quarta-feira, 7 de maio de 2008

O Fim de Um Mundo

Eu ainda sou do tempo em que livros liceais de História pós-abrilinos, muito mal feitinhos, Deus os benza, diziam ter o afundamento do Lusitania, ocorrido em 7 de Maio de 1915, precipitado a entrada dos Estados Unidos na I Guerra Mundial. Precipitação só a dos redactores do texto, pois a reacção do Presidente Wilson traduziu-se na recusa de então participar nela, apesar de um grande número de passageiros norte-americanos mortos. À imprensa, condoidamente, declarou:
Há uma coisa que não podemos perder de vista: um homem pode sentir-se demasiado orgulhoso para lutar. E uma nação pode encontrar-se de tal modo dentro da razão que não necessita de convencer disso os outros pela força.
No entanto, a revolta de ver compatriotas pacíficos mortos, explorada por toda a grande imprensa não afecta a Hearst ( o inspirador de «Citizen Cane»), desejosa de virar contra este adepto do não-intervencionismo o próprio remédio que aplicara na exigência da Guerra Hispano-Americana, favoreceu o terreno para a acção diplomática, em nota enviada por Washington ao Governo Imperial Alemão, onde se exigia, na prática, o fim do emprego da arma submarina contra navios civis, ou, no limite, daqueles que não fossem cargueiros de mercadorias suspeitos de transportar armas, estabelecendo a inaceitabilidade da desculpa da retaliação contra o embargo mercantil. O Comandante Schwieger, do U20 que torpedeara o navio, fora formalmente repreendido pelo acto, por parte do Almirante Von Muller, Chefe do Gabinete de Guerra do Kaiser, mas só depois de vitoriado pela multidão. Claro que foi este segundo facto o explorado à exaustão pela comunicação social belicista, até que, em 1917, veio a ser posta de lado a velha contrapartida da Doutrina Monroe: à reserva do Continente Americano que nele vedasse empreendimentos militares europeus, uma abstenção de os States se intrometerem nos conflitos da Europa.
A mais esta agravante de um conflito estúpido que tinha nascido coxo, por um estúpidíssimo caso de polícia, tinha, para cúmulo, de estar ligado um nome que lembra sempre o afundamento do nosso País. Um mal nunca vem só!

2 comentários:

cristina ribeiro disse...

Com efeito, lembro-me de que a primeira vez que ouvi do afundamento do «Lusitania», pensei tratar-se de um navio português...

(P.S. acabo de ler no «Odisseia» um belo texto sobre aquele que o Paulo considera o melhor prosador do século XX, Ernst Junger, e cujo «Diário» comecei já a ler, graças ao meu amigo, e as suas relações algo tempestuosas com Céline: o que se aprende nestes vossos blogues! )
Beijo

O Réprobo disse...

Ah, Sim, Querida Cristina. Nos diários, mas nos de Guerra, chama-lhe "Merline", inclusivé.
Beijo e... boa leitura