terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Essa Lancinante Dor da Saudade

Ausência de Dan MillerPor que será que no Amor com Objecto actual as horas certas de experimentá-lo são desaconselháveis e o mesmo se não passa com o sentimento dirigido ao Passado? A resposta estará em preferirmos a amplificação do afecto que destrua qualquer estado latente, de forma mais aguda, em dias significativos, por nos prescrevermos inconscientemente essa vacina contra o abatimento que cubra todas as demais etapas do ano. É ilusão, mas alicerçada na psicologia de algibeira que reconhece ser menos destruidora a insuportabilidade de umas horas do que a persistência dos males crónicos. Porém, a Memória é adversário de monta nesta conveniente compartimentação...
De João Paulo Freire (Mário):

DOLOR DOLORIS

«Saudade, gôsto amargo» disse alguem,
porque o sentiu bem fundo na alma triste;
ai como eu sei agora que ella existe,
- que só lhe sabe o gôsto quem a tem!

Entra no coração e vai minando,
e toda a nossa vida se desfaz,
porque o fel da saudade só lhe apraz
ir pouco a pouco a vida envenenando.

É lágrima continua e doentia,
triaga que se bebe sem vontade,
sombra que se approxima e se desvia...

É dôr que não tem fim nem quantidade,
e quanto mais se afasta mais porfia...
Que não ha dôr maior do que a Saudade!

14 comentários:

T disse...

Um grande beijinho meu querido Paulo

Anónimo disse...

Será porque o facto de nos espraiarmos numa dor antiga, e por isso, atenuada pelo tempo e vista com benevolência, nos torna incólumes face a uma dor actual, e por isso muito mais ameaçadora?
Beijo

(acho que estou a repeti-lo, mas olhe... :) )

Anónimo disse...

Beijinho à T,que só agora vi porque tinha a caixa de comentários aberta há algum tempo, mas havia sempre alguma coisa a chamar-me :)

Anónimo disse...

Estupendo PCunhaP

Para Alem do Horizonte
De todos os horizontes

um pema particularmente belo.

T disse...

Beijinho Cristina:)

O Réprobo disse...

E outro, T Mia.
Bj.

O Réprobo disse...

Não repete nada, Cristina, a minha indagação era com a causa e efeito dispostos de forma a equacionar a hipótese de uma dor passada, mas não ultrapassada, nas suas manifestações recorrentes, poder desempenhar o papel da atenuação da ininterruptibilidade.
Beijo

O Réprobo disse...

Obrigado, Ana.
O J. P. F. tinha picos muito bons, numa obra desigual. Este parece-me um deles.

Para além, pois.

Capitão-Mor disse...

Calculo a presença deste poema deste dia. Como sabe, acho que consigo entendê-lo e encarná-lo da mesma forma.
Abraço!

O Réprobo disse...

Bem o sei, Meu Solidário Amigo. Não foi o dia di Fim, mas o do começo dele, numa data que, normalmente, seria festiva.
Ab.

Anónimo disse...

Paulo, estive a reler o que escrevi e acho que errei rotundamente ao empregar o termo "incólume", como se isso fosse alguma vez possível...; menos atingíveis, no máximo dos máximos: a tal atenuação de que fala.
Beijo

O Réprobo disse...

É como vejo.
Um beijo grande Cristina.

Anónimo disse...

Um grande abraço
T

O Réprobo disse...

E outro para Ti, Meu Caro TSantos.