sábado, 7 de junho de 2008

Véus Há Muitos!

Que está em jogo na futebolada de hoje entre os nossos e os turcos? Para os Tugas apenas a oportunidade de nos distrairmos de uma governação incompetente e que nada tem a ver com o Povo que deveria servir. Para o País adversário, muito mais, sendo a medida das grandes decisões, de aproximação ao Ocidente ou de, na prática, afastar-se dele.A crise desencadeada pela revogação das interdições dos véus nos estabelecimentos de ensino, a par das ameaças ao Presidente e Primeiro-Ministro de Ankara de os apear, por as respectivas Mulheres comparecerem com esse estilo de vestuário em cerimónias públicas, correspondem a um ataturkismo mais ataturkista do que o de Kemal Ataturk, pois este fizera a esposa apenas prescindir do paninho que tapasse o rosto, continuando ela a exibir-se com o cabelo coberto, que é o que a Magistratura tenta agora impedir.
É uma tentativa de a grande Nação do Mediterrâneo Oriental tentar rebelar-se contra o que identifica como medida do seu declínio: Quando a República foi implantada, culpava-se os derradeiros tempos do Império Otomano pela ininterrupta decadéncia nacional a que se chegara. Hoje, a caminho de um século republicano, vê-se o retorno a uma tradição então abolida como a identitária recuperação de uma autonomia que escape à subserviência.
Nessa medida, congelada a entrada na UE, a vitória futebolística poderia funcionar como tónico psicológico para os laicistas, mostrando trunfos num terreno dominado pelos Ocidentais, cuja proximidade ou não está em cima da mesa.
E para nós? Do lado de cá sempre se usou na linguagem popular o paradigma turco como espelho da força relativa do País. Até ao Século XVII, com a imagem do poderio de Solimão O Magnífico & Sucessores bem presente, louvava-se o vigor desusado dizendo que o possuidor dele era forte como um turco. A partir da derrota contra Sobieski, com maior difusão no século XIX, os medidores de força em todas as feiras ostentavam a cabeça de um natural daquelas terras, em que se aplicava uma marretada. Daí a expressão tête de turc, como sinonímica de alguém ou algo em que todos batem.
Para bem de Ronaldo & C.ª, esperemos que seja esta que se apresente hoje como apta a ilustrar o resultado.

5 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Ó IC, e quem é agora o homem doente da Europa?
Ab.

O Réprobo disse...

Olha, Caríssimo RAA,
longe de mim dar os nossos rivais de logo como livres de perigo, mas quer-me parecer que o Zé Povinho também não se anda a sentir lá muito bem!
Abraço

ana v. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ana v. disse...

Estive há poucos meses na Turquia, Paulo, e embora tenha gostado muito do que vi em Istambul, posso garantir-lhe que os turcos estão a anos-luz de cumprir as regras mínimas que lhes dêm acesso à entrada na União Europeia. E não falo só de questões religiosas ou políticas...
bjs

O Réprobo disse...

Querida Ana,
e esperemos que NUNCA venham a preencher essas condições. Não é o fim da UE que me atormenta, mas o perigo de ver submersos os restos da nossa Civilização.
Beijinho