sábado, 3 de maio de 2008

O Tecto de um Mundo

Pintura Negra de Cecil BrownUm absoluto bem-estar no mundo que rodeia é incompatível com muitas criatividades, pois o instinto que faz procurar a fuga elevada é o que aguça a matéria sensível, mais do que o próprio engenho. A aceitação celebrativa traz com ela os perigos de estiolar o talento, fazendo do conchego exagerado dos contemporâneos a réplica da tumba que estabelece entre o Poeta e as Estrelas uma divisória abafadora.
Pode, no entanto, a sobrevivência da obra estabelecer as suas fundações no conceito dos vindouros. Mas aí o abrigo estará inapelavelmente direccionado para um derivado espiritual autonomizado, confirmatório de que o Autor já cumpriu a sua missão, sentenciado por fim ao descanso que corta cerce a contunuidade produtiva.
De J. Sauerhoff, traduzido por Fernando Venâncio,

SEM-ABRIGO

Só nos meus poemas encontro morada
Abrigo dif´rente não me foi cedido;
Ao próprio lar nunca me vi atraído,
E a tenda plo vento brutal foi levada.

Só nos meus poemas encontro morada.
E, se tal refúgio consigo nos matos,
Em estepes, cidades, ou sítios ingratos,
Miséria nenhuma me afectará nada.

Ainda demora, mas há-de chegar
O tempo em que a força me abandonará
E em vão doces ditos irá requerer
Com que eu construía, e em que o chão irá
Guardar-me e eu me inclino para esse lugar
Onde há uma cova no escuro a romper.

4 comentários:

fugidia disse...

Hum...
hoje estou mais cor do arco-íris :-)
Mas é um bonito poema, caro Réprobo.
Bom sábado!

O Réprobo disse...

Ainda bem que gostou, Querida Fugidia. Mas fiquei preocupado, para haver arco-íris tem de haver chuva, não basta o Sol.
Não me diga que andou a fazer a dança da dita!
Beijinho

fugidia disse...

Primeiro a chuva, depois o sol, funalmente as cores e a dança: em breve o merecido descanso do soninho!
:-)
Beijo e bom domingo!

O Réprobo disse...

Ainda bem que foi completo. Bom Dia do Senhor, também para a Fugidia e C.ª.
Beijinho