quarta-feira, 12 de março de 2008

A Esperteza do Videirinho

Leitura de boa qualidade, a que me passou pela frente, ainda há pouco, «Cartas de Portugal (para o Brasil) 1906-1907», de Luis da Camara Reys. Sobre Camilo há esta interessante focagem:
Não conheço livro algum que se compare, pela graça, pela violência e pela satyra, a essa Bohemia do Espírito, em que o escriptor parece ter sido accomettido de uma cegueira raivosa e caustica de destruição e de lucta.
A cada página o escriptor transforma-se num Hercules - ás vezes num Hercules de feira - e a sua penna é uma clava, desnudada de folhagens rectoricas, contundente, dura e brutal.
A gente nova sabia-lhe o fraco dos pamphletos e desafiava-o. Camillo perdia a linha de consagrado - e no dia seguinte havia mais uma obra prima de vinte paginas e começava a falar-se no litteratosinho sovado.

No Portugal de hoje mantém-se a chicoespertice que procura notoriedade através da ordinarice e da violência do ataque aos superiores. Na literatura, mas até... na blogosfera, com a esperançazita de ver uma resposta promover os ódios ou as pessoas criados pelos desafiadores. Tudo na mesma, como a lesma. O mal é que já não haja a genialidade de Camilo...

5 comentários:

Anónimo disse...

Ora lá está, bem visto. Estamos tão mal que já nem a crítica irracional tem qualidade. No tempo do Camilo, os burros chamavam-se bacharéis, não se esqueça que agora é ao contrário :)
De resto, tudo na mesma.

O Réprobo disse...

Ahahahahaha, Caro Nuno R., essa da ligação entre a jeriquice e o diploma está magnífica. E é bem verdade que o que é bera, passe o plebeísmo, perdura, enquanto que a ivulgaridade criativa se sumiu demasiado para qualquer gosto cultivado e propenso ao reconhecimento do mérito.
Abraço

Anónimo disse...

Está por nascer, realmente, alguém que se lhe iguale, nesse género: era de uma acutilância e perspicácia ímpares. Ai se vivesse nos dias d'hoje. Os "grandes" que se acautelassem!
Beijo

Anónimo disse...

P.S. Mas (e estive a reler um pouco do pouco que tenho),facilmente caía no destempero.
Verdadeiras catilinárias: os "açoites" que recomendava há dias para os nossos políticos? :)
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
só se terão perdido os que faltaram, ehehehehe. Apesar da ingenuidade de embarcar na promoção involuntária da mediocridade. Curioso é o mesmo crítico dizer que ele começava, à época a ser esquecido, contrariamente a Eça & C.ª, devido ao pendor de em Portugal se considerar mais a imitação do Estrangeiro do que alusitaneidade pura do estilo. Penso que é um erro mais de opor os Génios um ao outro, como se não houvesse público para ambos...
E Camilo continua vivo.
Beijo