sexta-feira, 14 de março de 2008

Fruto da Especulação

Mirror, Mirror Upon The Wall de Ângela Ferreira
Diz a Ana Vidal que, ao deixar uma versão outra da da Maçã como sendo o mais que visto Fruto Proibido, Lhe retirei o espelho vitamínico em que mirasse o potencial de Eros associado. Pois aqui venho tentar compensar esse mau passo que, desastradamente, dei.
Querida Amiga, nem só na transgressão conotada pode residir o apelo que determine a felicidade de um símbolo. A Maçã possui ainda um largo capital de potenciação de libido pela capacidade atribuída de aumentar o conhecimento feminino de cada destino envolvente.

Se é certo que a ausência de um espelho impedia o casal adâmico de sentir o pudor que estimulasse o jogo da ostentação da vergonha e crescimento do desejo, a relação entre espelho e maçã aproximou os dois objectos como auxiliares da Madrasta da Branca de Neve, na sua ânsia de primazia sobre as demais.
E uma superstição irlandesa quer que, tendo uma Mulher descascado uma maçã com o mínimo dano para a casca, na véspera do Dia de todos os Santos, atirando essa camada exterior por cima do ombro esquerdo, ficará formado no chão o desenho da letra inicial do nome daquele que ama a lançadora.
Ainda mais patente, na mesma região, diz-se que a Mulher que se penteie em frente a um espelho com a mão direita, comendo uma maçã com a esquerda, verá aparecer no vidro reflector em defronte, por cima do ombro da sinistra, o rosto do homem com que casará.

Por fim, também das terras do Trevo, mas comum ao Sul de França e a zonas das nossas Beiras que me não souberam precisar, há outra tradição: passar um fio por uma série de maçãs, contendo cada uma papel com o nome de uma das raparigas da aldeia. Agitar esta combinação junto à chama, virando e revirando os lados. A ordem de queda dos frutos será a dos casamentos das moças, ficando a derradeira condenada a não o fazer.
Como se vê, ainda há muita margem para descobrir a transcendência do instante actual e apático no fruto desapossado da carga mítica do Pecado Original...

8 comentários:

ana v. disse...

Estou sem tempo para responder agora, passei só para dar um beijinho e dizer que já vi mais esta provocação. Ou desagravo, talvez, se considerarmos agravo o branqueamento de toda a conotação maléfica da maçã. Eu volto, prometo.
beijinho

Anónimo disse...

Muito adivinhadora, me saiu, esta Dona Maçã...; mas muito desestabilizadora também: olhe-se no que deu "O Julgamento de Páris" :)
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Ana,
não A sabia agravada e longe de mim provocá-La, em qualquer sentido menos bom. A verdade é que as conversas são como as... maçãs - e não como as cerejas, habitualmente difamadas. Atrás de uma vem logo outra.
Beijinho, responda quando quiser, o meu interesse não esmorece.

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
é bem verdade, há que ter cuidado com os caroços, no caso dos prémios e das escolhas com os ciúmes. Então se Femininos... Até nas Deusas, quanto mais nas Mortais. Talvez... a maçã pudesse ajudar a prevê-los... é uma ideia, não sei.
Beijo
Beijo

ana v. disse...

Querido Réprobo, primeiro retira à minha bela maçã toda a sua aura de tentação e de pecado, (para mim a maior graça que ela tinha...), e agora substitui tudo isso pelo poder devinatório de inocentes receitas para "moças casadoiras", como compensação... ora aí está a prova provada de que "you're a better man than I am", querido Paulo! (bom, para começar eu nem sequer sou um... man).
Mas apesar de tanta candura há uma certa perversidade da sua parte: vai fazer-me esperar por Novembro para saber o nome daquele com quem casarei??? Não se faz... vou ficar em pulgas até lá, já viu o que arranjou? Mal posso esperar para conhecer o candidato... resta-me fazer malabarismos com maçãs e pentes, ao espelho, para conhecer o rosto do meu príncipe, mas palpita-me que me espera um torcicolo...
Um beijinho
(fantástica imagem, essa maçã de espelho!)

O Réprobo disse...

Querida Ana,
a prova de que You are the best of MANkind é ter-Se abstido de comentar a crendice que exibia a concorrência, a do fio e da chama.
Mas a questão da época do ano levanta problemas reais a que tentarei dar resposta em postal.
Beijinho. Tnho o blogue cheio de inveja do espelho, ele queria ser tão olhado como o devolutor de imagens.

ana v. disse...

Não comentei a terceira prova (a da concorrência), não por bondade mas exactamente pelo contrário: qualquer das duas moçoilas que seguram o fio das maçãs tem grandes hipóteses de casar antes de mim, com aquelas cinturinhas de vespa e a burrice implícita em tão trabalhosa como utópica empreitada. Inveja e não bondade, portanto. Voilá!
;)
Um beijo

O Réprobo disse...

Ahahahaha! Fazer-Se pior do Que é confirma-se um domínio só ao alcance do talento de Alguns, mas plenamente conseguido pela Ana. verdadeiro humour no sentido mais restrito e britânico do termo, a capacidade de ironizar contra si. E não esqueçamos que a ironia é o estilo que recorre à afirmação que se sabe evidentemente desmentida por um conhecimento compartilhado.
Beijinho, Querida Ana