quarta-feira, 28 de maio de 2008

Mulheres & Mentiras

A Fugidia põe-nos a questão de a amizade, na vertente da conversação franca, apenas poder ocorrer entre homem e Mulher, conforme terá teorizado Ramalho Ortigão. Querida Amiga, gosto de muito o que Ramalho escreveu, mas não lhe dou qualquer crédito em matéria de teorizações sobre o Belo Sexo. Para louvar, deixava-se cair na necessidade de estabelecer regras de correspondência impossível. E como se amarrava a cada juízo que exprimia, o vício de querer fazer as crónicas agradar ao cientismo dominante na Passagem do Século dava-lhe para arranjar fundamentos dos mais extraordinários. Não me acredita? Ora vou dar-Lhe um rol de citações com que não poderá concordar:
Lisboa não tem beleza nem higiene para fazer lindas as mulheres.
e
A mulher de Lisboa é das mais feias da Europa
ou, para celebrar o Mulherio de Viana, aquelas que nunca, em parte alguma, tiveram mais lindas competidoras:
A mulher de Lisboa é feia pela persistência de influências que, actuando consecutivamente sobre os indivíduos, acabaram por determinar uma feição da raça.
E segue um longo artigo em que dá como responsáveis a falta de árvores que suavizassem o clima, a escassez e má qualidade da água, a higiene deficiente e malnutrição em minerais e a carência de museus.
Dizei-me, pode-se confiar em quem emite destas opiniões sobre Tal Tema?

16 comentários:

Cristina Ribeiro disse...

O comentário divido-o em duas partes: o que queria ter posto no «Esconderijo», mas o computador não aceitou, não sei porquê: a minha experiência diz-me que a amizade entre o homem e a mulher, sem mais,é possível, saudável e gratificante.

E, depois, dizer que estas teorizações sobre o homem ou sobre a mulher dão muitas vezes raia.
Beijo

O Réprobo disse...

Ora, no segundo ponto é que bate o... dito. Pretender que este ou aquele tipo de relacionamento entre os géneros só são possíveis desta ou daquela maneira é tentativa de captar concordâncias com uma exibição de psicologia paralela às previsões astrológicas e tão ou mais falível do que elas.
Beijo, Querida Cristina

Anónimo disse...

Enfim, não se pode generalizar... "Más" (como diz o mister Scolari) tb não serão assim "as mais feias da Europa"!Sobretudo as do Minho e Beira Alta com os seus fartos bigodes. Oh! Que belas, que lindas são...eh,eh
bjs,
mi

Tiago Laranjeiro disse...

Este último comentário exige um desagravo! Fosse a Mi homem e estivéssemos nós num outro tempo, seria caso para uma bofetada de luva branca. :D

A mulher do Minho, e já agora também das Beiras, não terá mais buço que qualquer outra de outra região. Apenas as lides do campo a impedem de com tanta dedicação de se ocupar mais do seu aspecto. Mas quando o faz, oh!, perdição certa dos rapazes...

Mas voltando ao tema da posta, também me parece ser "a amizade entre o homem e a mulher, sem mais,é possível, saudável e gratificante", como diz a Cristina.

Por outro lado, é possível, entre homem e mulher, criar-se uma amizade ao estilo da que ligou a Marquesa de Merteuil ao Visconde de Valmont, na obra de Choderlos de Laclos...

O Réprobo disse...

Querida MI,
lá está, como dizes, na generalização está a morte do Artista....
Pena que Ramalho não haja levado isso em conta!
Beijinho

O Réprobo disse...

Meu Caro Tiago Laranjeiro,
pois nada tenho a opor às possibilidades da distribuição dos afectos numa transversalidade genérica, mesmo que passe por inocente junto dos mais encarrilados para a consideração de uma exclusiva univocidade sentimental.
Quanto ao comentário da Mi, nada tinha, conheço-A bem, contra as Beldades Minhotas ou das Beiras, era apenas uma moderação da idealização ramalhesca da Beleza em Viana, onde, no entanto, consabidamente, habitam expoentes notáveis da Espécie.
Abraço

ana v. disse...

