quarta-feira, 7 de maio de 2008

Ponto de Desencontro

Diário de Uma Mergulhadora na Fantasia de Bruno MaximusQuase? Esse advérbio odioso presta-se a cantos que lhe metamorfoseiam a condição, tornando-o irreconhecível. Um dos poemas da Ana Vidal, de que muito gosto, ao interrogar o que faltou em momento determinado, parece através dele indicar a faúlha comunicante do abalo (im)percebido como a tranquilizadora via aberta para o impulso, incompatibilizado com uma segurança a tempo inteiro de que emanem ou traquejo ou lição revéis à unicidade e univocidade sonhadas:


O QUE EU QUERIA DE TI

O que eu queria de ti?
Talvez não muito mais que o que me deste...
Apenas um perfume mais agreste
um ramo de ervas bravas que não vi

O que esperei em vão?
Quem sabe um pouco menos de certezas...
ver-te brilhar nos olhos, indefesas
invioladas fontes de ilusão

Eu queria essa aventura de encontrar-te
sem ter de me perder dentro de mim
por labirintos, dúvidas sem fim
Sem ter sequer, amor, de procurar-te

Tão pouco... um gesto só me encantaria!
Tão fácil... bastaria uma palavra!
Mas a terra que sou, ninguém a lavra
sem um arado feito de magia

Guardo de ti o quase que tivemos
esboço de um mais que teimo em alcançar
E digo adeus por não poder ficar
onde tudo me diz que nos perdemos

Não será a perturbação do Outro a mais insistente das fantasias da panóplia? Mas, em bom rigor, poder-se-ia dizer que a tentativa aplicada de disfarçá-la deixa entrever a importância que, do Outro Lado, se desejava encontrar e... afinal estava lá. Só que a brusquidão omitida que denotasse a transfiguração no parceiro percebido, esse Sésamo que terá faltado, deixou a semente da Poesia escrita, no lugar da actuante, posta em retirada. Está longe de ser pouco.

18 comentários:

Anónimo disse...

Caro Sr Réprobo, malvado,
que seduz e abandona leitoras doentinhas:o(

Acho, como sempre, portentoso o seu poder de agumentação, a sua erística, tudo!
E como dizem os filósofos, muita vez as perguntas são tão brilhantes que são a morte da resposta.
Assim sendo parabenizo-o pela escolha e o gosto por esse poema que é simplesmente per-fei-to!
Ana Vidal é uma das minhas poetas contemporâneas preferidas.
Há que ser divulgada.
E o Sr. Malv.. ops, digo, e o Paulo fez isso de forma magnífica.
Obrigada.
Um beijinho, se posso.
:-)
M.

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

esta sua conclusão, Paulo, está divina,divina!
"Não será a perturbação............"
tchi! Vou gravar e depois vou utilizar.

O Paulo pensa-as! :-)
beijinho meu

CPrice disse...

os "quase" do nosso descontentamento .. só superados pelos "ses" ..
Obrigada Caro Amigo por esta leitura da nossa Querida Poetisa que eu ainda não conhecia.

fugidia disse...

Poema muito bonito :-)

Os poetas são assim: fazem-nos sentir donos das suas palavras, das suas emoções, dos seus momentos; como se este poema fosse o reflexo do que um dia se passou com todos e com cada um de nós...

Muitos parabéns à Ana Vidal e um beijinho de bom dia, querido Réprobo.
:-)

O Réprobo disse...

Querida Meg, Reprobada, mas nunca Reprovada,
"abandono"? Eeeeeu? Que calúnia, sou o reprobozinho mais fiel do Mundo!
Querida Amiga, aceito as felicitações pela escolha, estreitíssima aba de merecimento que me cabe neste poema da Ana, que é perfeitíssimo, como diz. É uma poesia que desperta em mim o revolvido apaziguamento que, referido ao sentimento da Amizade, não já ao amoroso, o «Caminho» de Camilo Pessanha igualmente me inculca.
Mas há outras criações da Ana de que gosto muito. É a eterna injustiça de ter de escolher.
Bem-Vinda à família da malvadez, ehehehehe.
Beijinho.

