quinta-feira, 20 de março de 2008

Linguagem Burrocrática

Não será novidade para quem quer que seja que as várias burocracias, estatal, técnico-administrativa e mediática, se estabelecem sobre um jargão ridículo que, na ânsia de esotericamente definir uma opção, acaba por não delimitar conceptualmente coisa alguma.O Marechal Lyautey, detestava os formulários e o vocabulário adjacente. Certa vez recusou assinar uma decisão que ele próprio redigira, colocando como nota à margem do texto:
Chega! Chega! Eu sei muito bem que existe uma forma sacro-santa para estas ordens - e é, aliás, por isso que elas são quase todas ininteligíveis. - Mas não sei por que contextura, quem sabe se de origem divina, ditada pelo Eterno sobre o Monte Sinai. Os fracos homens a inventaram, os homens a podem mudar.

Vem isto muito a propósito de no ora aprovado e peudo-inovador lisboeta Plano de Revitalização da Baixa Pombalina se ler ligação pedonal assistida à zona da Costa do Castelo, querendo significar elevador ou escadas rolantes. Por que diabo não inscreveram limpidamente os conceitos? É que, bem vistas as coisas, este auxiliar da conquista de Lisboa aos Mouros também quadra no conceito...


O desenho do labirinto de papel é de Renato Alarcão

6 comentários:

fugidia disse...

Ó caro Réprobo, não seja rezingão: é quase poética, a expressão "ligação pedonal assistida", quase poética!
:-)

O Réprobo disse...

Poéééética, Querida Fugidia?
Só se for a parte da ligação, abstraindo do pedonal. Ou acha poética uma qualquer que acabe com um dos elementos a dar com os pés?
E "assistida"? que bicho é esse? Se colocassem hospedeiras, comia-se a bondade da coisa. Pusessem uma audiência a aplaudir e vá, a vaidade obrigaria a contemporizar. Mas suspeito de que o caso apenas evoque outro tipo de assistência, o das mortes que querem fazer proliferar.
Beijinho

ana v. disse...

LOL para o post e para o comentário "assistido", querido Réprobo. Isto faz-me lembrar aquela ideia peregrina do João Soares, também ela uma espécie de Cavalo de Tróia que levava ao Castelo, que afinal foi chumbado...
espero que não se tenham lembrado de ressuscitá-la agora! Antes esta torre de conquista aos Mouros, que sempre é mais estética!
Um beijinho e Boa Páscoa

Anónimo disse...

Pois a poesia é o retorno dos macacos do elevador para o castelo. O nomezinho imbecil demonstra o calibre mentalmente imberbe dos promotores que eles contrataram.
E de que serve isso ao repovoamento da baixa? Nada! Não repovoamente, é revitalização. Pois para isso os macaquinhos e um realejo serviam. Tomem lá uma banana.
Cumpts.

O Réprobo disse...

Ui, Querida Ana,
lembro-me bem, do projecto, parecia uma grua!
Deus A ouça, que o Demo é todo ouvidos para inovações daquelas!
Sim, a máquina de guerra medieval ainda ia sendo útil e tinha, pelo menos de aparência, base mais sólida.
Beijinho

O Réprobo disse...

Agora é que o Amigo Bic fez luz sobre o caso. São decerto os macaquinhos que ora pairam no sotão destes brilhantes planeadores!
A revitalização, importada do ofício de dentista ainda acaba cariada. Não vejo em que transformar a Baixa em pont(e)o de passagem seja uma maravilha. Parece que há outras alterações previstas menos feitas para encher o olho do papalvo e previsivelmente mais eficazes.
Veremos.
Abraço