segunda-feira, 10 de março de 2008

TrriimTrriim Trriim Trriim

Não era só Sherlock Holmes que era acolitado por um Watson célebre. Alexander Graham Bell também estava nessa situação e a primeira conversa telefónica da História, registada como tendo ocorrido em 10 de Março de 1876, começou uma longa série de controvérsias, pela extensão do desejo do patrão, conforme seja lembrado pelo próprio, ou pelo ajudante. Apesar de Portugal sempre ter estado na vanguarda destes estimulantes de loquacidade, havendo sido o segundo País europeu a possuir um sistema de bataria central, tal como hoje segue na dianteira do recurso aos telemóveis.
Nunca gostei destes bichos. Na adolescência fazia-me impressão a gente da minha idade que se vingava em conversas intermináveis e sem assunto com o Ente Imaginadamente Amado, por assim dizer, prescindindo da vertente física sem razão aparente. Reconhecendo-lhe a utilidade para marcar encontros, detestava a aptidão a substituí-los, pelo que nunca me deixei empolgar pela conversa de que era instrumento que aproximasse as pessoas. Igualmente noutras formas de convívio a presença parecia-me essencial, descortinando no aparelhómetro apenas um excitador de desmarcações ou de substituição das normais praxes de memória e delicadeza para com o nosso (mais) Próximo.
Já estão a ver a repugnância que me suscitou a inovação dos telefones celulares, com uma sobrecarga de conversa inútil e de facilidades desculpantes, de atrasos ou combinações abortadas, por exemplo. Perguntar-me-ão se o mesmo não sucede com a INTERNET. E eu digo NÃO! Porque nesta há a filtragem pelo que de nobre arte tem a escrita. E porque não obriga à disponibilidade a tempo iteiro dessas portáteis grilhetas que são muito mais o tubarão devorador, de dentes aguçados, do que a cabina pintada. Não gosto de andar pela trela. Dizem-me sempre que quando não quiser atender posso desligar; como nunca quero, dispenso-me da aquisição. E assim considero ter comemorado condignamente a efeméride.
Há coisas fantásticas, não há?

12 comentários:

Luísa A. disse...

Meu caro Réprobo, partilho inteiramente a sua aversão aos telefones. Por essa razão, que refere, de não nos permitirem uma comunicação plena, deixando passar palavras mal preparadas sem o «arranjo» do gesto e da expressão. Sinto-me sempre muito limitada e vulnerável ao telefone.

O Réprobo disse...

Querida Luísa,
limitada/o e vulnerável é descrição de Génio para descrever o desconforto que sinto, quando preso por um fio. Auto-examinado-me não sei se não terei ficado algo traumatizado por, nos primeiros tempos de autonomia, ter visto pessoas que estimo ou estimava fazendo gala de mostrar uma coisa na conversa que mantinham na maquineta e o contrário dela para os que os acompanhavam, do lado de cá. Essas coisas marsam.
Beijinho

ana v. disse...

E mais uma a juntar-se ao clube: a minha aversão a telefones já se tornou proverbial. Tenho que usá-los, claro, até por questões de trabalho. Não há escapatória possível. Mas encolho-me de cada vez que tocam e tudo o que quero é que estejam calados. Prefiro passar directamente da escrita ao contacto físico, e vice-versa.

CPrice disse...

excelente análise caro Réprobo .. excelente mesmo.
Fiquei a pensar nas suas palavras e no facto de me fazer acompanhar por um desses monstros que descreve, claro que mais portátil que o da foto ;) .. companhia essa plenamente justificada num "se for preciso alguma coisa".. felizmente quase nunca é e o desgraçado sem dentes acaba por perder a bateria sem que dê conta.

O Réprobo disse...

Querida Ana,
essa do "encolho-me de cada vez que tocam" está deliciosa, é precisamente o que sinto, mesmo sem o terror de quando temia o telefonema fatal, na altura do internamento hospitalar que não impediu que o meu Pai falecesse.
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Once In a While,
também um Querido Amigo, hostil a telemóveis, foi convencido pela família a andar com um, por causa de uma qualquer eventualidade passível de suceder aos Filhos.

Deixá-lo extinguir-se à fome é destino merecdo para tão horripilante engenhoca.
Beijinho

MySelf disse...

Querido amigo, concordo em parte... mas tenho que agradecer ao Sr ter enventato tal instrumento, gosto muito do meu emprego... ;-)

O Réprobo disse...

Querida MySelf,
claro que não devemos tentar universalizar as nossas predilecções e aversões. E a esfera profissional não se mistura com a da discricionária personalidade.
Beijinho

Bic Laranja disse...

Comprei uma cabina telefónica portátil no Verão passsado e o maior gozo que tirei dessa gaita foram duas 'postas' mal amanhadas lá no blogo. De resto não me serve para muito: esqueço-me do objecto por todo o lado; esqueço--me de carrgar a bataria; esqueço-me de pagar. Às vezes atendo-o.
Cumpts.

O Réprobo disse...

Lembro-me bem, Meu Caro Bic, na altura até tive o prazer de Lhe ofertar este modelo alternativo.
De resto, é perfeitamente natural, não se pode estar metido nesse espaço cerrado a tempo inteiro.
Abraço

Ralf Wokan disse...

Caro Réprobo,
no ano 1907 havia 1 telefone para 1.007 espanholes.
Infelizmente não há informações de Portugal.
A estatistica aqui:
http://briefeankonrad.blogspot.com/search?q=telefone

O Réprobo disse...

Meu Caro Ralf,
creio que a situação, nas primeiras décadas do Século XX, já não seria brilhante, apesar do bom impulso inucial, ainda durante o Século XIX.
Digo isto porque nos anos 1930´s os organismos oficiais lançaram uma grande campanha, com recurso à imagem de Personagens marcantes da História de Portugal, no intuito de convencer a população a generalizar o uso do telefone.
Abraço, obrigado por ter comentado