sexta-feira, 27 de junho de 2008

O Arrivismo Esquecido

Que coisa é o pedantismo? Quanto a mim, uma forma de iliteracia que perde o direito à solidariedade por se querer promover à custa da relegação do Próximo. Tenta exibir um conceito que não assimilou, embora julgue o contrário, para ascender a um meio que lhe vedara a entrada por outras vias. Dela faz parte o que Montaigne identificou, bagagens cheias de conhecimentos que não se sabe usar, como o consegue a Sabedoria; a ostentação dessa abundância, muitas vezes recente. E o emprego para se promover, excluindo outros, sem qualquer preocupação de propor um posicionamento em ordem Verdade ou Validade, apenas visando um peditório de consideração para o autor.
É, por isso, incompatível com a ironia e desperta rejeição consensual, porque o que quer mais do que tudo é ser levada a sério. Trata-se, portanto uma incompetência que se volta contra si própria, do que não estaria até livre este postal, caso visasse fazer algo pela imagem irrecuperável do autor.

Por isso Hiérocles de Alexandria entendeu plasmar uma octologia do pedantismo, com os seguintes exemplos,
o que, tendo-se quase afogado na primeira entrada no mar, jurou alto e bom som que não voltaria para dentro de água sem ter aprendido a nadar.
O que queria vender a casa e para tanto trazia com ele uma pedra, para servir de amostra.
Aquele, preocupado em saber o aspecto que tinha a dormir, que se postou frente ao espelho, de olhos fechados.
Um outro que, perguntado por um médico por que se escondia dele, respondeu não estar doente havia tanto tempo que se sentia envergonhado em aparecer-lhe.
Aquele que, surpreendido ao ver um conhecido, disse ter sido informado de que esse tinha morrido; e perante o desmentido vivo que ele fez, ripostou que o informador era pessoa de todo o crédito...
O objecto da revelação de que as gralhas viviam 200 anos, que comprou uma para se certificar.
O passageiro de um navio prestes a naufragar que, vendo os restantes agarrados a tábuas, abraçou uma âncora, porque maior, para não submergir.
O viajante em conjunto com um calvo e um barbeiro, a quem este, durante o sono, rapou a cabeça e que, por ele acordado para fazer o turno de vigia, achou, ao passar a mão pelo crânio, que o companheiro se tinha enganado e acordado o calvo.

Nesse sentido, gravar uma tatuagem como a da figura não quadrará no conceito? É que não é bem isto que se pretende quando se diz que a distinção entre presença e ausência de pedantismo é algo que está na pele de cada um...

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