À Lareira do Passado
O Dia da Família passou. Não o 15 de Maio do decreto das Nações fingidamente Unidas, mas sim o tempo do Exemplo e do esplendor. Tudo porque se deixou de considerar tenazmente o fulcro do empreendimento familiar como uma construção, a de uma fortaleza de protecção alargada que durasse séculos, para entendê-la como uma experiência reversível. Muitos ensaístas que estimo culparam disso o amor romântico que, invadindo as motivações do casamento, teria, com a brevidade característica, desalojado sentimentos mais duradouros como fundamento, acarretando as dissoluções fáceis. Não sei se é inteiramente assim. O ideal de casar, ter muitos meninos e ser feliz para sempre é antiquíssimo, e, com consagração literária, vem, pelo menos, de histórias medievas e tanto nas elites como nas classes populares. O que se passou foi a redução das finalidades - enquanto que, dantes, o objectivo era encontrado nos filhos, a transmissão da Honra e do nome nuns casos, a dos bens bens, no meio, a da possiilidade de uma vida menos difícil, no sopé, foi inicialmente substituído pela ideia de realização no emparelhamento de que a prole fosse mero brinde. E daí não se tardou a saltar para a de um jogo de si em que as satisfações puramente pessoais ocupassem a primazia.
Creio que tudo isto se deve ao ideal de Maio, o tal de 1968, que veio dar a concepção genérica de família como o Mal. Rapaziada nova em litígio com as aspirações dos pais sempre houve, o conflito de gerações é velho como o Mundo. Mas esse folclore estudantil parisiense insistiu em propiciar a ilusão de que podemos e devemos ser jovens toda a vida. E essas coisas pagam-se.
Deixo-Vos como motivo de reflexão um belo texto da Once In A While, sobre tantos casos em que não há desafogo ou détente para se estabelecer de si tão alto conceito. E que são mais sólidos do que muitos estragados pelos mimos, encontrando na própria afronta à sua dignidade - e à dos seus - a dignificação mais extrema, ao continuar e manter.
Que os Lares e Penates romanos que protegiam o reduto familiar e acompanham este post inspirem capacidades paralelas!
Creio que tudo isto se deve ao ideal de Maio, o tal de 1968, que veio dar a concepção genérica de família como o Mal. Rapaziada nova em litígio com as aspirações dos pais sempre houve, o conflito de gerações é velho como o Mundo. Mas esse folclore estudantil parisiense insistiu em propiciar a ilusão de que podemos e devemos ser jovens toda a vida. E essas coisas pagam-se.
Deixo-Vos como motivo de reflexão um belo texto da Once In A While, sobre tantos casos em que não há desafogo ou détente para se estabelecer de si tão alto conceito. E que são mais sólidos do que muitos estragados pelos mimos, encontrando na própria afronta à sua dignidade - e à dos seus - a dignificação mais extrema, ao continuar e manter.
Que os Lares e Penates romanos que protegiam o reduto familiar e acompanham este post inspirem capacidades paralelas!
13 comentários:
Depois deste texto, ler o de Once. obrigatório.
Beijo
Caro Paulo que imerecido destaque este perto da sua composição cheia de conhecimento e arte.
Obrigada. Gostei muito de ler
Nada imerecido, querida Once.
O seu post é muito belo :-)
Beijinho, caro Réprobo :-)
Caro Réprobo, subscrevo inteiramente a ideia de que a perda de sentido familiar está associada à ilusão de uma juventude eterna (e da viabilidade de um inesgotável estado de paixão). É a apologia da irresponsabilidade. O caso descrito (e muito bem) pela Once traz à baila o problema do alcoolismo e da violência doméstica… E aqui hesito. A minha fé na constância do casamento cede um pouco perante situações deste tipo.
Obrigatoríssimo, Querida Cristina, as minhas pobres linhas mais não pretendem ser que o anúncio dele.
Beijo
Querida Once,
Arte? Ah, sim, a das esculturas. Toda a força da escrita conexa ao tema está no magnífico naco de prosa com que nos presenteou. Mas ainda bem que a minha chamada de atenção escapou ao Seu desagrado.
Beijinho
Retribuído, Querida Fugidia! falou pouco e disse tudo.
Querida Luísa,
qual a fé que não cederia? Mas lá está, com todo o pavor (literalmente) associado, é em pessoas menos favorecidas pelas circunstâncias que surge a capacidade de tocar para a frente o barco a meter água, enquanto que meios mais privilegiados, provavelmente, caminhariam para a solução de problemática mais intensa mas menos continuada que é a ruptura.
E, como sabe, o alcoolismo é problema transversal...
Beijinho
E pronto, ao quarto post vejo-me quase reconciliada consigo... porque concordo com a sua reflexão, e porque a escolha do destaque foi primorosa.
Já vai sendo tempo de lhe deixar um beijinho.
Ai a Mão Mestra com que a Ana utiliza o "quase". Lembra-Se do poema? Quererá isso dizer que a reconciliação total será operada pela arraposada Megan(a) ali em baixo?
Bom, mas volto a afirmar que a fúria brotou de um equívoco!Beijinho
"As minhas pobres linhas"; sabe que modéstia a mais é pecado?
Beijo
Querida Cristina,
não me envergonho delas, mas a sério, só queria compor a propaganda do excelente postal da Once.
Beijo pecador
Ooops, mas como é que eu me despedi? Falava da modéstia, não me excomungue!
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