terça-feira, 25 de março de 2008

Coroa e Significado

Coroação da Virgem pela SS. Trindade de Agostino Masucci (Palácio Nacional de Mafra)
A 25 de Março de 1646 se publicou a carta de lei que encerrava a deliberação das Cortes dos Três Estados do reino, pela qual se escolheu Nossa Senhora da Conceição para defensora e protectora de Portugal. Foi também pronunciada a fórmula do juramento de vassalagem, sob pena de expulsão dos domínios portugueses e de perda do trono dos súbditos e soberanos que não o acatasem, respectivamente. A partir de então os nossos Reis não mais cingiram a Coroa, nesse preito de submissão, ficando nas ocasiões solenes, numa almofada à sua direita, como se vê no retrato de D. João VI. A iniciativa que outro João, o Quarto do Nome, teve por bem levar a cabo não fazia esquecer que a Coroação por antonomásia, no que à Virgem toca, era a retratada na pintura à esquerda.

Mas tinha a virtude de unir elites e massas na compreensão e devoção a um mesmo Ideal, pois o Gesto Real era de todos compreendido e por todos fora intitucionalizado. Não se afastava da Mãe de Jesus o Povo arredio dos enclaves em que as Belas Artes eram fruídas. E quando surgiu Fátima, em resposta a agressões continuadas, ganhou-se sentimento popular, mas afastou-se, mesmo dentro do Catolicismo, algumas elites enjoadas da mistura, que, muito carecidas de Rei, não percebiam o que percebeu Amândio César:

NOSSA SENHORA DO REGRESSO


Depois que Deus criou a terra e o céu
e no céu pendurou imensos luminares
e na terra fêz o homem à sua semelhança,
andaram profetas afirmando em profecias
que virias!
Não vieste...
Não vieste, ah não vieste, ao menos para nós...


Que mal eras chegada
fecharam-Te, Senhora, em oleo e tinta
nos salões escuros dos Museus
e puseram empregados,
fardados,
a cobrar quantias a quem quisesse ver!...
- Por isso o povo, o povo não Te viu...

Senhora e Mãe!
Os que Te foram visitar,
os que pagaram a cota
para entrar,
não foram lá por Ti
nem por tua bondade e mansidão sublimes...
É que a tua prisão escura tinha nomes,
nomes célebres que eram chamariz
- Murillo, Velasquez, Rubens, Miguel Angelo -
e por isso o povo não te quis...

Senhora e Mãe!
Nas fábricas enormes saltam êmbolos,
pentes separam e o tecido cresce...
Dos lugres salta o dori,
o arpão rasga
e a pesca cresce, cresce...
Nas debulhadoras giram as correias,
as pás lançam espigas
e cresce o cereal...
É assim em toda a parte!
Porém, longe de Ti...
Os homens afastaram-se porque Te fecharam!
Mas nesse ranger de êmbolos,
correias e motores,
há uma prece rezada mui baixinho
que dia a dia se vai avolumando...
E a prece vai crescendo
como o tecido,
vai rasgando a alma
como o arpão,
vai separando aos poucos o joio do trigo loiro
como a debulhadora...

- Senhora!
É a hora,
a tua hora:
- Vem de novo, Senhora, sem profetas
para o meio daquêles que tanto, tanto
de Ti precisam
e, ignorando-o,
por Ti anseiam,
há séculos, há dias, há milénios...
Então um côro novo,
o côro dos libertos que foram oprimidos
ressoará pelo universo inteiro:
- Salvè Senhora, Rainha da Manhã
Mãe de tudo e tudo quanto existe!
Tu és a esperança
de quantos algum dia tiveres acarinhado,
de quantos para Ti lançam os olhos,
cheios de súplicas e rezas de perdão!
Salvè estrêla ou sol
que luziste em vermelho na Batalha,
com teu manto,
azul e branco,
ao vento,
a fundir-se no azul do firmamento
e que de novo voltas
a ser entronizada
neste reino de teu mando,
a tua pátria amada.

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