segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Contraponto

Os caprichos do Tempo são assim: uma a seguir à outra, deixaram este Mundo as duas vozes mais notoriamente alevantadas contra os prémios literários, depois de Gracq, Luiz Pacheco. Sempre achei que era uma peleja escusada, acerca de um assunto sem importância. Nunca a atribuição de um prémio me decidiu a ler qualquer livro, ou, pelo contrário, a deixar de fazê-lo. E não discuto concessões dessas, ou quaisquer outras recompensas, mesmo a contemplados de que desgoste. Fazê-lo seria, paradoxalmente, deixar-se prender demasiado ao mundo que se diz rejeitar. Foi esta uma das contradições insanáveis do Autor agora falecido, com um talento mais forçado pelas leituras do que espontâneo, o que em nada diminui, no conceito de quem ponha muito alto o amor aos livros. Às pequenas misérias se prendeu, ao fazer da maledicência assente nos conhecimentos que coleccionara o prato forte da recordação maior que deixará, para além da actividade editorial: as entrevistas. Um panfleto como o do «Sonâmbulo Chupista» soa demasiado tautológico, por a denúncia de plagiato nobilitada por publicação autónoma não fazer mais do que reafirmar o que é evidente à primeira olhadela - a incomensurável superioridade como escritor de V. Ferreira sobre Namora.
E nessas conversas em que largou aquilo que o tornou mais visível, a marginalidade que tentou encarnar, negava-se, na própria concessão das declarações, agravada pela prisão no personagem que se criou. Dir-se-á que todos, mais, ou menos. Mas não está assim tão universalizada a proclamação invariável da contestação das amarras sociais.
Dessas grilhetas auto-impostas só a morte o libertaria. Foi ontem. Dito isto, tenho de deixar claro que continuo a lê-lo, o que não faço a escritas que não me interessem. E esta não é pequena forma de sentir pesar.
...............................................................-2008

6 comentários:

T disse...

Gostei deste postal:)
Bj

O Réprobo disse...

É o melhor dos encorajamentos.
Bj.

Capitão-Mor disse...

Partilho da vénia!

O Réprobo disse...

A Generosidade do Amigo Capitão-Mor é indescritível. Levo-a à conta dos méritos do Desaparecido.
Abraço

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

"Dessas grilhetas auto-impostas só a morte o libertaria."

é verdade...só a morte o libertou. Gosto tanto quando o Paulo fala a sério como quando brinca.

beijo por este post

O Réprobo disse...

Querida Júlia, para merecer o prémio, vou tentar fazer muitos iguais a este.
Há horas para tudo. No caso tentei exprimir a tristeza de ver abandonar-nos um Autor que respeitava, sem as adesões sentimentais de muitos admiradores.
Beijinho