domingo, 25 de maio de 2008

Os Dias da Rádio

Costumo assumir com candura a condição de repelido das televisões, pela degradação que se vem observando, em crescendo, no apelo superficial a que as imagens recorrem. Também assim em matéria de debate, cada vez mais orientado para a impressão colhida pelo olhar, desde o primeiro televisionado em marga escala, o de Kennedy contra Nixon, em que os meros auditores deram vitória substantiva ao então Vice-Presidente, o contrário do que aconteceu com os telespectadores, que preferiram o jovem Senador.Também no comentarismo, pouco a pouco, tenho canalizado a minha atenção para a Rádio, de onde julgo poder extrair-se mais sumo. Desde os tempos heróicos do «Flashback», apesar de a presença de actores políticos activos poder prejudicar a qualidade da troca de pontos de vista, pelos pontitos que quisessem marcar. Sem tais contras, gosto de ouvir o «Com Sal e Pimenta», nos Sábados da Renascença. Sem voos de águia, mas com senso e alguma sensibilidade, Francisco Sarsfield Cabral, Manuel de Lucena e João César das Neves costumam passar em revista os factos importantes da semana, tocando com seriedade as feridas mais importantes.
Mas isto, até ontem. Aí, foi o descalabro, quando se puseram a falar do que poderia, para além da vice-presidência, ser dado para satisfazer as ambições de Mrs. Clinton e fazê-la apoiar Obama. Concordaram todos, num unanimismo desconsolador, que a Presidência do Senado estaria em cima da mesa. Quanto mais fundo iam,... mais se enterravam, deixando clara a confusão entre as duas câmaras e a ignorância de que é a Alta, a dos Senadores, a que pertence Clinton, a que automaticamente é presidida pelo... Vice-Presidente. Foi confrangedor como manifestação da falta de estudo do tema que se propunham tratar. A minha ligação à telefonia sem fios, que me dava a ilusão de liberdade, face ao pequeno écrã, já conheceu melhores dias. Doravante, continuarei a ligá-la, mas como ruído de fundo dos meus almoços de Sábado, simplesmente.

12 comentários:

Cristina Ribeiro disse...

Não se sinta um «Misantropo», meu caro, porque essa mesma aversão sinto-a eu, não só em mim mas em mitos dos que me rodeiam, tantas são as vezes em que daí só vem um ruído estéril e babélico.

Cristina Ribeiro disse...

errata: ...muitos..
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
Bela e Descritiva Imagem!
É bom saber que não estamos isolados nas nossas desilusões e que elas são partilhadas por uma Elite!
Beijo

Anónimo disse...

Querido R.
Eu vivo há 13 anos sem televisão. Claro que neste momento me parece impossível alguém admitir sequer ter um tal aparelhómetro em casa. No entanto, também confesso que por vezes, em conservas (sobretudo conversas superficiais) me sinto um E.T. Tinha uns amigos que, nessas ocasiões, me costumavam perguntar "Quando é que fostes descongelada?".

fugidia disse...

Interessante o lapso de "conservas", querida Rosarinho...
lol lol lol (não resisti, sorry)
:-)

Anónimo disse...

É uma evidência que a rádio é muito melhor meio para quem quer efectivamente comunicar. A este propósito conto sempre a mesma história: o Gen. De Gaulle, em momentos relevantes, fazia questão de falar aos francesese exclusivamente pela radio: queria que o ouvissem, em vez de se distrairem com a farda, a borbulha no nariz ou a cor dos cortinados...
De facto, quando há conteúdo, a imagem é um adereço desnecessário.

P.S. hoje em dia, a vitória do bacoco e do "força na capa" é ilustrada pelo disparatado e omnipresente "powerpoint"...

Anónimo disse...

Ó Fugi (!)
Tu já viste que o R. colocou mesmo as tuas medalhas no peito do Idi Amin? Está muito engraçado.

Anónimo disse...

Sim, a gralha tem graça. Beijos.

fugidia disse...

No peito quer dizer... mais no estômago, querida Rosarinho!
É bem verdade: os homens conquistam-se pelo estômago...
:-)))

fugidia disse...

P. S. Caro Rep. perdoe-me utilizar a sua caixinha de comentários para conversar com a Rosarinho: ao que chegámos... tsss, tsss, tsss
:-)

O Réprobo disse...

Ena, o que para aqui vai!
Que bom!
Querida Rosarinho,
mas é extraordinário. Consigo são já Batantes as minhas Amigas que renunciam ao quadradinho mágico! Outro tanto não se pode dizer dos Amigos, ou, pelo menos, não o confessam.
Sem dúvida, a Rádio, não se agarrando a cumplicidades superficiais, favorece a propagação do essencial e a própria atenção.
O acto falhado das conservas é magnífico... em ilustrar o... Conservadorismo que importa.
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Fugidia,
como disse ao Mike, a ornamentação ventral é mais no sentido de manter viva a chama da organização de certo olimpismo gastronómico...

E o Vosso diálogo é tão Bem-Vindo como engraçado e enriquecedor.
Beijinho