sexta-feira, 9 de maio de 2008

O Dia e a Noite

Europa (pormenor) como a viu Jan van KesselDia da Europa, coincidente com o aniversário da Declaração Schuman, pioneira da integração institucional. Celebrar um património elegendo como data comemorativa adaptações jurídicas aplainadoras das particularidades que o fizeram é não pequena medida do declínio. Xavier Tilliette, pensando Paul Valéry como Hamlet europeu (com quem confrontará Husserl e Brunschvigc), chama a atenção para a vergonha de assunção civilizadora do nosso continente, sempre disposto a incensar culturas muito respeitáveis doutras latitudes, porém embaraçado perante um passado colonial que tem por vergonha.
Paradoxalmente, não sente qualquer pudor em exportar e impor aquilo que deveria deitar ao lixo, a ossatura normativa do demo-liberalismo que alegremente prega aos outros povos, e com que, não menos alegremente, os prega a lenhos só sagrados para as multinacionais. Valéry inscrevia o Espírito irradiador Europeu no que todos, salvo algum Giscard armado em constitucionalista, reconhecem - o pensamento Grego, a estruturação Romana, o universalismo Cristão. Os governantes que nos calharam substituíram a reflexão sobre os limites do Homem face ao Destino pela omnipotência humana, desde que se trate da deles, a aspiração à Justiça transcendente, embora informante da aplicação dos magistrados, pelo dogmatismo dos veredictos das maiorias e o ideal do Amor pela vileza do aluguer. Que a difusão do nosso estádio civilizacional na Expansão haja combatido a antropofagia, os sacrifícios humanos rituais e o arbítrio dos déspotas que não valorizava a vida, nada conta. Só pensam no remorso da escravatura, que existia, generalizada, antes de chegarmos às paragens que pretensamente apenas oprimimos, e continuou a subsistir, embora localizada e encoberta, depois de debandarmos.
Quando os poderosos de um quadrante geográfico pretendem exercer uma infliência desvinculada da Referência à Eternidade que é o Divino, como à Ancestralidade, expressa no que os antecedeu, estão com os dois pés inteiramente no território da noite da decadência. Basear a superioridade que os declare imitáveis apenas na bolsa elimina todo o potencial de respeito que o Culto e o Sangue - mas não a perversão de modernismo neo-pagão do Culto do Sangue - impõem. É que a roda da fortuna anda e desanda muito mais facilmente do que o Intemporal e a Linhagem. E as contas recheadas, se são aptas a despertar inveja, só nos mais pervertidos da nossa sociedade infundem respeito.

2 comentários:

Anónimo disse...

S. Tennyson escreveu que mais valem cinquenta anos da Europa que todo um ciclo do Cataio.

O Réprobo disse...

Bem, Caro Rudolfo, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Mas uma coisa é certa: jogando com a fonética, posso dizer que envergonhar-se do Passado é atitude de catRaio.
Abraço