sábado, 8 de março de 2008

Variação Melo-Cromática

Há dias a Luísa falou-nos na sugestão que a música escutada exercera sobre a percepção dos tons de uma paisagem que atravessava; e agora vem a Ana Vidal defender que, no Seu sentir, o Silêncio seria Preto, quando indesejado; e Branco ao agradar.É antiga a ambição de ligar as duas escalas, a do cromatismo e a da notação musical. Newton fez mesmo um círculo de equivalências no desejo de captar a universalidade regulável pela luz nas cores apreensíveis do Arco-Íris.
Assim a rotação do disco com as frequências apuradas transmitiria um esbranquiçado que poderia dar uma significação diversa à elaboração da Bloguista que abordou a privação sonora - recaindo a tónica no desejo, seria a manipulação da totalidade do espectro a corresponder a uma ausência de estímulo auditivo, enquanto que o esmagamento dele teria equivalente na privação da Cor.
Mas claro que escamoteando à Luz o papel de Afirmação, num processo subtractivo que privilegiasse a subjectividade, resolvendo pelo pessoalismo as co-relações, como, muito bergsonianamente avant la lettre, a interacção espácio-temporal da simultaneidade e sucessão, num processo difusor aplicado por Turner no exemplo célebre do Day After do Dilúvio com Moisés redigindo o relato, Goethe veio devolver (pré-)romanticamente uma liberdade de conformação do Real às impressões interiores da Individualidade, caindo na busca que obcecara tantos outros - a das cores primárias, que reduziu ao Azul-Celeste, ao Amarelo e ao Magenta, muito menos prudentemente que certo decreto papal. É que este se tinha limitado a arbitrar sobre as cores do Arco-Íris que Noé divisara, o Verde e o Vermelho, não extravasando para o Conjunto Humano e mostrando-se, assim, mais Goethiano do que Goethe, ao dar margem para a deficiência e confusão cromáticas o Patrão da Arca.
Assim, em que ficamos? Como escrevi, parece-me que o Silêncio dá mais com o Castanho, apesar de consabidamente o ter como (a)berrante, quando combinado cm o Azul. É que sendo a cor da terra, receptiva a todas as violações de pisadelas, como a quietude às emissões sonoras, o vejo em oposição simbólica ao Verde e Azulado em que poisam e navegam as aves canoras e chilreantes, como ao amarelo solar que convida a bicharada a vir cá para fora...

8 comentários:

ana v. disse...

Ó meu caro e digníssimo amigo Réprobo, estou esmagada (cilindrada mesmo) com tanta erudição sobre esta matéria, que me atrevi a comentar tão leviana e emocionalmente! (vá lá, hoje é dia da mulher, não me chame galinha...)
Agradeço a lição, emocionada pela alusão à minha humilíssima pessoa...
Agora a sério - e atalhando a verborreia feminina - a verdade é que aprendo sempre consigo. Essa é que é essa!
Beijinhos
;)

O Réprobo disse...

Verborreia? Abençoada seja, para mais, vinda de Quem vem. Tentei apenas dilucidar a associação que intimamente faço do Castanho ao desprovido de som. E adorei a distinção que estabeleceu, entre o desejado e o contrário à vontade, não me ocorreria, pois por muito que, certas vezes, aspire à tranquilidade, o voto de calar-me seria o sacrifício que nunca conseguiria realizar.
Beijinho

Luísa A. disse...

Meus caros Av e Réprobo, vejo que as relações entre as cores e os sons (ou a falta deles) é complexa e interessante. Recorrendo às minhas impressões interiores, faria o silêncio branco, porque o associo a uma folha de papel. Se calhar como com o Réprobo, se à minha volta há silêncio é porque estou ocupada com palavras escritas. De resto, é o amarelo da luz, do Sol e da Primavera. Não desgosto do castanho; lembra-me chocolate e café com leite. E até sei combiná-lo convincentemente com certos azuis. Prometo demonstrá-lo. :-)

O Réprobo disse...

Querida Luísa,
creio que a brancura - não já o branqueamento - desse silêncio participa do universo referido pela Ana, o da desejabilidade de alguma omissão de vibrações auditivas, que podemos assimilar à alvura da folha receptiva a um preenchimento. Mas lá está, são repousos ou receptividades que das palavras ou outras notas precisam para serem tolerados e toleráveis.
Lerei e mirarei com toda a atençpão essas pouco auspiciosas mistelas cromáticas. Aviso, porém, que me aparece como difícil uma mudança de opinião nesse campo, o das aversões inatas.
Beijinho

Anónimo disse...

Bom dia!
Estou com a Ana: quando não desejado, o silêncio reveste-se da maior das negritudes, mas quando procurado( e são muitas as vezes em que ele é mais valioso que qualquer ouro), então é amarelo- girassol .
Concordo com a Luísa: o castanho pode combinar muito bem com certos tons de azul...
Beijos

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
o dia era bom até agora. Mas que Conspiradoras que as Meninas me saíram! Com que então a quererem fazer derruir um dos meus dogmas estéticos absolutos? "Azul e Castanho, NÃO, NÃO E NÃO!", ESCUSAM DE ME DAR CASTANHA!
Já, ao invés, compreendo a associação do Branco a um silêncio, se desejado, embora me fosse difícil desejar algum - a conotação com a Pureza, a Paz a que se pode aspirar.
Beijinho

ana v. disse...

Lamento, meu querido amigo, mas junto-me às conspirativas: os castanhos-terra, por exemplo, ligam muitíssimo bem alguns azuis, acho eu. Desde quando é que Terra e Céu são incompatíveis? Estaríamos bem arranjados, se assim fosse...
Um beijo azul acastanhado!
;)

O Réprobo disse...

Pois, Querida Ana, já tinha feito essa ressalva, em postal anterior. Mas, desenvolvendo, poderia dizer que a Mensagem Evangélica foi precisamente a separação radical da simultaneidade das esferas Celeste e Terrena. Pelo que essa harmonização advém somente dos limites da retina humana...
Beijinho