We Can Do It
Tendo abstraído do Planeta durante as horas de transmissão dos Mundiais de Atletismo de Pista Coberta, mal acabou a sessão matinal, marchei para o computador, para ver o que havia perdido. Diazinho com pouco asunto, concluí, já que do Melhor que vai correndo nos blogues individuais, por Aqui, Ali e Acolá, se dedica a reflectir acerca da blogosfera e de uma apontada decadência que ela viveria.
O defunto não vale grande vela, mas como os Intervenientes no debate são Espíritos Altíssimos, cá vou mandar algumas das minhas.
1- Nunca vi o bloguismo como uma voz dos deserdados da Imprensa ou da Edição. É um passatempo, em que se pode desenvolver assuntos sérios, como as tertúlias ao vivo também faziam e fazem. Acresce que estou longe de considerar como elite o consumidor de imprensa diária. Pound lamentava o homem que acredita no que lê nos jornais. Eu também. Mas acrescento a crença no lido nos bloges.
2- As carpideiras que lamentam o decréscimo das linkagens assemelham-se ao spot publicitário dos adolescentes que se queixam: os meus amigos não me ligam, a minha namorada não me liga. Só que substituem esses afectos pelos dos colegas de blogação e o verbo ligar, cheio de riquezas significativas, pelo neologismo linkar. Em ambos os casos, essa sim, uma verdadeira decadência.
3- Os tecladores zangados com o Mundo não são coisa diferente o que encontramos na vida. E é mais fácil passar à frente duma qualquer alarvidade, ou não voltarmos a uma página que desagradou, do que fazer calar muitos homólogos deles, que tentam desesperadamente chamar as atenções em locais públicos que, por vezes, somos obrigados a frequentar.
4- Os que resvalam para o insulto ou começam por ele também não são coisa diversa da globalidade e só passam a vozes que chegam ao Céu se tomarmos à letra os sistemas wireless que alguns deles usam...
5- O silêncio em volta de alguns - que tanto os oprime - é uma consequência estimável da liberdade de não dar atenção a quem não cative. Como fora do meio, discriminar é viver. E um triunfo da desigualdade, o que é sempre de louvar.
6- O pretenso "autismo". Claro que ele só existiria se um autor escrevesse apenas para os próprios olhos. Mesmo no caso-limite em que algum esforçado blogador não tenha uma única alma a lê-lo, a disponibilização da sua prosa já erradicaria a possibilidade de paralelo com a terrível deficiência. O resto seria passar muita confiança ao Número. E, como em tudo o mais, convém respeitar-se e não ser democrata.
7- As polémicas são resultado forçoso das sentenças das muitas cabeças. Claro que a forma delas é que decide da qualidade de cada participante. E as adesões a um e outro, idem, aspas.
8- Os convívios. Ora, num país em que há jantares e retiros de coleccionadores de tudo e de nada, de comunidades de todos os níveis etários, de excursionistas amalgamados à pressão, por que raio haveria a gente dos blogs de ser excepção? Deixem lá os grupos e grupinhos devorar uns croquetes. E para quem veja estas coisas com alguma indulgência, até é divertido ver a comunidade virtual em questão funcionar como um site de encontros...
É que conhecer meia-dúzia de Pessoas interessantes redime este hábito de perder uma ou duas horas diárias frente ao pequeníssimo ecrã. E treina a escrita para formas mais altas da dita, o que será compreensível a qualquer desportista. Ora, alargar horizontes e progredir nas capacidades próprias não é motivo bastante para cá vir? Desde que se ponha a coisa no seu devido lugar e não nos tornemos escravos dela.
Disse.
O defunto não vale grande vela, mas como os Intervenientes no debate são Espíritos Altíssimos, cá vou mandar algumas das minhas.
1- Nunca vi o bloguismo como uma voz dos deserdados da Imprensa ou da Edição. É um passatempo, em que se pode desenvolver assuntos sérios, como as tertúlias ao vivo também faziam e fazem. Acresce que estou longe de considerar como elite o consumidor de imprensa diária. Pound lamentava o homem que acredita no que lê nos jornais. Eu também. Mas acrescento a crença no lido nos bloges.
