domingo, 1 de junho de 2008

Os Espinhos do Verbo

O Orador de Ron GangJunho, se era consagrado à Mulher de Júpiter, foi dado pelos Romanos como presidido por Mercúrio, protector dos ladrões, das escritas sigilosas, de comércios vários e de outros enganos, quais a Eloquência. Pelo vazio a que o aparato retórico conduz, eliminando espírito crítico nos auditores, como adaptando, qual plasticina facilmente moldável o discursante às inclinações da assistência. Na evaporação de personalidades, que a embriaguês das palavras altissonantes favorece, podemos ver a vegetalização do Homem, transformado em sugador do deserto, como nos cactos da pintura. Ou concretização mimética do aspecto menos digno da animalidade, tal como visto pelo Bocage:

O MACACO DECLAMANDO

Um mono, vendo-se um dia
Entre brutal multidão,
Dizem que lhe deu na cabeça
Fazer uma pregação.

Creio que seria o thema
Indigno de se tratar;
Mas isso pouco importava,
Porque o ponto era gritar.

Teve mil vivas, mil palmas,
Proferindo á bocca cheia
Sentenças de quinze arrobas,
Palavras de legua e meia.

Isto acontece ao poeta,
Orador e outros que taes:
Nescios! o que entendem menos,
E´o que celebram mais.

9 comentários:

Cristina Ribeiro disse...

Apetece parafrasear Vasco Santana: - Palavrosos há muitos, "seu" macaco :)
Beijo

O Réprobo disse...

Isso, Querida Cristina! É muito melhor do que "seu macaco velho, palavras leva-as o vento", porque a Ana Vidal poderia não nos perdoar estarmos a revelar os açambarcamentos do amigo...
Beijo

Cristina Ribeiro disse...

Ai, ai, ai, ai, Paulo!
Não esteja a tomar a nuvem por Juno: há os eloquentes, porque têm o dom da palavra, e os macacos palavrosos- coisas bem distintas!
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
com o mês que começa e o Blogue que iniciou, essa da "Nuvem por Juno" dá mesmo para levar para a Malandragem...
Mas, se ler tudo o que eu escrevi, verá que o velho Hermes/Mercúrio não é rapaz de rigores na escolha dos patrocínios que dispensa, pelo que os palradores não devem constituir excepção.
Beijo

Cristina Ribeiro disse...

Rio-me com o trocadilho :)

Pois, o deus era danadinho para brincar com os humanos: dava uma no cravo e logo a seguir outra na ferradura:)

ana v. disse...

Mas o meu Vento dispensa açambarcamentos de macacos palavrosos, meu caro! As palavras que entram por esta porta são escolhidas a dedo e de superior qualidade. Já as que saem... enfim, essas não me compete classificar.

O Réprobo disse...

Era mesmo! E nem os colegas do Olimpo escapavam Querida Cristina. Se porventura usassem carteira, teriam de andar sempre com a mão na dita!
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Ana,
como já lá entraram minhas, pensei que o ventoso porteiro fosse, de quando em vez, sensível a macacadas...
Beijinho

ana v. disse...

LOL