domingo, 25 de maio de 2008

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A Cristina deu aqui o mote para tanger outra cítara: a do enraizamento no nosso inconsciente, tantas vezes confirmado na História Política, do preconceito de que uma renovação só se consegue com o sacrifício do pescoço de alguém. Nas inaugurações minhotas é o galináceo o sacrificado, decerto porque tendencialmente universal símbolo da sobrevivência e da ressurreição, que se quer estimular com esse corte radical...Mas já Alexandre Magno, segundo a lenda, teria recorrido aos poderes sobrenaturais da associação. Escapado pelos 11 anos à vigilância de Aristóteles, fora mergulhado numa gaiola precursora dos batiscafos no Oceano Índico, de que queria conhecer os habitantes das profundezas. Os marinheiros encarregados de o puxar de volta à superfície foram dispersos por uma tempestade. Mas o desembaraçado Príncipe não se atrapalhou; e matou ali mesmo um galo que consigo levara, pois era pacífico à época que o mar não suportava sangue fresco no seu interior, daí resultando que o mergulhador e seu receptáculo fossem por ele cuspidos de volta.
Tendo perdido de vista as razões primeiras do relato, é bem possível que o desfecho, perdurando na memória do Ocidente, tenha estado na base de aspergir os cascos de algumas das primeiras barcas da nossa Expansão com sangue de galicoque, antes de serem deitadas às ondas...
Parafraseando muito livremente Pascal, se o bico do galo se abrisse mais tarde para cantar, a sorte do Mundo - e a dele - poderia ter sido bem diversa.

4 comentários:

Cristina Ribeiro disse...

Engraçada a forma como as ideias se encadeiam como as cerejas: na resposta ao comentário do Paulo, referi que estas, no mês de Maio, diz o povo e bem, se comem ao borralho, à lareira, símbolo de Héstia, tida com deusa do lar, então podemos pensar que a galinha lhe é, de certo modo, sacrificada, tal como Alexandre Magno terá sacrificado o galo ao colega Poseidon, para que este o libertasse.
Beijo

O Réprobo disse...

E bem verdade, Querida Cristina, sendo, ao mesmo tempo, uma idealização da bondade do Mar, incapaz de vampirizar o sangue derramado, natural num Povo de vocação marítima.
Beijo

zazie disse...

É muito curiosa essa tua associação. Nunca tinha pensado nisso e nem sei se existe outra explicação.

Beijocas

O Réprobo disse...

Querida Zazie,
claro que é algo arbitrária, mas como os «Feitos» de Alexandre eram tão conhecidos, mesmo nas versões mitificadas...
Bjoka