domingo, 1 de julho de 2007

Di Hard

O mais detestável que a Inglaterra tem é parte da sua imprensa. No dia em que se homenageia Diana de Gales, há que pensar nas mil e uma formas infelizes de explorar o Filão que os mexeriqueiros publicados não querem largar, mesmo depois de exaurida a Mina. Sabe-se que antigamente os contos de fadas terminavam com o casamento, os meninos e a felicidade eterna subsequentes. Mas isso eram tempos em que o fracasso matrimonial não estava institucionalizado, em classes que outrora viviam na Família e hoje sobrevivem para a carreira. Claro que apelar ao não-premeditado mas inelutável deleite de seguir dificuldades conjugais no Modelo que não era suposto vivê-las era insuperável tentação para quem se vende à custa do sensacional, mas desculpável por a vida da Realeza não poder nem dever, desde sempre, ser privada. Por não ter o profissionalismo que Lhe permitisse suportar esta cortante verdade a Lady Di dos nossos sonhos votou-se ao insucesso, exactamente como, em palavras mais contidas, reconheceu o Irmão, no elogio fúnebre.
Hoje, entretanto, perspectiva-se a franquia de um degrau que a direiteza não deveria consentir. O propósito de exibir, contra a vontade dos Filhos, o corpo acidentado que foi objecto de tanta promoção e idolatria já não tem a desculpa de ir ao encontro dos gostos do Povo, entrincheira-se sim na ideia de arrastá-los para morbidismos que rebaixam. Sorver a infelicidade deve ter limites e traduzir-se em elipses necessárias à nossa dignidade, a que não dispensa o respeito.

10 comentários:

Anónimo disse...

Fujo a sete pés da exploração desavergonhada, e desapiedada, feita à volta dos sentimentos de cada qual,e que também no nosso País tem encontrado solo propício.
Mas se é certo que a realeza tem,naturalmente,uma vida pública,pede-se-lhe que preserve ao máximo o que ela tem de Privado,sob pena de perder toda a autoridade moral quando,porque já não lhe serve tal exposição,exige a discrição.
Neste particular,encontro como exemplar a Família Real de Espanha.
Beijo

O Réprobo disse...

Pois é, Cristina, mas em Espanha as revistas de bisbilhotices têm uma fama de respeitadoras que é o inverso da dos tablóides britânicos...
Beijo

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

....pois,mas em Espanha a familia real também se faz respeitar.
Claro que o facto de Diana não ter atitudes de rainha,não iliba os actos reprováveis da imprensa...
Diria mesmo que estarão bem uns para os outros...
JLM

JSM disse...

Caríssimo Réprobo
Em primeiro lugar aproveito esta rara saída do meu refúgio para lhe dar os parabéns pela forma como construíu (mais uma vez) um espaço de leitura (escrita, visual e sonora), e debate, com tanto interesse e qualidade. Está ao alcance de poucos.
Sobre a 'nossa' princesa, e sem culpa da própria, continua a irritar-me a vassalagem generalizada que continuamos a manter em relação ao nosso velho aliado. Ou 'pérfida Albion' como também já lhe ouvi chamar! Não se discutem os méritos filantrópicos de Diana de Inglaterra mas todo este aparato à volta de uma espécie de 'beatificação' acho francamente lamentável. No programa que a RTP transmitiu, com a inefável colaboração de Maria Elisa (transbordante de entusiasmo e genuflexão) de parelha com o eterno Júlio Isidro, confirmei tudo aquilo que penso acerca deste provincianismo sem província: simplemente ridículo. Isidro, aliás, não descansou enquanto não disse a frase fatal, atribuída à homenageada: ' não quero ser rainha de Inglaterra, mas apenas rainha do povo'! Se não foi assim foi qualquer coisa de semelhante. Claro que era preciso explicar ao 'Isidrio' que só pode dizer uma frase dessas quem conseguiu casar com um princípe herdeiro do trono de Inglaterra.
Comentário longo!
Um abraço.

O Réprobo disse...

Querida Júlia,
Sem dúvida, não temos notícia, Aqui ao Lado, do cortejo de infidelidades e mediocridadezinhas relacionais que a Princesa protagonizou, mas, antes, sofreu, não esqueçamos. Nisto tudo lamento é a Pobre Rainha, Símbolo do Dever e da Rectidão, tendo de suportar um fim de vida horribilis, quase tanto como o célebre ano; e a vampirização da infelicidade que acabou por matar Diana.
Beijinho

O Réprobo disse...

Oh, Caríssimo JSM,
as qualidades que este espaço tanha devem-se exclusivamente a Visitas como a Sua, pois se continuo o mesmo, ainda não recuperei a alegria de blogar de outras eras. Obrigado pela indulgência.
Os jornalistas? Pois, tentam limpar-se. Para além de terem amplificado as dificuldades conjugais, o que ainda poderiam defender ser a respectiva missão, pese a indesculpablidade do tom, não esqueçamos que foi a tentativa final de a fotografar no carro fatal de Paris que acabou por, material embora involuntariamente, matá-la. E depois, a tentativa de mobilizar a memória, aquando das exéquias, levados pelos cheques republicanos do Sr. Murdoch, contra a Família Real, que tentaram fazer passar por "maus da fita"...
Por muitos erros que tenha cometido, Blair, aí portou-se como o bom rapazinho que de facto o julgo; e resolveu a questão. Claro que é diferente de ser estadista, mas há muitos de que nem se pode dizer tanto.
Abraço

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

A respeito de Diana: o que vale é que tudo o que está enterrado virá ao de cima. Disse-o Ele, embora melhor que eu, já se vê.

Admira-me sempre o ignorar de tanto que para outro olhar, é mais óbvio.

Caro Réprobo, se parasse, muita muita falta faria. Assim, espero que algo o faça recuperar depressa o tal prazer, ou razões!...

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Talvez seja conveniente referir que o meu dizeer a respeito da Princesa nada tem a ver com o que se passe nas notícias de televisão, etc.

O Réprobo disse...

Querida Terpsichore,
não tenciono parar. Já o fiz uma vez, neste ano, devido a uma cascata de desgostos que Quem me seguia na identidade anterior conhece. Mas, comparativamente, sinto que não retomei ainda a espontaneidade e satisfação desses tempos.
Quanto a Diana, tento não enveredar pelo uso Dela para dividir, nem alinhando pelos que gostam, como também não pelos que detestam. Penso que a curta vida que teve, com os píncaros e quedas abissais que sabemos, deve unir todos no respeito pelo que conseguiu de exemplar e fazer-nos combater causas e comportamentos do que mal correu, comuns a tantos casais desintegrados sem exposição ou exigência comparáveis.
Beijinho

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

''deve unir todos no respeito pelo que conseguiu de exemplar e fazer-nos combater causas e comportamentos do que mal correu''
Grandes palavras.

''Não ter atitudes de Raínha''...pfff