segunda-feira, 12 de maio de 2008

O Presente de Judas

Salto de Mark JustinianiTenho por ponto de honra não comentar a justiça ou injustiça da atribuição de prémios - como de condecorações, ou outras formas de distinção - por achar que ninguém tem à partida direito a elas, exprimindo meros sentimentos de quem os outorga. Ou seja, aquilo que Gracq lhes também lhes censurava, serem a válvula de escape de ódios e cumplicidades, não me perturba, pois é essa, a meu ver, a sua essência. Mais grave pareceria a crítica pelo mesmo Autor desenvolvida, assim como por Luiz Pacheco, de a promoção comercial associada restringir a liberdade criativa. Mas lá está, o meu pesssimismo enraizado leva-me a acreditar que a liberdade não é outra coisa do que a possibilidade de nos encaminharmos para esta ou aquela prisão. No fim de contas acho que escritores de categoria, ao gastarem-se no hipercriticismo dessas mediocridades humanas estão a dar ao assunto maior importância do que julgam. Se aquele não é o melhor bocado, devemos cingirmo-nos a não procurá-lo, pouco importa que outros o abocanhem.
Vem isto ao caso de Doris Lessing haver confessado ter perdido a verve, depois de laureada. Trata-se de caso diferente do das preocupações mais habituais, uma seca a posteriori, em vez de prévia. Lembrei-me deste quadro, em que o que se supõe ser um salto em frente causa a perda do balanço, com os livros a pagarem as favas. Mas, em última análise, aparece como uma boa desculpa, pois seria fácil não atender o telefone.
George Bernard Shaw disse
Eu posso perdoar a Alfred Nobel ter inventado a Dinamite. Mas só um Diabo sob forma humana poderia ter concebido o Prémio Nobel.
Falou o galardoado de 1925, que recusou.

2 comentários:

cristina ribeiro disse...

Um bocado ao lado do tema do post, mas vindo um pouco a talho de foice: dizia-me no sábado o meu "consultor" de leitura, na Livraria que frequento, que uma figura na praça, que ele considera,mas cujo nome não retive, diz não ler Prémios-Nobel há muito tempo- um dos últimos terá sido Faulkner-, porque já há muito não confia nos critérios que presidem à sua atribuição...

O Réprobo disse...

Isso percebe-se bem, Querida Cristina, pela própria alteração confessa dos critérios: a certo ponto a Academia Sueca deixou de premiar méritos individuais para passar a contemplar literaturas e inserções. Mas houve ainda assim um ou outro escritor que admiro, posteriormente a Faulkner. Beckett creio estar nesse caso.
Beijo