Eu bem digo: o Ramalho, de mulheres, não percebia grande coisa. E, caso fosse verdade o que ele defendia, porque carga de água é que essas condições adversas de Lisboa haveriam de atingir só os espécimes do género feminino?

Razão tem o Mike: quando ele se pôs a dissertar sobre o tema devia ter espetada alguma das suas próprias farpas, à laia de lacrau...

Tiago Laranjeiro disse...

Não sendo a minha opinião, ainda mais por estar Cécilia Volanges a ser envenenada pela sua "amiga" (esta, verdadeiramente da onça) Marquesa, deixo aqui um excerto da Carta XXXIX do livro que acima referi, sobre este mesmo tema:

"De que maneira vou escrever ao senhor Danceny e como ele vai ficar contente! Vai ficar ainda mais contente do qeu ele pensa, pois até aqui eu só lhe falava da minha amizade, e ele queria sempre que eu dissesse o meu amor. Julgo que é a mesma coisa; mas enfim eu não ousava, e ele teimava nesse ponto. Contei isso a Madame de Merteuil; ela disse-me que eu tinha razão, e que não convinha falar de amor, enquanto uma pessoa se pode impedir de o fazer. Ora eu tenho a certeza de que não poderei impedir-me de o fazer por muito tempo; no fim de contas é a mesma coisa, e isso agradar-lhe-á muito mais."

O Réprobo disse...

Querida Ana,
Vocês os dois a trespassarem e reptilizarem o nosso maior crítico!

Mas claro que a observação tem toda a razão de ser, só podendo encontrar resposta na relativamente maior reclusão que o Vosso Lado apresentava. O que me dá ideia de um postal; para amanhã, tenho de encontrar uma revista que tenho algures.
Em todo o caso, inteiramente de acordo que esta não é a... Temática que ele mais domina. O que vem colocar em posição incómoda a sentença publicada no «Esconderijo».
Beijinho

O Réprobo disse...

Meu Caro Tiago Laranjeiro,
essa Marquesa era tramada e o Meu Amigo ameaça desencadear uma polémica que absorva todo este canto da blogosfera, com a citação! Desde a adolescência que encontro Mulheres Admiráveis a definirem com a boca a diferença entre a Amizade e o Amor e a desdizere-se com os olhos, ou vice-versa. E homens apatetados a acreditare-Nas, à vez, na versão que melhor lhes sirva, no imediato, condenando-se no longo prazo, que, se ostensivamente etiquetado como não lhes interessando, acaba por levar muitos ao desespero.
Abraço

Anónimo disse...

Oh meu caro réprobo, não será pelo facto de Ramalho Ortigão não apreciar os encantos da mulher de Lisboa que se lhe deverá retirar crédito noutras ponderações. Mas, lá está, é o perigo inerente às generalizações.

fugidia disse...

:-)

Eu, de todo o modo, só achei graça à frase: não concordo em absoluto com ela... importa não fazer generalizações e o Mike escreveu muito bem quando falou de farpas...
(risos)

O Réprobo disse...

Querida HI,
oh, eu gosto muito de Ramalho! Apenas o não acho tão apto para falar de Mulheres como de Política, Escritores, Costumes ou Praias, por exemplo.
Beijinho

O Réprobo disse...

Ehehehehe, bem e com um dedinho verrinoso...
Todos concordamos pois em anatematizar o vício generalizante. Cá fica também a minha pedrada, Querida Fugidia.
Beijinho

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

eu penso que os homens sã muito melhores amigos que as mulheres, Na generalidade , somos mazinhas umas com as outras.
beijinho, Paulo

bemquerer também

O Réprobo disse...

Isso é entre as Gatas Assanhadas que rivalizam, mesmo quando de forma não afixada nas parangonas dos jornais, Querida Júlia. Claro que essa percepção está mais difundida do que a do Ramalho, quanto às dificuldades da Amizade mnasculina.
Beijo e BQ Vintage