Subtilizações
A 19 de Junho de 1867 Maximiliano da Áustria, que se acreditou Imperador do México, foi fuzilado em Quéretaro. Não importa aqui considerar a figura, uma mente perturbada pelo Liberalismo e por estar eternamente na sombra do Irmão, o Habsbutgo Soberano, como não interessará fazer agora uma diatribe contra o aventureirismo ditado por um Bonaparte com inveja do tio. Quero tão-só falar em uma das Fotografias do Século, a da camisa ensanguentada com as marcas das balas da execução. Por que terá esta tido muito mais êxito junto do público culto do que outras que o Autor, François Aubert, na altura, tirou, como a do corpo embalsamado ou a do local de execução em que se haviam erguido cruzes, à maneira de novo Golgota?
Será elipse ou mecanismo paralelo ao da pornografia? A primeira interpretação pode estribar-se na sonegação do corpo, apenas indirectamente referido pela peça de vestuário. O segundo ponto de vista teria por ele a proximidade da focagem, com o pormenor hard aqui encarnado no sangue, sem distracções de expressão ou atmosfera. Em rigor, o génio parece-me residir na conjunção dos dois: mais do que uns restos ensanguentados a que, desgraçadamente, as notícias nos habituam, o sangue separado do remanescente da extensão humana está muito mais apto a gravar-se impressionística e impressionantemente no nosso espírito. Até porque a remissão para os arquétipos faz-nos aproximar o branco da blusa ao do lençol de qualquer fantasma que se preze.
Será elipse ou mecanismo paralelo ao da pornografia? A primeira interpretação pode estribar-se na sonegação do corpo, apenas indirectamente referido pela peça de vestuário. O segundo ponto de vista teria por ele a proximidade da focagem, com o pormenor hard aqui encarnado no sangue, sem distracções de expressão ou atmosfera. Em rigor, o génio parece-me residir na conjunção dos dois: mais do que uns restos ensanguentados a que, desgraçadamente, as notícias nos habituam, o sangue separado do remanescente da extensão humana está muito mais apto a gravar-se impressionística e impressionantemente no nosso espírito. Até porque a remissão para os arquétipos faz-nos aproximar o branco da blusa ao do lençol de qualquer fantasma que se preze.
2 comentários:
Belíssima reflexão, Paulo.
Beijo
Obrigado, Querida Ana, penso que as grandes fotografias que deram brado na História da Arte merecem ser repensadas, para não caírem no esquecimento nem nos deixarem frios à sua influência.
Beijinho
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