2- As carpideiras que lamentam o decréscimo das linkagens assemelham-se ao spot publicitário dos adolescentes que se queixam: os meus amigos não me ligam, a minha namorada não me liga. Só que substituem esses afectos pelos dos colegas de blogação e o verbo ligar, cheio de riquezas significativas, pelo neologismo linkar. Em ambos os casos, essa sim, uma verdadeira decadência.
3- Os tecladores zangados com o Mundo não são coisa diferente o que encontramos na vida. E é mais fácil passar à frente duma qualquer alarvidade, ou não voltarmos a uma página que desagradou, do que fazer calar muitos homólogos deles, que tentam desesperadamente chamar as atenções em locais públicos que, por vezes, somos obrigados a frequentar.
4- Os que resvalam para o insulto ou começam por ele também não são coisa diversa da globalidade e só passam a vozes que chegam ao Céu se tomarmos à letra os sistemas wireless que alguns deles usam...
5- O silêncio em volta de alguns - que tanto os oprime - é uma consequência estimável da liberdade de não dar atenção a quem não cative. Como fora do meio, discriminar é viver. E um triunfo da desigualdade, o que é sempre de louvar.
6- O pretenso "autismo". Claro que ele só existiria se um autor escrevesse apenas para os próprios olhos. Mesmo no caso-limite em que algum esforçado blogador não tenha uma única alma a lê-lo, a disponibilização da sua prosa já erradicaria a possibilidade de paralelo com a terrível deficiência. O resto seria passar muita confiança ao Número. E, como em tudo o mais, convém respeitar-se e não ser democrata.
7- As polémicas são resultado forçoso das sentenças das muitas cabeças. Claro que a forma delas é que decide da qualidade de cada participante. E as adesões a um e outro, idem, aspas.
8- Os convívios. Ora, num país em que há jantares e retiros de coleccionadores de tudo e de nada, de comunidades de todos os níveis etários, de excursionistas amalgamados à pressão, por que raio haveria a gente dos blogs de ser excepção? Deixem lá os grupos e grupinhos devorar uns croquetes. E para quem veja estas coisas com alguma indulgência, até é divertido ver a comunidade virtual em questão funcionar como um site de encontros...
É que conhecer meia-dúzia de Pessoas interessantes redime este hábito de perder uma ou duas horas diárias frente ao pequeníssimo ecrã. E treina a escrita para formas mais altas da dita, o que será compreensível a qualquer desportista. Ora, alargar horizontes e progredir nas capacidades próprias não é motivo bastante para cá vir? Desde que se ponha a coisa no seu devido lugar e não nos tornemos escravos dela.
Disse.
12 comentários:
Disse bem, caro Réprobo: «desde que se ponha a coisa no seu devido lugar e não nos tornemos escravos dela».
:-)
virtual who? :) .. gostei.
E disse muitíssimo bem, meu caro Réprobo. É um passatempo, é um treino e é um meio de convivência que, movida, exclusivamente, por um produto do nosso espírito, não deixa de nos colocar alguns desafios próprios e interessantes.
Kierkegaard, não se teria exprimido melhor!
Querida Fugidoa,
essaé uma precaução de que se não pode abdicar.
Beijinho
Querida Once In a While,
Who indeed? Muito obrigado pela aprovação, é bom saber que as ideias alinhavadas tiveram Tal Auiescência.
Querida Luísa,
sem dúvida, desde a receptividade ao Outro, sem abdicar do espírito crítico, como a ampliação dos meios expressivos que nos permitam o reconhecimento da filiação do que defendemos. E prescindindo da Angústia dada como inescapável pelo Grande Pensador Dinamarquês mencionado no comentário seguinte.
Beijinho
E eu também não tenho nada a acrescentar, tal a clareza do texto e a clarividência do autor!
Subscrevo-o em absoluto, querido Rébrobo.
Um beijo
Estou com um "problema" : concordo com a Carla, com o Miguel, com o JAnsenista e consigo, caro Réprobo
Obrigado, Querida Ana.
Mas tenho a certeza de que desencantaria acrescento de tomo para eneiquecer o debate. Nada de preguiça!
Beijinho
Querida Miss Pearls,
e isso é lá um problema?
Antes a Roda no seu esplendor!
Não havendo diferenças irreconciliáveis, façamos um brinde à blogocoisa, como dizia Alguém, suspeito que o Bic Laranja.
Beijinho
Enviar um comentário