quinta-feira, 22 de maio de 2008

Simbólica Incorporada

aqui dei uma imagem do que eram as celebrações lisboetas da Procissão do Corpo de Deus. Hoje direi duas palavras sobre a anexação do Culto de São Jorge à festividade que honra a Encarnação eucaristicamente tomada em Sacramento.
Foram o auxílio e a Aliança Inglesa ao tempo de D. João I que fizeram importar aquele Santo para o patrocínio luso, numa tentativa ingénua de o fazer concorrer com outro afamado Matador de Dragões, São Tiago, Querido de Castela, nessas lutas ibéricas desgraçadas que esqueciam o inimigo comum contra o qual se havia lutado e havia ainda a lutar.
Hoje, em que, felizmente, desde os grandes Salazar e Franco, esses fantasmas estão, espero eu, definitivamente enterrados, gostaria de salientar uma vertente que não foi pensada.: deslocar o culto de São Jorge do seu dia, o 23 de Abril que também é o do Livro, para a festa móvel do Corpus Christi foi quase uma antevisão do sumiço dos hábitos de leitura no nosso País. Recorde-se que o hábito da oferta da Rosa e do Livro foi retirado, justamente, do culto referente a esse episódio hagiográfico. Removendo-o, para o diluir numa Celebração Maior, acabámos por, de alguma forma, despromover a Leitura.
Procissão do Corpo de Deus na Praça de S. Pedro no Tempo de Inocêncio X, Autor dsconhecido

Entretanto, sobre a Santa disputa e a pacificação peninsular correlata, ninguém como Camilo Castelo Branco:
S. Thiago, por parte de Castella e S. Jorge, o inglez, por Portugal, de vez em quando baixavam do empyrio, e vinham como dois condotieri medievaes terçar os seus montantes invisiveis, mas devastadores, nos campos de batalha empapaçados de sangue. Dir-se-ia que o Altissimo consentia em que aquelles dois celicolas viessem cá abaixo n´este planeta cevar antigos rancores na carnificina de duas nações da mesma raça, duas velhas e valentes propugnadoras da civilisação sob o labaro de Jesus Christo. Chronistas e poetas faziam a Deus a affronta de o imaginarem emparceirado n´estes desmandos facínoras dos dois santos.
A final, um dia, a Providencia, ostentando os mysteriosos processos dos seus desígnios, derrubou os estandartes de extermínio entre as duas nações opiladas de rancor rhetorico, e levantou sobre os escombros da Andalusia - o paraiso terreal da Hespanha - a bandeira da caridade. Em vez do estrondo das trombetas de guerra, fez soar a toada plangente dos gemidos da miseria. E em volta dessa signa de paz reuniu em um abraço, ungido pelas lagrimas dos desgraçados a quem socorriam, hespanhoes e portuguezes que então se reconheceram descendentes dos implantadores da sagrada cruz na peninsula arabe.
S. Thiago e S. Jorge, que presencearam este lance lá do alto céu, apertaram fraternalmente as suas santas mãos, e dependuraram as espadas ao lado da de S. Pedro ainda tingida de sangue do Malcus desorelhado. Foi bom.
Esperemos que em tempos e lugares de comparativa prosperidade não voltem as vozes da discórdia, permito-me acrescentar, ainda magoado por declarações recentes de um (ir)responsável catalão.

4 comentários:

Anónimo disse...

Así sea querido amigo Réprobo; lo que me extraña es que todavía no haya surgido un supuesto experto useño o perfidalbionense diciendo que en realidad, la pérdida del Portugal Ultramarino fue obra de una conspiración franquista para debilitar al País Vecino........
Ab.

O Réprobo disse...

Ui, se algum Te lê este comentário, Meu Caro Filomeno, pode sentir-se terrivelmente tentado!
Abraço

Anónimo disse...

Mi amigo Paulo, siempre sensato en estas materias ibéricas -que no iberistas-, se da cuenta del veneno que para Portugal llevan las propuestas de ese canalla hijo de Guardia Civil y falangista, nacido en Aragón, y reciclado en furibundo nacionalista catalán, por sobre nombre Josep Lluis Carod-Rovira.

Rafael Castela Santos

O Réprobo disse...

Meu Caro Rafael,
é bem verdade! Pobres Pais, que, onde quer que estejam, devem sentir vómitos ao ouvir o rebento mandar petardos destes!
Com disse num postal abaixo, é uma tentativa de fomentar zaragata, à maneira do que aconteceu numa célebre aventura dos Gauleses irredutúveis!
Abração