do hipermaquiavelismo de apregoar o contrário do que se pratica para suscitar adesões, como mentes deformadas pela pimenteana definição de "guerra civil em estado latente" quiseram, mas sim a contemplação de um caminho oposto e tão real como Real: o da obtenção da Autoridade por herança, à priori pacífica, que não por triunfo de alternativa sempre inclinado a manter o fogo sobre o que se venceu.

2 comentários:

Mário Casa Nova Martins disse...

Excelente Texto.
Mas, que Livraria a Vossa, Maquiavel no original!

Cumprimentos.
M

O Réprobo disse...

Obrigadíssimo, Mário Amigo. Prezo, realmente, esta maquiavélica edição, que julgo bastante estimada no meio da Bbliofilia. Mas claro que o recheio é o importante e pode ser achado em qualquer edição de bolso.
Abraço