terça-feira, 13 de maio de 2008

Reabilitação do Conceito

Aniversário de Braque, pintor a que prezo tanto a personalidade com a Arte. Pela Justiça e pela tranquilidade sem acomodar-se, que sempre encarnou. A noção fundamental unificadora de todos os períodos que atravessou exprimiu-a na máxima os sentidos deformam e a mente forma. Por isso enveredou pela reacção Fauve contra os Impressionistas, para devolver ao Espaço e às Formas os direitos dissolvidos pela escola do império da Luz. A posterior suavização das cores, a influência de Cézanne, descobrindo o fio condutor da Esfera, Cone & Cilindro, mas não se deixando aprisionar; e procurando uma exemplaridade mais universalista, traduzindo-a no Cubismo, nome retirado de uma apreciação de obra sua, quase acidental, por Matisse. Mas tanto a morigeração cromática como o abandono derradeiro da hipoteca a ortodoxias geométricas iam ao encontro da acalmia do exame que sugeriu a Picasso, sobre as Meninas D´Avignon: Apesar das tuas explicações, a pintura parece querer fazer-nos engolir estopa ou petróleo, para cuspirmos fogo a seguir.
É do resultado dos anos da maturidade, emancipados da fase de pesquisa a que, hoje, as enciclpédias o parecem querer resumir, que retiro uma das melhores representações da Noite que conheço - a que lhe reconhece mais colorido que os alheios brilhos do luar e das estrelas e, em simultâneo, lhe impugna a esterilidade.

4 comentários:

ana v. disse...

Passo só a deixar um beijo, Paulo. Impossível ler a sua fantástica produção bloguística, com grande pena minha. Mas hei-de voltar cá, com toda a calma, para apreciar devidamente as suas pérolas.

O Réprobo disse...

Querida Ana,
ainda bem que longe da vista não significa longe do coração. Divirta-Se exoticamente e cá A esperamos, quando possa e queira.
Beijinho

CPrice disse...

Sorri hoje ao ler-lhe esta dedicatória a alguém que não conheço bem, e sensitiva que sou pela amostra .. não vou gostar :)
E sorri porque penso exactamente o contrário do seu homenageado.
Os sentidos formam e a mente deforma .. pela quantidade de informação, mitos e tabus que aloja, sem conseguir a transparência real de um cheiro ou de uma imagem sem qualquer outra conotação.
Como eu agora, ao olhar a obra “postada”.

Gostei Caro Paulo, e como quase sempre por aqui, aprendi.
Obrigada

O Réprobo disse...

Querida Once,
dou-Lhe razão em tudo o que implique de formativo em ordem à acção ou prazer imediato, que creio ser a focagem que adopta, centrada no Sujeito. O caminho que Braque fez foi mais preocupado com a devolução de uma ontologia esmorecida ao que se retratava, sem por isso abdicar da visão pessoal. Mas a de um cérebro sossegado por não se deixar atormentar pela sobre-informação que a Minha Querida Amiga tão bem soube afastar.
Beijinho