Ferro no Discurso
Grande desilusão, no tocante ao contributo de Vasco Pulido Valente para o «Jornal Nacional» da TVI, na versão pretendidamente inovadora das Sextas-Feiras. Foi prejudicadíssimo pelas opiniões que o davam como pouco menos do que incompatível com a televisão. Devo dizer que sempre achei ser uma questão falseada, apesar de muito do que os juízos dele têm de cativante residir na forma escrita. Senão, vejamos: o melhor tempo do radiofónico «Flashback» incluía-o e pareceria que os seus handicaps seriam tanto ou mais lesivos nesse meio do que no pequeno ecrã. Neste, para funcionar, a presença reconhecível do Autor era indispensável, possivelmente num formato de conversação como com Marcelo ou Miguel Sousa Tavares. Absorvido por uma personalidade forte como Manuela Moura Guedes, que o leu como se de intervenção mediúnica se tratasse, fica reduzido a pouco mais do que nada, no oceano de peças que ela enfileira.
Mas o pior residiu nos anúncios, postos a correr durante a semana, de se projectar a emissão da ironia, nas suas abordagens. Uma ironia que se proclama está tão neutralizada como aquela que se explica. É um processo único de cumplicidade entre emissor e receptor, que se estabelece numa visão comum dos factos, que os sente propositadamente desmentidos pelo que foi dito. Mas se o empregador dela necessita da predisposição compreensiva e cúmplice do público, este precisa indigentemente de sentir a sua sagacidade funcionando na descoberta do traço irónico. Quando lho servem etiquetado quebra-se o interesse.
Mas o pior residiu nos anúncios, postos a correr durante a semana, de se projectar a emissão da ironia, nas suas abordagens. Uma ironia que se proclama está tão neutralizada como aquela que se explica. É um processo único de cumplicidade entre emissor e receptor, que se estabelece numa visão comum dos factos, que os sente propositadamente desmentidos pelo que foi dito. Mas se o empregador dela necessita da predisposição compreensiva e cúmplice do público, este precisa indigentemente de sentir a sua sagacidade funcionando na descoberta do traço irónico. Quando lho servem etiquetado quebra-se o interesse.
6 comentários:
Foi exactamente assim como me senti: defraudada nas expectativas criadas, até porque me pareceu que ele poderia trazer alguma coisa de bom ao charco em que, há muito tempo já, estagnaram os noticiários. Será que já se deram conta de que falharam, e irão ainda dar a volta ao texto?
Querida Cristina,
que do criticismo dele algo de melhor poderia resultar, não tenho dúvida. A questão estará em saber se o interessado, para mais estigmatizado pela acusação de deficit telegénico, estará disposto a submeter-se à disciplina semanal da entrevista em estúdio.
Beijo
também me senti ludibriada...
Não vi o VPV, mas não auguro nada de bom àquela convivência televisiva obrigatória com a Manuela Moura Guedes... e acho que tem toda a razão, Paulo, a ironia anunciada perde totalmente o efeito.
Ana
Querida Júlia,
pudera, pois se até naquele noticiário emitiram imagens do Autor, como chamariz!
E depois tivemos de nos contentar com a leitura.
Parafraseando canjisticamente esse vulto da Cultura Portuguesa que é Paulo Futre, apeteceu-me perguntar "E Tu, Manela o qu´é que ganhas?" (com isso).
Beijinho
Querida Ana, não viu a Ana, nem qualquer de nós. Apenas ouvimos a leitura de umas linhas sem chama pela Primeira Dama da estação. Não sei como vão resolver o problema, mas o certo é que qualquer apport que encerrassem foi completamente engolido (sem malícia) pela vincada presença da regressada Pivot.
A ironia é um tema sobre que estou a escrever um ensaio que promete ser tão comprido como já vai sendo chato. Penso que é um recurso estilístico que vive da procloamação de isenções de ingenuidade, tanto no autor como no fruidor, que para tanto confiam na cumplicidade com a contraparte.
Beijinho
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