terça-feira, 6 de maio de 2008

Perdas Humanas

Fico sempre assim como que piurso, quando tenho notícia de acidentes em acervos de livralhada. Salta-me a tampa! O incêndio de ontem, na Universidade do Porto, em vez de ocorrer num qualquer bar vazio, carbonizando sandes ou croquetes, tinha de atacar uma biblioteca, danificando livros raros! Aguns dificilmente voltarão a falar, sabendo-se, como deixou claro André Maurois, que
A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde.
Um pensamento especial para o TSantos, tributário desse Estabelecimento, sabendo-se que foi a Zoologia a área mais afectada.

16 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado, Paulo. De facto, com tanto espaço vazio naquele edifício, o incêndio alastrou, precisamente, a alguns dos poucos que ainda estavam semi-ocupados: o (nosso) laboratório de Ecologia e vários gabinetes adjacentes...

Assim que tiver informações mais concretas sobre os danos, particularmente na Biblioteca, eu posto-as aqui...

Ab

Anónimo disse...

Caríssimo Amigo:

Também eu fico desesperado quando um fogo, fruto de incúria ou malvadez, destrói uma biblioteca. A seguir às bibliotecas virão os edifícios históricos, ambos constituindo o património que faz parte da nossa estrutura civilizacional como País.

A seguir vêm os incêndios florestais, estes quase todos premeditados e planeados pelos desgovernos que a nossa má sina nos colocou como canga. Os motivos são sobejamente conhecidos.

Mas este fogo que atingiu a Biblioteca da Reitoria da Universidade do Porto preocupou-me duplamente, pois a minha Mãe doara toda a biblioteca científica de meu Pai (cerca de 20.000 volumes) àquela Biblioteca. Conta-se entre esses livros talvez a maior colectânea de separatas de artigos científicos da Europa.

O meu Caríssimo Amigo compreenderá certamente a minha angústia acrescida. Num tempo de bárbaros, os incêndios de bibliotecas são uma tragédia de proporções gigantescas.

Um grande abraço amigo e solidário.

fugidia disse...

Péssima notícia. Enorme perda :-(

Lembro-me que um dia a nossa casa foi saqueada. Retiraram tudo o que podiam. Menos os livros, que não lhes interessavam e que deixaram espalhados pelo chão, inundado da água das torneiras deixadas abertas...

O Réprobo disse...

Meu Caro TSantos,
fico a torcer para que não se confirmem os piores temores. Ver raridades calcinadas é mau demais, para qualquer amigo da Cultura.
Abraço, cá esperamos as novas

O Réprobo disse...

Meu Caro Carlos Portugal,
e eu para aqui a pregar o Padre Nosso ao Vigário! Receba toda a minha simpatia, deve ser angustiante temer pela sorte de uma colecção familiarmente querida, de que Se apartaram em razão do Serviço da Ciência, assim ameaçado!
Claro que, pelas palavras do responsável, parece terem sido poucos os volumes afectados pelo sinistro. Esperemos que entre eles não estejam os menos comuns, ou os do Contributo dos Seus.
Dos edifícios e florestas, já se sabe, a avidez da ganhuça, na sempre descritiva expressão de Assis Esperança, vive das horripilantes queimadas.
Grande abraço, com os dedos todos cruzados, para que o Esporço Paterno haja sido preservado

O Réprobo disse...

Querida Fugidia,
mas foi alguma vingança? Que ganhavam com a inundação ou os livros estragados?
Beijinho, fez-me lembrar, quanto aos volumes relegados, uma Conhecida minha, Pintora, Que diz ter-Se sentido vexada por os ladrões que Lhe assaltaram a casa não se terem interessado pelos quadros dela

Anónimo disse...

Caríssimos

Ao que parece, os estragos no espólio documental foram limitados. Apenas se verificaram alguns danos na Biblioteca de Zoologia, onde cairam duas estantes devido ao desabamento parcial do tecto, mas não tenho mais pormenores.

O pior terá sido a destruição do laboratório e dos gabinetes anexos. Embora tenha ardido só uma das salas do laboratório (são duas), era nessa que estavam guardadas amostras biológicas, algumas das quais insubstituíveis. O meu irmão, por exemplo, perdeu todas as amostras provenientes de locais tão "exóticos" como a Turquia ou o Norte de África, parte das quais ainda aguardava o respectivo tratamento...

Quanto aos gabinetes ainda não se sabe nada de concreto. Contudo, como a maior parte deles se encontrava em processo de transferência para as novas instalações do Campo Alegre, é possível que os danos tenham sido também limitados.

Ab

Anónimo disse...

Obrigado, Caríssimo TSantos, pela informação. Fico mais tranquilo, embora lamente a perda das amostras de seu Irmão.

Abraço

O Réprobo disse...

Um uf pela doação da Família do Carlos e pena pelas perdas das amostras. Dá um abraço ao Teu Irmão, cujo inglório esforço lastimo, Meu Caro TSntos

ana v. disse...

Fico satisfeita com as notícias, apesar de tudo. A perda de uma biblioteca dói quase como a de uma perda humana, tal é a ligação afectiva que estabelecemos com os livros. Não quero subestimar a perda de amostras laboratoriais, é claro, mas a verdade é que não sou tão sensível a essa fatalidade (muito por ignorância do assunto, admito).
Um beijinho

Anónimo disse...

Paulo, Carlos Portugal: obrigado a ambos. Parece que a Biblioteca, afinal...só meteu água! Houve livros molhados mas, aparentemente, nada de irreparável, felizmente.

Caríssima AV: pense nas amostras como uma espécie de biblioteca biológica, com uma história que ficou por contar e que não pode ser recuperada (o espaço e o tempo da colheita são únicos). Talvez assim possa entender melhor o significado "filosófico" da sua perda (o significado "prático" pode ser a inviabilização de uma tese, por exemplo, como já aconteceu...felizmente, não é o caso, mas mesmo assim...)

Ab

O Réprobo disse...

Querida Ana,
é a razão dos afectos; por que sentiremos mais a morte de uma mascote do que a de centenas de milhar de pessoas do outro lado do Mundo, embora a cifra nos possa impressionar muito?
Beijinho

O Réprobo disse...

Meu Caro TSantos,
a Ana o dirá. Mas cá para mim, essa Tua comparação, mais que partícipe do aspecto filosófico, operou, de pleno direito, a um nível poético.
Abraço

Anónimo disse...

Sinto muito. Muito mesmo.
Um beijinho
M.

O Réprobo disse...

Obrigado pela solidariedade, com a grandeza de Vulto da Cultura a que nos habituou, Querida Meg.
Beijinho

Anónimo disse...

"...essa Tua comparação, mais que partícipe do aspecto filosófico, operou, de pleno direito, a um nível poético."

:)