quinta-feira, 20 de março de 2008

Matar é Fácil

Quem não recorda o romance policial de Agatha Christie, com um título homónimo? A culpada dos assassínios era uma velhota, de que, pela sua condição, ninguém suspeitava.
Este caso passado na California é paradigma de uma ganância muito encontrável em certas solidões de idade avançada, as quais, sem normalmente se virarem para o homicídio, desenvolvem esquemas inimagináveis por outros para beneficiarem de uns mui heterodoxos complementos de idoso...
Talvez não seja tudo, porém. O episódio fez-me lembrar o da envenenadora australiana Caroline Grills, conhecida como a kindly old lady to whom people looked in time of trouble, ou Aunt Thally: despachou uns quantos para o outro mundo e por pouco não acrescentava à lista. A acusação, a par de interesse material, detectou um claro desejo de exercer o poder de vida ou de morte sobre as suas vítimas.
O que me leva a pensar se esta tentação criminal na Terceira Idade não será um distúrbio psíquico gerado pela impotência de conter a contagem final da existência própria, compensando assim pela manipulação da normalidade do número dos dias daquele que está ao lado.

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2 comentários:

ana v. disse...

O seu último parágrafo, meu amigo, foi a conclusão que me assaltou durante toda a leitura deste óptimo post. Acho que é isso mesmo: esta violência, mais chocante ainda dada a idade das assassinas, poderá ser o desejo de domínio sobre o Tempo, quando ele parece já escoar-se sem remédio e a uma velocidade assustadora. Se não o próprio tempo de vida, ao menos o dos outros. É caso para reflectirmos muito seriamente. A mente humana tem destas perversões, não tão raramente quanto pensamos.
Um beijinho

O Réprobo disse...

Querida Ana,
há, evidentemente, o perigo de se operar uma generalização que leve a tratar ainda pior os nossos Velhos. Mas, desde que tenhamos presente essa prevenção, nada impede que tentemos perceber as razões de um resvalar para o crime em pessoas que tinham passado uma vida inteira afastadas dele. E é aí que a luta contra ver-se absolutamente à mercê de um golpe próximo pode, julgo, desempenhar um papel importante, canalizando para o escape de abreviar os dias de outros forças que permitam sentir-se fautores de Destino, não já escravos dele.
Beijinho