sábado, 22 de março de 2008

Cabeças No Ar

Monumento à Glória da Aviação de Lona von Zamboni, representada no medalhãoNa noite de 22 de Março de 1915 um Zeppelin largava umas bombas precursoras sobre as estações parisienses de Saint Lazaire e Nord. Ficava assim deitado por terra o dom profético que Victor Hugo se imaginara e a cuja aceitação universal quase obrigara, entre outras escrevendo:
O balão dirigível é a supressão imediata, absoluta, instantânea, universal, simultânea e definitiva de todas as fronteiras. O guarda-barreira de Erquelines gritará: «Alto! A Alfândega!» - e já o areostato irá a uma légua de distância! São todas as separações abolidas! É a evaporação dos exércitos, e de todas as coisas da guerra. É a colossal revolução pacífica. É o arrombamento da velha gaiola dos séculos. É a imensa libertação do género humano!
Perguntar-me-ão: caso isolado de um irrealista toldado pela necessidade de acreditar nas próprias exclamações? Bem, mas gente menos hipotecada ao Estro, com responsabilidades bem chãs, dizia:
A aviação fundará o regime do Direito e deste nascerá a paz social e a justiça internacional! - Léon Bourgeois, o mesmo que depositava iguais esperanças na Sociedade das Nações, com idênticos e trágicos desmentidos.
Como já em 1910, F. Mallet, sobre o aeroplano: o admirável aparelho que jamais poderá ser enodoado pelo sangue das batalhas.
Tendo perante nós toda a História posterior, em que a Guerra Aérea e os bombardeamentos a partir dos céus se tornaram o principal meio de combate e destruição, caso será para perguntar se estes homens eminentes não seriam cultos demais para a inteligência que possuíam, para tanto confiarem e ainda mais errarem. É o pacifismo obtuso que tem por mau todo o Passado e se acha predisposto a entregar-se de corpo e alma à primeira inovação da esquina, mesmo que ela acarrete consequências imprevisíveis, muito mais desoladoras.
Não se pense que era um sentimento universal. Nos primeiros tempos do balonismo aerostático muitos dos chamados Simples pressentiram que coisas ruins poderiam dali vir, embora circunscrevendo os receios à ameaça mais imediata que conseguiam conceber aos respectivos haveres - que os ladrões utilizassem os engenhos para melhores roubos e fugas. Tanto nas Ilhas Britânicas como no Continente houve manifestações populares para a criação de uma polícia aérea.
O optimismo é o ópio de alguns letrados.

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