quarta-feira, 7 de maio de 2008

Regresso Aos Antigos

Estudo para Licurgo Apresentando a Esparta o Seu Rei, de David

Ainda bem que existem estas «Combustões». Se afastadas no Espaço, avizinham-nos no tempo, reequacionando o que nos fez. Ontem virou-Se o Miguel contra Esparta. E eu cá estou a dizer da minha discordândia. Entendamo-nos, não gostaria de viver no protototalitarismo da dureza lacedemónica. Mas pelos meus defeitos, não por alguma qualidade que me não haja desertado. O Caro Amigo ataca os intelectuais, como celebradores da violência e de um Estado que, justamente, não deixou margem aos produtos que eles disseminam. E não é estranho, isso? Qual a razão? Nunca a adulação do Poder dominante, pois alguns, Aristóteles à cabeça, escrevem depois de decaído o predomínio espartano. A resposta é outra - prezam e agradecem o que sabem verdadeiramente importante e sem o qual as suas criações não teriam habitat possível, quer dizer, a própria subsistência Helénica, garantida pelo estado guerreiro nas Termópilas.
Mas não segue que a cultura não fosse querida nessa polis. Licurgo obrigou à veneração dos poemas homéricos, com aproveitamento forçado na aprendizagem, pelas crianças do país, onde os outros se punham a discutir (quando não a atacar) esse património que queremos comum. E não deixa de ser irónico ver o Monarquiquíssimo Miguel atacar este paradigma da manutenção da Coroa, da rejeição constitucional dos oradores que agitassem multidões e... da força do dinheiro que, em simultâneo, reprova.
Licurgo foi genial e salvou o seu País do que aconteceu em Atenas, onde a cobiça levava à triste alternância dos demagogos da Democracia com os tiranos das reacções populares contra eles. E enraizou a confiança de Povo e Realeza, até nas refeições em comum que obrigou a serem tomadas. Este Príncipe que poderia ter cingido a Coroa, caso tivesse aceite a proposta de abortar da cunhada, grávida do filho do irmão primogénito e desejosa de ser dele, obteve em Delfos um resultado oracular em que a Pítia se mostrava menos sibilina do que era uso:
As tuas leis agradam aos Deuses e a Cidade que as observe constantemente será feliz.
Mostrava, mas só na aparência, pois a diminuição do Poder Real, distribuído aos Éforos, viria a ditar o seu declínio, embora menos pronunciado do que noutros lados. Foi este o mesmo Homem que se afastou, exilando-se em Creta, para que a sua pessoa não interferisse na continuidade do Sistema.
O que hoje nos aflige em Esparta é a inclemência para com os fracos. Mas estou tentado a arrumá-la numa prateleira, com o argumento de Oliveira Martins acerca da escravatura - todas as nações passam por essa fase, umas mais tarde , outras mais cedo. E ainda não se vivera uma Força com outros valores, a da Mensagem Cristã.

4 comentários:

cristina ribeiro disse...

Agora, Paulo, fez-me lembrar aquelas refeições que o meu irmão mais velho dizia espartanas, antes de eu ir para Lisboa e arranjar-lhe uns bifitos com ovos estrelados :)
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
para além da frugalidade, se eram tomadas colectivamente, então...

Ai, mas está a infringir o mandamento que o mesmo Licurgo mandou afixar em dístico, no refeitório comum: "Que o que aqui se passou daqui não saia!".
Beijo

Anónimo disse...

Paulo, já que fala no Combustões, aproveito para deixar aqui os meus parabéns ao Miguel pelo magnífico excerto musical que ele colocou no Blog. Quando por lá passei há 5 ou 6 dias e começei a ouvir aquela maravilha de música, que reconheci imediatamente porque a conheço de cor e salteado, nem acreditei nos meus ouvidos. Ainda pensei, embora isso fosse quase impossível, que era eu a fazer confusão, até que confirmei com a imagem do filme o que eu sabia desde o primeiro segundo. O velhinho 33rpm, oferecido pelos meus pais ainda em Londres, foi tão, mas tão tocado, que não sei como ainda está inteiro e quase nada riscado. Também é verdade que eu lhe pegava como se duma peça de biscuit ou de cristal da Boémia se tratasse.
Paulo, permita-me que deixe aqui parte de umas notas do compositor, sobre como escolheu a música que compôs para o filme.

Musical Highlights from Ben-Hur

"The music for Ben-Hur was not my first musical excursion into Roman antiquity, as I already paid a visit there with "Quo Vadis" and "Julius Caesar". In "Quo Vadis" I tried to re-create the music of the first century Romans using fragments from contemporary Greek, Hebrew and other Oriental sources, (as nothing Roman has survived), and in "Julius Caesar" I was primarily trying to underline musically the Shakespearean drama, in which Rome only serves as a background. Ben-Hur with its sweeping, human drama, personal conflit and flamboyant pageantry needed music which grew out naturally from its atmosphere and became an integral part of it.
..."

Notes by Miklos Rosza

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Cumprimentos Paulo e obrigada.
Maria

O Réprobo disse...

Querida Maria,
interessantíssimo esse trecho de Arqueologia Musical. O Miguel tem, realmente, muito gosto e decerto ficará contentíssimo em saber que agradou, na vertente de DJ.
Quanto a mim, tenho muito orgulho em que Ele o saiba por este meio.
Beijinho grato