quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Do Drama Ao Enjoo

O Suicida

Dia do aniversário de Manet. Converge um dos seus quadros mais poderosos com um estudo sueco, que me insatisfaz, para me fazer abordar o tema. Não vejo, pela condensação transmitida na Imprensa, que se posssa, de uma mera constatação estatística, tirar da presença ou não de uma substância química um padrão de probabilidades de suicúdios futuros, em função do peso ao nascer. Toda a minha observação diz que a principal causa suicidária radica na concepção que cada um faz de si, do que lhe falta, do que merece, do que teme. Cioran dizia que só um optimista se suicidaria, é o único que acredita ir desta para melhor. E não sei já quem tinha alertado para que se nem todos os motivos de suicídio são maus, há sempre coisas melhores para fazer... o que, em última análise, remete o acto fatal para um privilégio mais dos desocupados,
Quereria acrescentar uma nota sobre o tema na Pátria do Pintor: os Franceses são pródigos em reverter para os Ingleses tudo o que desconsideram. Mesmo coisas que lhes sáo geralmente atribuídas. A sífilis, conhecida em todo o lado como Mal Francês, é dada por eles como Mal Espanhol, pretendidamente trazida pelos companheiros de Colombo para Nápoles, pelo que igualmente lhe chamam Mal Napolitano. Toda a outra gente diz que sair sem se despedir é fazê-lo à francesa; mas lá estão eles a contrariar, dizendo que é à inglesa. Seria ainda mais ocioso que suicidar-se - e, em todo o caso, fazê-lo como escritor credível - tentar imputar aos habitantes da Albion a prática, no seu todo. Mas Etienne de Jouy não hesitou em dizer que a maior objecção contra o suicídio é que ele encontra frequentemente a fonte numa vil mania que nos vem de Inglaterra e que nós tomámos por moda, como os jockeys e os cavalos de cauda curta, as «Noites» de Young e spencers. Os ingleses matam-se para se desenfastiar. Deixemos-lhes esse passatempo que não convém ao nosso carácter nem ao nosso clima.
E, contudo, o delírio como prefácio acaba por ser truque expedito para transformar uma sentença moral de conclusão quase num dito de espírito:
o suicídio é frequentemente um crime, por vezes uma mania, raramente uma desculpa e quase sempre um erro de cálculo.

5 comentários:

Anónimo disse...

Olá Paulo.
Apetece falsear aquela frase dos bonecos de Udezo, e dizer "estes gauleses são malucos", embora pessoalmente só tenha queixa dos parisiences...
Beijo

Anónimo disse...

...parisienses.

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
é uma fragilidade muito engraçada, empurrar tudo o que é menos bom para lá da Mancha...
Mas claro queo Obélix, como bom aldeão irredutível, também diria outro tanto dos habitantes de Lutécia...
Beijo

Rodericus Ignatius XVII disse...

Ei, junte-se ao nosso grupo de discussão em português sobre Emil Cioran. O endereço é:

http://br.groups.yahoo.com/group/Planeta_Cioran/

Planeta_Cioran-subscribe@yahoogrupos.com.br

Saudações, Rodrigo Inácio

O Réprobo disse...

Meu Caro Rodrigo Inácio,
Terei todo o prazer em visitar-Vos, Cioran foi pensador muito importante para mim. Obrigadíssimo pelo convite.
Abraço