sábado, 8 de março de 2008

O Poder Assustado

Considero pura crendice inocente entender, sem mais exame, que um orgão do Estado tomado pelo pavor seja necessariamente uma situação indesejável. Quando os titulares dele se distinguiram pela iniquidade constante é bom que sobre eles venha a imperar o pânico que os faça arrepiar caminho.
Em 1803, nos primeiros tempos de Bonaparte, um "tribunal" que do Terror havia conservado a condenação fácil preparava-se para cortar radicalmente a barba e anexos a um prisioneiro Monárquico mais. Então, o Defensor saiu-se com esta tirada:
Desafortunado, não há necessidade de te defender: leio antecipadamente a tua sentença de morte no olhar dos teus juízes. Amanhã tu deverás morrer, amanhã te acompanharei ao local do suplício. Apanharei a tua cabeça escorrendo sangue e irei apresentá-la ao Primeiro-Cônsul, dizendo-lhe: Aqui está a cabeça do filho do Exér... do filho único de um velho guerreiro que te salvou a vida numa batalha!
Era completamente falso, mas o medinho do novo senhor absoluto era tanto que, contra hábitos arraigados, aquele colectivo absolveu o condenado.
Os tempos são outros e com menos sangue político entre adultos, que os adversários já foram suficientemente enfraquecidos por sangrias pretéritas. Mas, menos sanguinolenta, a injustiça continua. Bom será que nos que a aplicam o temor também se instale. O actual desgoverno quer introduzir alterações que em nada melhorarão os resultados educativos e aparecem como acintosas no sentido de afrontar gratuitamente uma classe docente que quer domesticar ainda mais. Gostaria que se confirmasse a adesão à manifestação de hoje, pois daí pode brotar o receio maior nas cabecinhas dos políticos partidocráticos - o da perda eleitoral.
Todos à Manif.!

8 comentários:

fugidia disse...

Caro Réprobo,
confesso que a sua "todos à manif!" me deixou num misto de surpresa e de sorriso nos lábios: ainda não lhe conhecia esta faceta de "Mafaldinha, a contestatária"...
:-)

Anónimo disse...

Todos! Ainda mais agora que a situação dos Professores parece não ter solução à vista.

O Réprobo disse...

Querida Fugidia,
foi uma maldadinha, ao aproximar um slogan publicitário de um banco de uma demonstração que se quer de outras massas, como a indignação Salemática também deixa claro.
Dito o que a Mafaldinha era a grande influência de uma Pessoa que foi muito importante na minha vida.
Beijinhos

ana v. disse...

Parece que os céus o ouviram, meu amigo: a adesão superou as expectativas, ao que sei. A ministra conseguiu unir uma classe, o que é um feito notável neste país de individualistas ferrenhos.

Anónimo disse...

Nem mais, Caríssimo Amigo: cerca de 100.000 docentes, dois terços de todos os professores portugueses, e com população a apoiá-los.

Não foi a manifestação da indignação dos professores contra uma política (des)educativa, mas sim a primeira grande mostra de revolta de um País contra uma corja que o está a destruir.

Esta gentalha politiqueira, laica, republicana e socialista ainda não percebeu que governar (?) contra um País é suicídio. E que os tempos de La Terreur já são idos, e que, a voltarem, é precisamente contra eles.

O País começa a acordar da letargia induzida por doses maciças de desinformação, mistificação, mensagens subliminares e «gestão da mentira».

Não foi a «sinistra ministra» que conseguiu unir uma classe: foi a desgovernação sistémica desta corja que conseguiu pôr o País em guerra - contra ela. E não «semearam ventos», semearam tufões e tsunamis.

Estejamos atentos, Caríssimo Paulo, pois estes meses até aos idos de Setembro vão ser conturbados...

Fui professor, sou filho de professores, e sou pai e encarregado de educação. Tudo o que esta gentalha desgovernativa está a fazer é a destruição completa do Ensino em Portugal, tentando transformá-lo num absurdo controlado politicamente e formador de mentecaptos fáceis de controlar.

Força, Portugal!

Grande abraço e calorosas saudações monárquicas.

Anónimo disse...

Por aqui fala-se "de cor"...
Não percebem nada do que realmente está em jogo.
O PCP instrumentalizou os Professores. E com o apoio da comunicação social, lançou uma "cortina de fumo".
Desde o Salazarismo que os comunistas controlam o Ministério da Educação. E com Viga Simão esse controlo foi total.
Agora paulatinamente vêm a perder esse controlo, não graças a governos do PSD ou PSD-CDS, mas graças ao PS.
Se não percebem do que se está a passar, não falem!
É melhor que por aqui se continue a dar música às Damas. Que levam cada baile!...
«Quem te manda sapateiro tocar rabecão!!!»

O Réprobo disse...

Querida Ana,
é evidente que o cansaço face à arbitrariedade tinha de começar a dar frutos. A filozofia que elimina o princípio da Autoridade tem de trazer sempre maus resultados, seja na Polícia ou classe docente, onde antes da Milú o PS era maioritário, com a infâmia de avaliações participadas por alunos e pais, em vez de serem cometidas a um serviço próprio, deixando o sistema não já à mercê de pressões excepcionais, antes as transformando em regra.
Mas com esta prova de força o R da reprovação com que os Profs. classificaram a Ministra ou dá Remodelação ou Recuo.
Beijinho

O Réprobo disse...

Meu Caro Carlos Portugal,
claro que é muito mais do que uma luta sindical. quando acusam a luta dos Professores de "corporativa" eu simpatizo logo com ela... porque sou corporativista! E o Corporativismo não é a luta pelo seu, como os plumtivos do dia querem fazer acreditar, é a defesa da especificidade profissional em consonância com o sentimento da nação. Do que isto é um pouco.
O Sr. Sócrates deve estar a verter muita lágrima por não ter outra presidência europeia para distrair as atenções...
Abraço