Reconversão das Musas
Dia de Billy Wilder, a quem se devem tantas obras primas na Comédia, começando pelas que fez cm Lemmon, mas a quem prezo particularmente os filmes sérios. Já aqui falei de «O Crepúsculo dos Deuses», filme proibido de ser o da vida de alguém, mas que calha a ser o meu. E também de «Stalag 17», com as avaliações erróneas do carácter. Ainda conto um dia debruçar-me sobre «Pagos a Dobrar», com a nunca por demais enaltecida Stanwick e «The Big Carnival», muito na ordem do dia pelas práticas noticiosas das nossas televisões.
Hoje, contudo, prefiro dar-Vos este pequeno vídeo, com o aniversariante (mesmo que no Céu) mostrando algo que aflige qualquer um que crie, quotidianamente: os dias em que nada sai, alternando com os de jorro imparável. Com a diferença para os bloguistas de não terem por detrás produtoras exigentes, o que lhes agrava a responsabilidade que pareceria atenuada pela paralela inexistência de contratos milionários.
Mas ilustra-se com este pedacinho uma diferença essencial do Cinema para a Escrita, sobretudo a Poética. Nem tanto pela obrigação de ir debitando páginas regularmente, enquanto fazemos a imagem do versejador apenas limitada pelos sopros da Inspiração. Antes por encarcerar o Cinema na Sociedade, pois não só um filme depende de muito mais gente que Autor e Editor, como a relativa pouca idade da sua invenção o dispensa das escravizações e clivagens perante grandes do Passado que Harold Bloom imaginativamente escav(ac)ou. E também por o Público ser sempre mais aferido pela contemporaneidade do que pela genealogia, pois não há séculos e séculos de tradição a escrutinar e o videoclube de cada esquina opera aproximações mais miraculosas do que os empréstimos das bibliotecas públicas. Digamos ainda que, em matéria fílmica, as exigências imediatas de êxito da cinematografia fazem aparecer a da Posteridade como admiração bastante menos gloriosa do que a actual.
Além de que... podemos facilmente imaginar Deus fazendo um poema, sobretudo se estivermos dentro dele. Mas quem conseguirá harmonizar o Divino com a regie que conduz as câmaras?
4 comentários:
Em solidariedade com a Diva do Mudo, «O Crepúsculo» deixa-nos de boca aberta, sem fala...
Beijo, Paulo
Ah, a incomparável Gloria Swanson, não as herself, as próxima!
Outro, Cristina
Também gosto imenso do filme. Grandioso, com uma Gloria Swanson a fazer justiça ao seu nome.
Querida Ana,
e no meio de todas aquelas private jokes entre vedetas dp Mudo em retirada decadência (Keaton & C.ª) a Norma e o Max com Gloria e v. Stroheim, parecem gritar a todo o momento "não somos nós mas somos nós. Vêem? Também falamos. Falar é fácil e democrárico, Queria-se ver é quem tinha traços e expressão!".
Beijinho
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