terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Olhos Na Cara?

Dia em que aniversariava Francis Picabia, o ideal para publicar a obra que mais lhe prezo, Os Seios, sem que seja (ou seja apenas) pela perversão que tomou o nome de Parcialismo. O que os historiadores e curiosos da Arte tomam como uma boutade, o entendimento de que o público precisa de ser violado nas posições menos comuns, é toda uma teoria estética, a tradução, em linguagem do Século XX, do épater le bourgeois baudelaireano.
Os presupostos são diferentes dos da ortodoxia Surrealista que também avizinhou, apesar da vacina, sob confessada forma de contrafogo de Dada. Nesta pintura nada está por acaso ou arrepio da lógica. Peitos transformados em olhos melancólicos no corpo rodeado pelas fatalidades de signos que excluem, como o X, ou debilitam, à maneira da ampulheta; são, contudo, o radar da Mulher para a vida externa que A contagia, como o sinal luminoso da que gera. Ao lado, caídos, outros, desta feita assemelhados a arregaladíssimos globos oculares, metáfora de todas as espreitadelas do Mundo. E, poucas vezes notada, aquela vista que encima a máscara, em pose de lâmpada, desmente, pela remoção daquela, o brilhantismo da ideia de disfarçar a obediência aos sentidos...
Homem de muitos ofícios, também Poeta, dedicou aos amigos os longos versos de «Pensées Sans Langage», deixando claro que aos que se atrevessem a pensá-los Langage sans Pensée sugeriria a visita perigosa ao Jardim Zoológico. O que, apesar das aparências, é a frase menos surreal que se pode conceber. E endossou-os em nome das sympathies electives, coisa que não pode deixar de ser bem vista nesta casa...

2 comentários:

Anónimo disse...

S. No entanto o pintor tem obras muito diferentes. Estava a pensar na Elegante por exemplo.

O Réprobo disse...

É também essa capacidade de se não prender às escolas frequentadas que atrai no personagem, Caro Rudolfo.
Ab.