domingo, 4 de maio de 2008

Dar Bandeira

Como se sabe, Guerra Junqueiro, um fanático fustigador do Constitucionalismo Monárquico, defendia que se mantivessem as cores Azul e Branca mais tradicionais na Bandeira Nacional. Com a imaginação justificativa que se pode ler aqui, em que, para os entusiastas da ruptura, as cinco estrelas poderiam ser tidas como evocação da data revolucionária, mas susceptíveis de cativar os mais dados à abrangência, que nelas quisessem ver os cinco continentes em que Portugal se espraiava. A República, contudo, haveria de encarregar uma comissão liquidatária, atiçada por João Chagas, com Afonso Pala e Abel Botelho a reboque e o prestígio de Columbano a cobrir, de inventar uma outra, que contrariasse as ameaças sentidas no Tempo e na Geografia. Optou-se pelo Verde e Encarnado. As cores anteriores por não querer lembrar o que vinha de antes foram excluídas; mas o mais engraçado foi a justificação de exclusão do Amarelo. Que não se cedesse à simbologia Espanhola, onde ele desempenhava papel destacado, dizia-se. Claro que ninguém se importou com a coloração rubra, como se sabe ausente do pavilhão de Nuestros Hermanos... E a Esfera Armilar ficou em, sei lá, negro, reconhecidamente.
O Daltonismo seleccionado dos revolucionários apatetados galgou fronteiras, até chegar a um grande estudioso da Simbólica, Michel Pastoureau, o qual, em «Dicionário das Cores do Nosso Tempo», não só evidencia o erro heráldico, raro na Europa, de juntar Verde (Sinople) e Vermelho (Goles), como desqualifica as posteriores construções, de exaltação esverdeada da Marinha, pelo papel revolucionário e da Liberdade, como do do sangue, assim como uma legitimação tradicionalizante remissiva para as Ordens de Avis e Cristo, a fazer lembrar as genealogias de Vingança Templária com que a Maçonaria se gostava de adornar.
Mas claro que uma panorâmica mais terra-a-terra levaria a restringir a necessidade de se inscrever numa linhagem de heróis em circunstâncias menos gloriosas mas mais partidárias, as do cromatismo do Centro Republicano Positivista do Porto, do fracassado mas para eles empolgante 31 de Janeiro.

8 comentários:

Anónimo disse...

Verde.......¿Reminiscencia de Al- Andalus?

O Réprobo disse...

Meu Caro Filomeno,
não se lembrou o Teófilo Braga dessa, caso contrário, com as assimilações delirantes que fazia, era... trigo limpo, Farinha Amparo.
Abraço

Bic Laranja disse...

Não eram as cores da Carbonária?
Cumpts.

Anónimo disse...

Olá Paulo.
Hoje pus-me a ler uma quantidade de posts seus que tinha em atrazo, todos excelentes como sempre e decidi-me por este assunto das cores da bandeira porque me complica com os nervos. Assunto que já no seu anterior Blog haviamos abordado. O Paulo sabe qual o motivo porque o encarnado da bandeira se está a alargar subreptìciamente cada vez mais e a deixar o verde cada vez mais diminuído? É que, se não estou em erro, até 1974 estas duas cores horríveis, aliás - e horríveis porque não conjugam entre si nem sequer um bocadinho, em separado até nem são nada feias - sempre tiveram a mesma dimensão... O motivo eu desconfio qual é, mas gostava de saber a sua opinião. Não estar ela já toda encarnada é que admira, mas lá vontade não lhes falta. Por este andar qualquer dia só existirá nela uma tirinha de verde muito estreitinha para inglês ver.
Isto da mudança das cores da bandeira e noutra perspectiva, faz lembrar depois d'Abril a mudança da cor dos autocarros de verde e beige para cor de laranja, por um triz que não viraram encarnados mas até eles devem ter achado que isso era ir longe demais. Não fora a motivação política e até nem estariam mal de todo. Os autocarros ingleses são-no e têm uma certa piada. E os táxis que eram tão bonitos, verde claro e preto? Mas tudo o que cheirasse a antigamente tinha de ser alterado, nem que fosse para muito pior... portanto toca a pintá-los de cor d'água de lavar pratos. Ficaram lindos, não haja dúvidas.

Cumprimentos Paulo
Maria

O Réprobo disse...

Meu Caro Bic Laranja,
psiiiiiu, essa é a parte que só pode ser dita em segredo, quer dizer, nas entrelinhas.
Abraço

O Réprobo disse...

Querida Maria,
Muito obrigado. Creio que o Vermelho sempre foi maioritário, tal como o Branco da bandeira constitucional, por serem as cores à esquerda, no pavilnhão; e isso fazer parte da regra maçónica da bipartição, segundo li algures. O alastramento, mais do que a remissão para teorias políticas em crise, assenta que nem luva ao sangue que a malfadada I República fez correr.
Beijinho

Nuno Castelo-Branco disse...

O verde é para avançar e o vermelho para parar. É por isso que isto não anda nem desanda. E já agora, é também uma cópia da bandeira do centro republicano de Badajoz: Portugal, a verde e Espanha, a vermelho. Era o partido republicano federalista que logo se volatilizou...

O Réprobo disse...

Meu Caro Nuno,
de repente descobri! Misturar Verde e Vermelho dá castanho, não dá? E a I República não distribuiu castanha a valer? Está tudo ligado!
Abraço