O Réprobo disse...

Querida Júlia,
obrigadíssimo por achar algum préstimo nas palavras que estavam em mera função de séquito aos versos da Ana. Usadas por Si decerto ganharão peso que, por enquanto, de todo lhes falta.
Beijinho muito grato

O Réprobo disse...

Querida Once,
só por ter levado aos Seus Olhos conhecedores uma Arte bem digna deles, já tem valimento a publicação dese postal. E sim, os "quases" são... quase(!) tão lamentáveis como os "ses", embora tenha a agradecer a estes a frequentação mais regular deste casebre pela Minha Querida Amiga. Remember Kipling...
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Fugidia,
retribuo o voto matinal, antes do mais.
E sim, o contudo indefinível mistério da comunhão poética repousa muito na capacidade de pelo individual dar a suficiente dose de universalidade que faça dois espíritos ajustar-se nesse uníssono paradoxalmente diferido, encontrável na leitura e recitação, através das asas do Verbo.
Beijinho

CPrice disse...

ou seja: "quase" ficava esta sua amiga sem as verdadeiras lições (de vida, muitas vezes) que por aqui aprende, partilhando e concordando ou não com os conteúdos mas admirando sempre a forma, "se" não tenho respondido ao seu desafio feito de letras e meio a brincar ..
De facto. Nada como ver as "coisas" por outra perspectiva.
:)

O Réprobo disse...

Querida Once,
"Se...". Já Lhe disse que detesto os "ses"? Ehehehehehe.
Lições nenhumas, mas podemos tentar que o nosso falabaratismo não chegue a gratuito. E por falar em Forma, não cabe na caxa de comentários a extensão do hino ao valor da da escrita da Once!
Beijinho

CPrice disse...

que por nunca nos apelidem de gratuitos sim Caro Paulo.
Eu grata, por essas suas palavras.

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

Que fique claro que também gosto do poema da Ana,claro! Só que a sua reflexão surpreendeu-me.

beijinho

O Réprobo disse...

Querida Júlia,
claro que me pareceria impossível Alguém Sensível não gostar destes belíssimos versos. A mim, o que me causou surpresa foi também não enjeitar o meu comentário.
Grato por tanta Bondade.
Beijinho

ana v. disse...

Querido Paulo e Queridos todos:

Juro que não tenho estado a fazer-me cara e, menos ainda, "fishing for compliments" de todos vós. Tenho andado tão cheia de trabalho que mal tenho tido tempo de passear pelos blogs, como gosto de fazer, e por isso só hoje encontrei esta surpresa do Paulo, a quem agradeço a postagem de um poema meu e ainda mais a análise que faz dele, que o ultrapassa largamente em qualidade...

São os vossos olhos amigos que vêm nestes versos muito mais do que eles são. Mas é claro que me sabe muito bem ser assim acarinhada!

Beijos gratos

ana v. disse...

E só agora reparo que este post é de HOJE... é que o Paulo é de tal maneira prolixo que eu, não olhando para a data, pensei que já tinha 2 ou 3 dias!
Menos mal, que assim não me atrasei nos agradecimentos devidos.
mais um beijinho

O Réprobo disse...

Querida Ana,
nada a agradecer, apenas fiquei triste pela injustiça feita aos outros poemas. Mas tinha de escolher um...
A mdéstia é sempre digna de estima, mas claro que os dizeres dela são desmentidos pela qualidade assombrosa da obra.
E a curiosidade confessada quanto ao meu seleccionado? Houve elemento de surpresa, ou triunfou um sentumento de naturalidade reconhecida?
Bjinho

ana v. disse...

Confesso que me surpreendeu, sim. Não esperava que escolhesse este, mas nem saberia explicar-lhe porque acho isto.
De qualquer maneira, obrigada!
Um beijinho

O Réprobo disse...

Confesso que hesitei entre este e «Tudo o Que eu Peço», pela Tensão da Memória e desvanecimento, como por causa do Vento invocado pensando na recorrência do referencial, em circunstancialismo diverso, naquele que tem uma «Porta...»...
Beijinho, Querida Ana